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Superdotados

Eles não se cansam de aprender

O reconhecimento do alfabeto e a leitura das primeiras palavras geralmente começam bem cedo. Camila leu pela primeira vez com 3 anos. Henrique e Gabriela com 2. Essas três crianças já tiveram de adiantar a série do ensino regular para continuar tendo incentivo para ir à escola. Isso porque o conteúdo ensinado para meninos e meninas da idade deles já era bem conhecido pelo trio, o que acabava sendo desmotivador.

Para os superdotados, como são conhecidas as crianças com altas habilidades, muitas vezes a aceleração das séries é a única forma de conseguir suprir as necessidades pertinentes à personalidade deles: ter cada vez mais conhecimento e informação.

Especialistas concordam que é melhor o diagnóstico precoce do que o tardio. "Crianças superdotadas precisam se entender, porque rapidamente vão descobrir que o vocabulário enriquecido que elas têm vai dificultar a comunicação com os amigos da mesma idade", explica a mestre em educação e presidente do Instituto para Otimização da Aprendizagem (Inodap), Maria Lúcia Sabatella.

Para Andréa Maria e Silva Ferreira, mãe de Gabriela, de 10 anos, adiantar duas séries – ela passou da 1.ª para 4.ª série do antigo Ensino Fundamental – foi a maneira de voltar a ver a filha feliz e entusiasmada com a escola. "Quando estava na 1.ª série ela sempre terminava a prova antes. A professora dizia para ela escrever os números crescentes no verso da folha. Todas vinham cheias de número", conta Andréa. Por causa do perfil de aprendizado, Gabriela era vista como uma aluna diferente pelos colegas e professores da escola. "Ela começou a se fechar. Tinha professora que dizia: 'nossa, como você é superdotada se não tirou nota 10?'", conta a mãe.

Diagnosticar com antecedência a superdotação é ajudar a criança a desenvolver o que ela tem de melhor. Maria Lúcia Sabatella explica que algumas perdem o potencial porque são consideradas hiperativas, doentes e são medicadas com remédios antidepressivos. "É importante explicar para a criança porque ela tem uma percepção diferente das coisas. Ela não é melhor ou pior, só funciona de outra maneira", afirma Maria Lúcia.

Se nas escolas o reconhecimento dos superdotados ainda ocorre de maneira bem lenta, nas as universidades a situação não é diferente: nenhuma aceita alunos superdotados que passaram no vestibular sem o diploma do Ensino Médio. Neste caso, apenas uma legislação específica garante o acesso à faculdade antes dos 17 anos. (Leia texto ao lado).

Acelerar as séries, porém, é uma iniciativa que deve partir dos pais, da escola e após avaliações que concluam que o aluno é altamente capacitado para a fase em que está. O Inodap é um dos lugares onde as avaliações podem ser feitas para medir a capacidade dessas crianças. Maria Lúcia explica que a maturidade do superdotado conta muito na decisão. "A primeira opção é não adiantar as séries, porque a criança pode se sentir deslocada em relação à idade dos colegas. Temos muitos recursos para suprir a ansiedade dos superdotados sem acelerar. Basta que os professores estejam preparados para estimular essas crianças em sala de aula com conteúdos e atividades além dos tradicionais", explica.

O Ministério da Educação, desde 2005, implantou nos estados brasileiros Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (Naah/S), criados para suprir a desinformação dos professores, orientar as famílias e ajudar as crianças superdotadas. No Paraná, o Naah/S funciona em Londrina e ainda está em fase de desenvolvimento. "É preciso avaliar cada criança para poder acelerar. Às vezes, em vez de proteger o aluno, você acaba o expondo ainda mais. Isso porque, uma vez acelerado, ele não pode voltar a série. Caso não acompanhe, pode se tornar um futuro repetente", afirma a coordenadora do Naah/S de Londrina, Fabiane Chueire Cianca.

É importante lembrar que a aceleração das séries só é feita mediante avaliações de conhecimento e aprovação nas secretarias estaduais de Educação. Só nesse ano, o Inodap conseguiu adiantar, com sucesso, a série de 17 crianças. Cinco delas já estão na universidade.

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