Histórico
Saiba mais sobre o vazamento de petróleo provocado pela Chevron:
- A Petrobras identificou uma mancha de óleo no dia 8 de novembro no litoral norte do Rio e questionou a Chevron, que negou que fosse um vazamento em um dos poços administrados por ela e só dois dias mais tarde reconheceu o problema.
- A petroleira conseguiu aprovação de um plano para abandonar o poço. Lama foi jogada para tentar conter o óleo e o poço foi cimentado.
- A Chevron, quarta maior petroleira do mundo, está impedida de perfurar novos poços no Brasil, mas tem autorização para continuar operando os que já explora. A empresa norte-americana foi multada em R$ 150 milhões.
Exemplos
Confira alguns dos principais vazamentos de óleo no mundo, no Brasil e no Paraná:
Abril de 2010 uma plataforma, no Golfo do México, explodiu e afundou, espalhando cerca de 750 milhões de litros de óleo. O produto chegou à costa. Tartarugas, golfinhos e pássaros morreram. A estimativa é de 34 mil aves afetadas. O vazamento durou 87 dias.
Novembro de 2004 o navio chileno Vicuña explodiu, derramando 291 mil litros de metanol, óleo diesel e óleo lubrificante na Baía de Paranaguá. Peixes e mamíferos apareceram mortos. A mancha chegou a 20 quilômetros do local da explosão. Pescadores relatam diminuição na quantidade de peixes.
Dezembro de 2002 ao naufragar, o navio petroleiro Prestige despejou 11 milhões de litros de óleo na costa da Espanha. O produto atingiu cerca de 700 praias e matou quase 20 mil pássaros.
Outubro de 2001 o navio Norma se rompeu, derramando 4,1 milhões de litros de nafta petroquímica na Baía de Paranaguá.
Janeiro de 2000 Aproximadamente 1 milhão de litros de óleo vazou, a partir do rompimento de um duto, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Julho de 2000 O rompimento de um duto da refinaria da Petrobras em Araucária causou o vazamento de 4 milhões de litros de óleo no rio Iguaçu.
Janeiro de 1991 o ditador Saddam Hussein ordenou a explosão de poços e o derramamento de petróleo no Golfo Pérsico. A estimativa é que 1,75 bilhão de litros de óleo tenha se espalhado.
Abril de 1991 o navio MT Haven naufragou em Gênova, despejando 144 mil toneladas de petróleo e poluindo a costa da Itália e da França por 12 anos.
Março de 1989 o navio petroleiro Exxon Valdez encalhou na costa do Alasca e acabou despejando 257 mil barris de óleo no mar. Mais de 250 mil pássaros morreram, além de lontras, orcas e bilhões de ovos de salmão.
Junho de 1979 em função do rompimento de uma plataforma, 450 mil toneladas de petróleo foram derramadas na Baía de Campeche, no México, por mais de um ano a maré negra atingiu a região.
A produção de petróleo no mar brasileiro duplicou nos últimos dez anos e deve dobrar mais uma vez na próxima década, expondo cada vez mais a costa nacional à possibilidade de desastres ambientais como o recente vazamento de óleo provocado pela empresa norte-americana Chevron no litoral norte do Rio de Janeiro. Mesmo que ocorra a centenas de quilômetros do território paranaense, o derramamento de produtos químicos em alto-mar tem consequências não só no equilíbrio ecológico, mas para atividades econômicas e na qualidade do ar que respiramos e dos alimentos que chegam à nossa mesa.
"Não se trata só de proteger a baleia, o coral e o peixinho. Algumas atividades, como a pesca e o turismo, podem ser afetadas também. E vivemos numa cadeia, em que um animal come o outro. Pode chegar até nós um peixe contaminado", explica a bióloga Leandra Gonçalves, da ONG Greenpeace. Quando vaza no mar, o petróleo mata instantaneamente algumas espécies no local do derramamento e à medida que vai se espalhando prejudica a qualidade da água e causa a morte lenta de animais e plantas. A toxicidade do petróleo e a diminuição do oxigênio na água causam graves danos ao ambiente marinho.
"Quando vemos a mancha no mar e encontramos aves que não podem mais voar ou peixes que não podem respirar, porque as brânquias foram cobertas, conseguimos enxergar o problema. Mas nem sempre a morte é imediata. Durante muito tempo esses produtos vão continuar contaminando os elementos marinhos. O óleo pode afetar os sistemas reprodutivo e imunológico, e o animal morre sem que a causa direta seja associada à poluição", afirma a bióloga Camila Domit, coordenadora do laboratório de mamíferos e tartarugas-marinhas do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
David Zee, que é oceanógrafo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), lembra que dos oceanos são tirados alimentos, que mais de 90% dos produtos que o Brasil exporta são transportados pelo mar e que metade da renovação do ar depende de microrganismos marinhos que promovem a fotossíntese. São os plânctons que primeiro padecem em caso de vazamento de petróleo. Ele destaca também que, em casos anteriores de derramamento, o óleo chegou à costa. "O Rio de Janeiro e o Espírito Santo têm forte vocação do turismo de paisagem. Como ficariam se fossem afetados?", questiona. No caso do vazamento da Chevron, o óleo está se afastando cada vez mais da costa, levado por correntes para as direções leste e sul.
