O leiturista da Sanepar Maurício Henrique Chaves: o dono da casa pode ser perigoso| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

E agora?

Para o treinamento de carteiros, o técnico em segurança do trabalho Luiz Meyer conta que veterinários e donos de canis são consultados para explicar o comportamento dos cachorros. Confira as dicas repassadas aos profissionais.

• Evite gestos bruscos. Até bater palmas pode ser considerado um ato desafiador para o animal, que quer guardar a casa ou a rua.

• Não olhe nos olhos de um cachorro bravo. Eles se sentem ameaçados.

• Se vir de longe uma situação potencialmente perigosa, não se arrisque. Vá para outra rua.

• O que os donos de cachorros devem fazer

• Mantenha seu cachorro em local que não ofereça riscos a quem está passando na rua. Se não quer deixá-lo dentro de casa, invista em maior proteção para o portão, deixando sempre com cadeado.

• Mantenha a caixa de correio e os relógios de leitura em local apropriado.

• Não deixe o cão solto na rua.

• Observe se o profissional está identificado com uniforme e credencial antes de abrir a porta e deixar entrar. Pode acontecer de pessoas se fazerem passar por leituristas ou carteiros para praticar roubos.

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Balanço

Registros de ataques a trabalhadores da rua tendem a aumentar. Ano passado, foram contabilizados 154 casos de ataques a carteiros no Paraná. Estima-se que um leiturista da Sanepar seja atacado por cachorros a cada seis deis e um leiturista da Copel a cada dez dias.

Depois de medir o consumo de água de uma casa, o leiturista da Sanepar Maurício Chaves levou uma série de chutes nas partes baixas. Ele se assustou com um cachorro pitbull que escapava pelo portão. Instintivamente, acertou o cão com a vara de medição e fechou o portão. O estrondo chamou a atenção dos donos, que saíram para tirar satisfações. "Nem revidei, já caí no chão. E teria apanhado mais se um colega não me socorresse", conta.

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É o segundo caso de agressão física sofrida por leituristas da Sanepar só neste ano. O número chama a atenção porque não havia registro de violência contra os trabalhadores desde 2011. Ambos aconteceram na periferia de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana. O outro leiturista agredido também bateu em um cachorro para se proteger. Um vizinho viu a cena e acertou o profissional com uma tábua de madeira. O agressor foi condenado, na última semana, a pagar uma cesta básica.

Revide

Os casos de violência são difíceis de explicar, mas o gerente de faturamento da Sanepar Denilson Sauer Belão acredita que pode ser uma espécie de "transferência de culpa". "Tem um vazamento e a conta de água sobe muito. O morador fica bravo e quer descontar em alguém", explica.

Em comum, as duas agressões têm uma mesma raiz: a possibilidade de um ataque por cachorro. Esta continua sendo a maior ameaça contra a integridade física de profissionais como carteiros, garis e leituristas de energia elétrica. Em 2013, um carteiro foi atacado a cada dois dias – foram 154 casos registrados no Paraná. No caso dos leituristas da Sanepar, a média foi de uma mordida a cada seis dias. Um leiturista da Copel foi atacado a cada dez dias.

Em ruas consideradas de situação crítica – aquelas em que os ataques de cachorros são frequentes – a entrega de cartas é interrompida, seguindo um regulamento dos Correios. O bairro com mais ruas bloqueadas hoje é a CIC, seguido do Tatuquara, Bairro Novo e Hauer.

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Para amenizar o quadro, uma iniciativa da Sanepar, Correios, Cavo e Copel – com o sugestivo nome "Protecão" – trabalha em escolas para conscientizar os alunos sobre o problema. A ideia é que as crianças levem a ideia aos pais. "Estamos trabalhando até junto com associações e lideranças de bairro", aponta o técnico em segurança do trabalho dos Correios, Luiz Meyer.

Arma na cabeça

Lúcio Deconto, que trabalhou 20 anos na impopular função de cortar a água de quem não pagasse a conta, já foi sequestrado e levou arma na cabeça. Sobre os dois casos, hoje dá risada. Certa vez, um morador o trancou em casa e só soltou com a chegada da polícia. Na outra situação, uma mulher o pegou "no pulo" enquanto mexia no relógio d’água. "Eu olhei pra cima e tinha aquele revólver na minha testa. A moça [moradora do Água Verde] disse ‘você não vai cortar a água daqui não’", lembra.