Cobertura
PR tem só 10% da mata original
No ranking dos estados que mais desmataram entre 2008 e 2010, o Paraná tem lugar de destaque. De acordo com o levantamento, o estado é o que mais desmatou depois de Minas Gerais, Bahia e Santa Catarina. No período, 3.248 hectares vieram abaixo, o que contribuiu ainda mais para devastação do bioma no estado, onde restou 10% do original. Entre as regiões metropolitanas, a de Curitiba também se sobressai: desmatou 775 hectares em dois anos.
O diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, afirma que a principal causa da devastação foi a condução de políticas equivocadas ao longo das últimas décadas, quando gestores e legisladores incentivaram a população a desmatar e a ocupar áreas dentro do bioma na esperança de que a lei da Mata Atlântica não saísse do papel. "Ao invés de conscientizarem os produtores, incentivaram os mesmos a desmatar. Depois, quando a lei foi aprovada e eles caíram na ilegalidade, puseram a culpa no meio ambiente."
Entre as localidades mais críticas estão a região central do estado, onde se situa a primeira colocada no ranking de desmatamento, Pitanga (317 ha), e a região metropolitana de Curitiba, onde fica Bocaiúva do Sul (249 ha), a segunda. De acordo com a engenheira ambiental da prefeitura de Bocaiúva do Sul Janete Fantinel, a área dimensionada pelo Inpe na verdade diz respeito à resultante do corte de bracatinga e pinus, que está dentro da lei.
Já o secretário de Meio Ambiente de Pitanga, José Fachin, afirma que o desmatamento é responsabilidade da gestão anterior, quando a secretaria estava atrelada à da Agricultura e Pecuária e o tema era subestimado, e que a prefeitura tem trabalhado na área de educação ambiental e na fiscalização perante o governo estadual.
Em dois anos, uma enorme clareira de 312 km² (cerca de 31 mil hectares), quase o tamanho de Belo Horizonte (330 km²), foi aberta nas florestas de Mata Atlântica no país. O dado, divulgado na véspera do Dia da Mata Atlântica, comemorado hoje, faz parte do estudo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, lançado pela organização não-governamental SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Nesse período, o desmatamento no país diminuiu 55%, mas os números lançam um alerta: hoje, apenas 11,6% da cobertura original, aquela que se encontrava de pé à época do descobrimento do Brasil, ainda resistem.No levantamento, quatro estados chamaram a atenção: Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e Paraná, que juntos desmataram quase 28 mil hectares no mesmo período, de 2008 a 2010. Hoje, Minas e Bahia vivem a situação mais alarmante, especialmente nas áreas com grande concentração de matas secas, na divisa entre os dois estados. A queima da madeira gera o carvão que abastece uma das indústrias mais lucrativas, a do ferro gusa, vendido no exterior. O resultado da falta de fiscalização pode ser visto no ranking elaborado pela ONG com os 100 municípios brasileiros que mais desmataram: dos 10 primeiros, 9 estão localizados nos dois estados.
Fatores
De acordo com Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da ONG, vários fatores pressionam municípios e estados a descumprir a Lei da Mata Atlântica: assentamentos agrários mal realizados, especulação imobiliária, queima do eucalipto para a produção de carvão, expansão da fronteira agrícola e obras governamentais, como a construção de portos e anéis viários. Ela acredita que a aprovação da lei, que permitiu maior fiscalização, é um ponto positivo, mas ressalta a falta de conscientização como o maior entrave. "Não é somente o poder público que deve ser sensibilizado, mas a população. Nesses estados vivem 112 milhões de pessoas".
Municípios
A importância dos municípios para o efetivo cumprimento da lei foi destacado pelos ambientalistas. Embora ainda dependa do estado para reprimir os crimes ambientais, o poder municipal tem um papel importante na prevenção, mediante educação ambiental e a adoção de critérios rígidos para frear a construção de empreendimentos em áreas de Mata Atlântica. "O município só deve permitir aqueles que não derrubem a mata e que tenham princípios sustentáveis", diz Márcia Hirota, que defende a implementação, por parte de prefeituras, do Plano Municipal de Mata Atlântica. O plano permite adotar critérios de preservação e recuperação das matas levando-se em conta as particularidades de cada município, mas é uma realidade distante em praticamente todas as cidades do país.
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