Persiste a ideia equivocada de que o oceano tem uma capacidade ilimitada de diluição, enfatiza o professor César de Castro Martins, que coordena o laboratório de estudos de poluição marinha no Centro de Estudos do Mar da UFPR. Ele destaca que o derramamento de petróleo causa um problema agudo, mas pontual, enquanto o mar está sofrendo muito mais com o problema crônico do óleo existente no esgoto despejado frequentemente.
Brasil não está preparado para desastres
A falta de uma política severa de prevenção de acidentes e também de um plano de contingência para acelerar as ações em caso de problemas torna o Brasil mais vulnerável às consequências do derramamento de produtos químicos em alto-mar. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) não tem equipamentos e investe pouco para monitorar as atividades das 23 empresas que exploram petróleo no mar brasileiro.
A produção, que era de 394 milhões de barris por ano em 2001, fechou 2010 em 683 milhões. Dos R$ 8 milhões previstos no orçamento da ANP para fiscalizar as atividades de exploração e produção de petróleo em 2011, R$ 5 milhões foram gastos. Na média, o valor é de R$ 9 mil por poço de exploração. Já o Ministério do Meio Ambiente separou R$ 633 mil para prevenção e combate a danos ambientais causados pela indústria do petróleo, mas não gastou nada neste ano. Há previsão em lei de desenvolvimento de um Plano Nacional de Contingência, que começou a ser discutido em 2000, quando houve o derramamento de óleo na Baía de Guanabara, mas desde então foi abandonado.
David Zee, oceanógrafo que atua como perito da Polícia Federal no inquérito sobre o vazamento da Chevron, afirma que não há fiscalização adequada, rigor no licenciamento ambiental e um plano de ação em caso de derramamento. "É como dizer que há um Corpo de Bombeiros e na hora do incêndio não ter viaturas, pessoal treinado ou mangueira para jogar água", exemplifica. Hoje o oceanógrafo vai ao Senado para contar o que encontrou na área do vazamento.
Para Leandra Gonçalves, bióloga da ONG Greenpeace, a ação do Brasil no caso da Chevron prova que o país não está preparado para operar em águas profundas. "Os brasileiros podem perder muito mais do que ganhar com a exploração. Governos e empresas estão iludidos com esse bilhete premiado, como o pré-sal está sendo chamado, que estão esquecendo de compatibilizar os desafios ambientais", diz. Procurados por dez dias, a ANP, o Ibama e a Petrobras optaram por não conceder entrevistas sobre os procedimentos preventivos de desastres ambientais e os possíveis impactos de derramamento de óleo em alto-mar.
Efeitos se prolongam por décadas
O vazamento de petróleo em alto-mar causa vários tipos de impacto ambiental. Se a mancha de óleo se afasta da costa, o problema não some simplesmente porque está longe dos olhos. O oceanógrafo David Zee explica que cerca de 20% a 30% evapora, emitindo gases que geram o efeito estufa. Outra fração é solúvel em água e é a mais perigosa, porque contamina os organismos. Há também uma porção que é digerida por bactérias. O óleo que boia na superfície e não é recolhido (ou se decompõe) acaba misturando-se a outros elementos, como areia, e se transforma em pelotas mais densas do que a água, com a consequente precipitação no fundo do oceano e a poluição prolongada do ambiente.
No caso do vazamento da Chevron, cerca de dois mil barris de petróleo se dispersaram e a demora em agir fez com que a mancha se espalhasse demais, dificultando tentativas de recolhimento. Pelotas já se formaram. Para se ter uma ideia da extensão dos danos, duas décadas após o acidente com o navio Exxon Valdez, no Alasca, ainda existem resquícios do desastre ambiental, de acordo com estudos publicados nas revistas Nature e Science.
A bióloga Camila Domit, que na semana que vem embarca em um navio de pesquisa para analisar o impacto biológico na área em que o vazamento ocorreu, afirma que a indiferença das pessoas acaba alimentando a inércia dos órgãos ambientais. Zee também concorda, destacando que lapsos de tempo e distância contribuem para a ideia de que não foi algo relevante o que aconteceu.
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