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Educação

Em busca do analfabetismo zero

Vídeo | Reprodução/TV Globo
Vídeo (Foto: Reprodução/TV Globo)

A história é real e se passa em Curitiba: duas meninas se transferem de uma escola para outra. Estão com 10 anos, freqüentam a 4.ª série. Quando vão começar a estudar na escola nova, as professoras reparam em um problema. Nenhuma das duas sabe ler. E nenhuma das duas sabe escrever. Não é que elas tenham alguma dificuldade com as letras. Realmente não têm noção de alfabetização. O problema é que todos os seus colegas foram alfabetizados três anos atrás, e agora elas estão completamente defasadas em relação ao resto da turma.

A situação não é um caso à parte, nem é exclusividade de escolas públicas. Lendo dados do próprio Ministério da Educação, especialistas chegam a dizer que 55% das crianças que chegam à 4.ª série – em escolas privadas ou públicas – não sabem ler e escrever da maneira como se esperaria. São alunos que muito provavelmente vão engrossar mais tarde o enorme contingente de analfabetos funcionais do país. Segundo o reconhecido Instituto Paulo Montenegro, que se dedica a estudar o assunto, só 25% dos brasileiros são plenamente alfabetizados.

"O esforço é para que 100% das crianças sejam alfabetizadas", afirma a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da prefeitura de Curitiba, Nara Luz Chierighini Salamunes. Esse seria o próximo passo a ser alcançado depois da universalização do ensino. Ou seja, agora que praticamente todas as crianças estão dentro da escola, a tarefa de casa passa a ser oferecer um ensino de qualidade para todos.

Muita gente diz que a ausência de repetição de ano na escola é uma das principais culpadas pela demora no aprendizado. Mas os educadores preferem apostar que há mais causas para o problema. "É uma situação que tem origem nas condições culturais das crianças", afirma Nara. Segundo a professora, crianças que vêm de famílias onde há estímulo para leitura já chegam à 1.ª série sabendo ler e escrever.

"O problema é que boa parte das pessoas no nosso país não tem nem o que comer. Como podemos esperar que elas dêem prioridade para a cultura e o letramento dos seus filhos?" indaga a professora Lilian Anna Wachowicz, membro titular do Conselho Estadual de Educação. Para ela, há várias medidas fundamentais para que as crianças tenham uma educação de mais qualidade e saiam da escola sabendo tudo o que se poderia exigir delas. "Dar acesso a bibliotecas, encaminhar para clínicas alunos com dificuldades especiais e uma melhor formação dos professores são medidas que trariam resultados."

O governo federal acredita que os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica do MEC – aqueles que apontam para 55% de crianças com dificuldade de leitura – também precisam ser complementados para que se possa entender o que há de errado no processo de alfabetização dos brasileiros. Por isso, anunciou duas novidades nos próximos dias. Uma delas é a "Provinha Brasil". Trata-se de um exame que será feito nos primeiros anos da escola, dos 6 aos 8 anos de idade, para ver como as crianças reagem ao processo de ensino das primeiras letras. "Vamos desenvolver a prova e enviar para que os municípios apliquem", afirma Francisco das Chagas, secretário nacional de Educação Básica do MEC.

Índice

A segunda novidade é o Ideb, o Índice de Desenvolvimento Educacional Brasileiro. O índice medirá a capacidade de alunos de ensino fundamental em cada município. O número servirá para orientar as ações, principalmente nas escolas públicas. A cidade que tiver pior desempenho merecerá maior atenção. Isso é necessário porque o problema do analfabetismo varia bastante de acordo com a região do país. "No Brasil inteiro, há 13% de analfabetos", diz Nara Luz. "Em Curitiba são 3%. Ainda não é o número ideal, mas há uma diminuição significativa", lembra.

A diretora acredita que ainda demorará algum tempo para que a escola deixe de formar analfabetos funcionais, mas acha que o país está no caminho certo. "O mundo exige mais conhecimento hoje e todo mundo está dando mais atenção à educação", ressalta. O MEC concorda. "É uma situação que temos de resolver a curto prazo", diz Chagas. Se o objetivo será alcançado, só o tempo dirá.

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