Faça chuva ou faça sol, a atual temporada no litoral catarinense não tem sido das melhores. Mesmo com o sol reinando no litoral de Santa Catarina, a imagem deixada pela enchente que assolou o Vale do Itajaí em novembro afugentou turistas. Alguns ficaram com medo de vir e encontrar estradas bloqueadas, pontes derrubadas e alagamentos o cenário visto há cerca de 50 dias e repetido na semana passada. E a fuga acontece justo no momento em que o turismo, que representa 15,15% da economia do estado, é visto como uma das esperanças de reconstrução.
Assim que a chuva deu uma trégua, governo, hotéis, parques e imobiliárias correram para avisar os veranistas, principalmente os vindos de outros estados, que a situação estava normal. Segundo o Ministério do Turismo, apenas 27,3% dos turistas do estado são catarinenses. No Paraná, 51,6% dos que viajam pelo estado são paranaenses. A propaganda foi grande, mas nem todos se convenceram.
As estatísticas do movimento estão sendo mensuradas. A Santa Catarina Turismo S/A (Santur), vinculada à Secretaria de Turismo, irá fechar os números em março. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina (Abih-SC), João Eduardo Amaral Moritz, estima que nos hotéis a queda deve girar em torno de 10%. O desastre interrompeu um período de otimismo do setor hoteleiro, que tinha anunciado um aumento da taxa de ocupação de 4,1% no primeiro semestre de 2008.
A estimativa era encerrar o ano com aumento de cerca de 5%. Só que o setor hoteleiro não previa a chuva que fez 135 vítimas e deixa atualmente cerca de 32,8 mil desalojados e desabrigados. Moritz lamenta que muitos turistas tenham deixado de vir à praia, que, mesmo não sendo afetada pela chuva de novembro, está pagando o preço pela falta de informação. "Nossa esperança é reverter esse número", diz.
Los hermanos
Para o proprietário há 25 anos de uma imobiliária de Balneário Camboriú, Alecson Luiz de Lima, a temporada vai começar no dia 15, data em que os argentinos costumam chegar. "Ainda bem que o carnaval é no fim de fevereiro. Se fosse antes, te garanto que tinha quebrado a cidade", diz o proprietário que hoje tem 30% dos imóveis disponíveis para locação.
Balneário Camboriú é uma das praias mais badaladas do estado. O movimento foi considerado bom entre Natal e ano-novo. No começo de 2009, piorou muito, segundo comerciantes. Quem passa por lá acha que tem movimento praia cheia, muito carros, dificuldade de atravessar na rua , mas quem conhece uma temporada de verdade diz que a deste ano está fraca.
O proprietário de uma barraca de churros e milho na praia há 20 anos, Edson Amaral, estima queda de 40% no movimento. "Não tem um comerciante aqui em Balneário que diz que a temporada está boa."
O vice-governador, Leonel Pavan, que foi prefeito de Balneário Camboriú, chegou a afirmar em novembro que a vinda de turistas representa um ato de solidariedade. "Preservar a movimentação turística é uma forma de ajudar a própria economia e a sociedade catarinense a se recuperar mais rápido desta tragédia", afirmou.
Pelas praias de Santa Catarina, comenta-se que quem deixou mesmo de vir ao litoral foram os brasileiros de outros estados, bombardeados por imagens da destruição. Já o estrangeiro aproveita que o dólar está em alta para gastar mais no Brasil.
Segundo o presidente da Santur, Valdir Walendowsky, um pool de operadoras argentinas está vendendo 18% a mais que na temporada passada. "Por mais que tenha gente, comércio e hotelaria sempre vão reclamar", afirma. "Dentro de tudo que aconteceu, o verão está ótimo." Por causa da enchente, a expectativa da Santur é repetir a temporada anterior. Antes das chuvas, havia previsão de crescimento de 8 a 10%.
No parque Beto Carrero World houve queda no movimento a partir de setembro. Mesmo assim, o parque fechou 2008 com crescimento de 7%. "Em 2007, o crescimento foi de 25%. Esperávamos crescer 20%, só que as chuvas atrapalharam. Ainda assim tivemos crescimento interessante", diz o diretor comercial, Alex Reiter. Ele espera um aumento de público gradativo devido à nova atração, a maior montanha-russa do Brasil, de R$ 15 milhões, em que o trilho fica sobre a cabeça dos passageiros. A atração, inaugurada em 28 de dezembro de 2008, tem cinco loopings e chega a quase 100 quilômetros por hora.