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Dia do Professor

Elogio às damas de ferro

Diz-se que o humor é a menor distância entre duas pessoas. Quem já contou a anedota certa, na hora exata, sabe disso. Mas tanto quanto o humor, o que pode aproximar dois desconhecidos com a rapidez de um raio é descobrir que um e outro estudaram na mesma escola. E, melhor do que isso, tiveram os mesmos professores. "Mentira? Você foi aluna da professora Glaura Villanova!" – pode estar perguntando agora uma veterana qualquer do Colégio Estadual Lysimaco Ferreira da Costa. É o que basta para que duas estranhas tricotem, animadas, até a manhã seguinte. E para que dois desconhecidos encerrem uma conversa inesperada se abraçando como velhos companheiros de Monte Castelo. Educação tem dessas coisas.

Em tempos idos, inclusive, uma única professora era capaz de aproximar não apenas duas pessoas, mas duas ou três gerações. Famílias inteiras passavam pelo mesmo mestre, a ponto de o terem, sem que os interessados talvez saibam, como gente da casa, um assunto dos almoços de domingo. A reportagem da Gazeta do Povo conversou com três educadoras desse tempo, todas donas de personalidades e estilos que marcaram época nas instituições em que atuaram: Maria Joaquina Von Lasperg, no Colégio Estadual Gabriela Mistral; Laís Groff, no Pedro Macedo; e Maria de Lourdes Bacanof, no Colégio Estadual Benedito João Cordeiro.

A professora Maria Joaquina Von Lasperg trabalhou por nada menos do que 38 anos no Colégio Estadual Gabriela Mistral, na Vila Isabel, sendo três décadas como diretora. Começou quase uma menina, em 1960, numa escola experimental de bairro, até praticamente levantar as paredes do Gabriela Mistral, colégio a quem quer como a um filho. Óbvio, dona Joaquina, ainda hoje, nem bem sai na janela e já tem de responder aos acenos de quem passa na Champs-Elysées da Vila, a Rua Ulisses Vieira, onde mora.

Sua popularidade é tamanha que moradores de bairros vizinhos, como Santa Amélia e Santa Helena, chegaram a convidá-la para se candidatar à Câmara Municipal – projeto fora de cogitação à época, no início dos anos 2000, quando se preparava para dizer adeus ao magistério e fazer o que jamais podia trabalhando em três períodos: ficar em casa. "Eu ganharia uma eleição. Meus ex-alunos me param na rua. Mas quero distância de política", comenta a lendária professora, cuja fama de durona desaba diante de outra, menos conhecida: a de ombro amigo, revelada discretamente nos recreios, quando ia para o pátio prosear, pondo de molho os rigores do cargo. "Eu até gazeteava com eles de vez em quando", confessa.

Sem alarde, Joaquina ajudou alunos a saírem das drogas, encorajava mães a enfrentarem filhos com problemas e, ainda hoje, é na moçada que mora a saudade. "Às vezes, sonho à noite que estou na escola, fazendo as coisas que sempre fiz. Era minha vida. O que mais me faz falta são as rodas de conversa com a gurizada", confidencia a ex-diretora, cuja biografia cruza com a da História da Educação em Curitiba, com a da Vila Izabel e com milhares de anônimos cujo patrimônio comum é ter convivido um dia com dona Joaquina.

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