Nos últimos 21 meses – desde o início de 2014 –, mais de mil mulheres foram estupradas em Curitiba, segundo levantamento da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Em média, são três novos casos a cada dois dias. Detrás dos números frios das estatísticas, estão mulheres que tiveram a vida mutilada por um crime repugnante e que lutam para superar o trauma e seguir adiante.
Para apoiá-las, em novembro de 2013, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) criou o Núcleo de Apoio à Vítima de Estupro (Naves). Mais do que acompanhar as mulheres durante todo o curso processual, o grupo as acolhe, oferecendo suporte psicológico, médico e social, dentro de uma perspectiva mais humanizada.
“O que motivou a criação do núcleo foi o sofrimento das vítimas. Queríamos tutelar essas mulheres, dando um apoio para que não restem sequelas emocionais. É claro que queremos a condenação dos autores, mas só a condenação não acaba com o sofrimento das vítimas. É preciso ir além”, observou a procuradora Rosângela Gaspari, coordenadora do Naves.
Por causa disso, o grupo não espera pelas vítimas: vai atrás delas. Assim que os casos são registrados pela Polícia Civil ou Polícia Militar, ou que vítimas são atendidas pelo Instituto Médico-Legal ou Hospital de Clínicas, esses órgãos avisam o Naves. O próprio núcleo entra em contato com as mulheres e passa a acompanhá-las, em atendimentos individualizados e sigilosos. No total, desde o início do projeto, foram 337 vítimas atendidas. Destas, 197 se referem a casos cujos inquéritos policiais foram instaurados após a criação do grupo.
Traumas
Invariavelmente, os crimes deixam marcas doloridas nas vítimas. Muitas mulheres se sentem culpadas por terem sido estupradas e/ou mantêm resistência em representar contra os estupradores. Por isso, o trabalho de acolhimento e convencimento é importantíssimo. O resultado já é palpável. Antes da criação do Naves, a média era de 11 denúncias oferecidas à Justiça por ano. Após o grupo ter saído do papel, já foram 52 denúncias em menos de dois anos.
“Nos casos em que a autoria foi reconhecida, temos 100% de sucesso, com os autores sendo processados, condenados e presos”, disse a promotora Elaine Munhoz Gonçalves.
Além disso, o grupo criou um banco de retratos-falados, em parceria com a Delegacia da Mulher e o Instituto de Identificação. Imagens de estupradores feitos por peritos a partir do relato de vítimas são compilados e podem ajudar vítimas a identificar criminosos. “O estuprador tem conduta reiterada. Ele estupra hoje, dali seis meses, por exemplo, volta a estuprar. Nunca é um caso isolado”, apontou Rosângela.