O farto bolo de chocolate com refrigerante e a imagem de Nossa Senhora das Graças denunciam que se trata de um encontro de jovens católicos. Diferente de outros tempos, o datashow no lugar do retroprojetor, a presença de pelo menos uma dezena de "times" cristãos e a agenda com hora para começar e para acabar. Assim como os adultos, afinal, quem tem entre 14 e 29 anos só vai em reunião se souber que horas acaba.
O encontro de 20 lideranças acompanhado pela reportagem no Colégio São José, no Abranches, em Curitiba, dá bem a medida dos rumos da juventude católica. O setor, como agora chamam, está mais universal e eclético, o que transparece a cada instante. Joyce, Rodrigo, Lorença, Carol podem ser de bairros ricos e pobres, do Cabral ao Sítio Cercado. E de espiritualidades distintas.
Em pouco mais de três horas de reunião eles dariam conta da Copa de 2014. Trataram de como vão se engajar na Jornada da Juventude de 2013 no Brasil, da Campanha da Fraternidade de 2012 e do próximo DNJ o Dia Nacional da Juventude, daqui uns dias: todos temas estruturais. "Vai ter banda?", perguntou um sobre o DNJ. Risos. "Quero vídeo e pipoca", disse outro. São jovens e não escondem que os grandes eventos assustam quem faz estágio, estuda ou já procura emprego. "Um voluntário para ir atrás da autorização da prefeitura?" 30 segundos para responder.
De repente alguém brinca. Alguém passa a cesta de pirulitos para relaxar. Ao final dos debates, as conclusões sempre passam por ações nas redes sociais "que todo muito frequenta e exige menos gasto de papel". E pela eterna dificuldade em "dobrar o vigário". A resistência de alguns padres em abrir espaço para as pastorais juvenis é tratada com parcimônia, mas sempre escapa num gracejo aqui e ali. Alguém fala em "sensibilização do clero". Outro em "como é que se faz isso?" E assim vai.
Espiritualidade
A espiritualidade não fica para a hora de dormir. Embora a conversa sempre passe pelo assembleísmo, votação, discussão na base, articulação com esse ou aquele grupo, raro o tema que não ganhe como proposta mais oração. Uma jovem pede que se faça um Kerigma uma evangelização de três minutos na rua. Outros insistem em perguntar, a cada item da agenda: "O que fala mais forte ao nosso coração?" Na eterna: "É só a gente querer." Ou na fatal: "Gente, peraí, estamos pensando como adultos."
Qualquer um que já tenha participado de um grupo juvenil em décadas passadas se sente em casa, ainda que meio perdido com tantas denominações: além dos Focolares e Carismáticos, já famoso, há o Gabaon, Neocatecumenato, o Festelê, o Regnum Christi... Os jovens de ontem também estranhariam expressões hoje correntes como "gerenciamento" e "políticas públicas".
E não falta erudição. Um jovem avançado na pastoral, com participação aqui e ali, fala em Didascalia, para surpresa geral: "Eu sou teólogo, velho". Risos de novo. Pastoral da Juventude é cultura.