“Nós vivíamos combinando de pescar no mar, mas nunca achávamos uma brecha. Ele sempre me convidava. Dessa vez, na última semana, conseguimos acertar tudo. Ele tinha até falando para a esposa: ‘vou realizar o meu sonho’. Ele gostava muito de pescar e tinha o sonho de pescar no mar. Era o seu hobby”. O relato é de Roberto Coelho, 65 anos, amigo de Pedro Idalgo Filho, 55 anos, a sexta vítima fatal do trágico acidente na BR-277. A dupla e mais três amigos da cidade de Apucarana, no Norte do Paraná, passariam a segunda-feira (4) como o famoso personagem de Ernest Hemingway em “O Velho e o Mar”: entre o céu e o oceano, apenas a amizade.
O plano inicial era de uma viagem em comboio, em dois carros, mas Idalgo acabou saindo do interior mais cedo naquele domingo (3). Ele e os quatro amigos iriam se encontram na casa de praia de Coelho, em Caiobá. De lá, partiriam para Itapoá e, enfim, para o mar. Pedro também resolveu ir com o próprio carro porque, antes de retornar, passaria por Joinville, em Santa Catarina, para comprar um passarinho, outro grande hobby de sua vida, segundo os amigos.
“Nós quatro saímos de Apucarana pelas 14h, mas o Pedro tinha saído pelas 12h30. No momento do acidente, nós ainda estávamos em Ponta Grossa. Foi quando recebemos a notícia. Um tal de Antonio me ligou a pedido dele, que ainda estava consciente. O Antonio avisou que ele estava muito machucado e com o corpo parcialmente queimado, mas nos passou a impressão de que ele não corria risco. Segundo o Antonio, ele ainda teria agradecido Nossa Senhora Aparecida antes do atendimento médico”, afirma Coelho. Eles são amigos há 30 anos.
Depois da ligação, os quatro amigos desceram a serra da Graciosa e chegaram a Paranaguá, para onde Idalgo foi levado, por volta das 23h do mesmo dia. Segundo Coelho, o médico responsável pelo atendimento na UTI do hospital foi “consciente logo de cara” e afirmou que o estado de saúde dele era bem delicado, e que seu corpo estava praticamente todo queimado. Eles fizeram os primeiros contatos com os familiares de Idalgo, a mulher e duas filhas.
“Depois disso fomos até Curitiba. Ficamos sabendo que ele seria encaminhado para o Hospital Evangélico. Mas não tivemos mais contato. Ele esteve inconsciente esse tempo todo. Os médicos também não nos passaram esperança. Ele estava com o corpo 90% queimado. Na terça-feira, ele veio a falecer”, lembra Paulo Yoshi, 73 anos, outro dos amigos que tinham o mar como destino.
Grande homem
“Ele era um grande homem. Dificilmente alguém deixava de gostar dele. Ele era um pouco metódico, mas sempre foi muito correto. Tinha a pescaria como hobby. Ele tinha um rancho em Primavera, onde pescávamos as vezes. O Pedro merece todas as homenagens, ele sempre foi um grande amigo. Presente nos momentos difíceis e alegres. Nas piores e melhores situações. A família dele também é muito correta. Ele era o baluarte da casa”, desabafa Coelho.
O amigo é proprietário de uma empresa de construção civil em Apucarana e tinha contato direto com Idalgo, que era empresário autônomo e lidava com madeira. Ele trabalhou numa fazenda no Acre, se apaixonou pelo ramo e seguiu na área até a fatalidade. “Ele era um profissional realizado. Um católico devoto e um pai exemplar. Vai deixar muita saudade”, afirma Coelho.
“Eu não conhecia muito ele, mas sabia que era ótima pessoa”, confirma Paulo Yoshi.
Sepultamento
O corpo de Pedro Idalgo Filho será enterrado hoje, às 17h, em Apucarana. Ele deixa mulher, duas filhas e netos.
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