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Ciência

Em 2014, o pontapé inicial da Copa será diferente

Projeto Walk Again envolve 156 cientistas de 25 países, com dinheiro do Brasil e dos EUA | Paulo Whitaker/Reuters
Projeto Walk Again envolve 156 cientistas de 25 países, com dinheiro do Brasil e dos EUA (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)

Colocar um paciente paraplégico para caminhar dentro de campo e dar o pontapé inicial da Copa do Mundo no Brasil será apenas o primeiro passo de um projeto que continuará a ser desenvolvido, com o objetivo de ajudar pessoas com paralisia a andar novamente, afirmou o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.

À frente de uma equipe de 156 cientistas de 25 países, Nicolelis está concentrado na reta final para a demonstração na abertura do Mundial, em 12 de junho, quando um paciente paraplégico caminhará pelo campo da Arena Corinthians usando uma estrutura robótica chamada de exoesqueleto e dará o pontapé inicial da partida entre Brasil e Croácia.

"A demonstração da Copa é simbólica... Não é ciência. A ciência nós fizemos aqui [no laboratório]. É quase que um presente do Brasil para a humanidade, mas é só o começo, é um primeiro passo, literalmente", disse o neurocientista no laboratório instalado desde novembro na zona sul de São Paulo.

"O intuito, a longo prazo, de toda a rede Walk Again (Andar de Novo) pelo mundo afora, é criar tecnologias que possam ser usadas pelos pacientes. Não só o exoesqueleto, existem outras tecnologias em que estamos trabalhando", acrescentou. Os oito pacientes que participam do projeto já caminharam com o exoesqueleto, usando comandos cerebrais.

Eles também passaram pelo o que Nicolelis chama de "treinamento cerebral", em um sofisticado simulador em que os pacientes comandam os movimentos de um avatar na tela e recebem, por meio de sensores táteis, a sensação de estarem caminhando.

Para realmente deixá-los preparados a abertura do Mundial, o som ambiente é o de uma barulhenta torcida. "[A ideia] é fazer o cérebro imaginar que as pernas funcionam de novo", explica o cientista sobre o simulador, que foi testado, inclusive, pelo ex-atacante da seleção brasileira Ronaldo, numa visita que fez ao laboratório de Nicolelis.

Após este treinamento cerebral, os pacientes passaram a usar o exoesqueleto, ferramenta que permitirá não apenas que eles andem novamente usando os comandos cerebrais, mas também que sintam a sensação de caminhar, graças a uma "pele artificial" coberta por sensores, que vai revestir o aparelho.

E a equipe de Nicolelis já mira melhorias no exoesqueleto, como a redução do peso dos atuais 70 quilos para 50 quilos, já antes da abertura da Copa, e num prazo um pouco maior, a inclusão de braços no aparelho para que ele também seja usado por pacientes tetraplégicos.

O projeto Walk Again teve sua ciência básica – experimentos em animais, por exemplo – financiada pelo National Institutes of Health (NIH), órgão do governo dos Estados Unidos que é a maior agência de pesquisa biomédica do mundo. A fase clínica, que está sendo feita no Brasil, tem financiamento de R$ 34 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa de fomento à pesquisa ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

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