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Interesses econômicos

Em carta, cientistas apontam pressão por drogas mais caras contra a hidroxicloroquina

Jair Bolsonaro
Cientistas querem que Bolsonaro dê apoio ao uso de hidroxicloroquina em estados com mais casos da Covid-19. Esta imagem é de 9 de abril, quando o presidente, em live, falou do medicamento. (Foto: Reprodução)

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“Por que não, Sr. Presidente?”, pergunta um grupo de cientistas ao presidente Jair Bolsonaro sobre a demora do Ministério da Saúde em indicar o uso da hidroxicloroquina em pacientes com os primeiros sintomas da Covid-19, como já permitiu o Conselho Federal de Medicina. “Será que estão menosprezando a HCQ só para gastar fortunas com outras drogas mais caras, como o favipiravir e o remdesivir ou alguma outra, igualmente caríssima?”.

Os questionamentos estão em uma carta aberta a Bolsonaro, assinada por 13 cientistas e publicada no site “Brasil sem Medo”, nesta quarta-feira (6). Após apontar uma série de países que estão utilizando a hidroxicloroquina na fase precoce da doença, os pesquisadores recomendam o uso nos estados com mais casos da doença, como Amazonas, Pará e Ceará.

“A Costa Rica utiliza a HCQ, até preventivamente, com excelentes resultados, até hoje com somente 6 mortes. Portugal usa a HCQ desde o início da pandemia, precocemente. A Itália, ainda que tardiamente, não persistiu no erro e começa a usar a HCQ, também precocemente. A Índia, a Turquia e o Senegal também a usam, com taxas de letalidade para casos reportados bem menores, abaixo de 1%. A Argélia passou recentemente a usar a HCQ, e houve uma queda acentuada de mortes”, escrevem.

Os pesquisadores citam, além do estudo da Prevent Senior, não publicado ainda por ter sido realizado sem autorização do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o do médico francês Didier Raoult com 1.061 pacientes que, segundo eles, deverá ser publicado em breve em uma revista médica internacional. Em uma citação velada à pesquisa de Manaus, onde morreram 11 pessoas após altas doses de cloroquina (a bula indica uma dose máxima de cloroquina de 1.500 mg em três dias, e os médicos em Manaus utilizaram 6.000 mg em 5 dias) – e por isso os responsáveis estão sendo investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) –, os cientistas insistem que, na dose certa, médicos que usam o medicamento há 40 anos apontam que os efeitos colaterais são quase inexistentes.

“Os resultados são inquestionáveis! A droga funciona! Quando a HCQ É ADMINISTRADA NA DOSAGEM CERTA, E NA HORA CERTA, PRECOCEMENTE, SALVA VIDAS, E MUITAS! [sic]”, afirmam.

“Presidente, uma sugestão: Inicie pelos estados do Amazonas, Pará e Ceará, onde a situação é mais crítica. Há HCQ suficiente para eles, e o Conselho Regional de Medicina do Amazonas e a Secretaria de Saúde do Pará já recomendam o uso precoce de HCQ”.

Droga é usada há 40 anos com poucos efeitos colaterais

Após a divulgação de mortes em pesquisa realizada pela Fiocruz em Manaus, com altas doses de cloroquina, médicos em todo o Brasil ficaram com receio de prescrever a substância. A insistência de Bolsonaro para o uso da droga, apresentando a substância como cura segura da doença, também fez com que cientistas críticos ao governo abandonassem as pesquisas com a droga ou a utilizassem apenas nas fases mais graves da doença, quando o pulmão e outros órgãos já estão comprometidos e, em tese, a hidroxicloroquina – que apenas ataca o vírus – não pode regenerar o que já está perdido.

Para médicos como presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antônio Carlos Lopes, que utiliza a cloroquina há 40 anos, o receio na utilização do medicamento nasce do desconhecimento da droga. Em entrevista para a rádio Jovem Pan, em 10 de abril, ele esclareceu que os efeitos colaterais são raros se a droga é usada em dose correta.

“Os efeitos colaterais da cloroquina são muito raros. É descrita a possibilidade de alteração cardíaca, de arritmia cardíaca, mas na realidade não é o que se constata na prática. Eu, por exemplo, receito esse medicamento há 40 anos para outros tipos de doença e não constatei nenhum efeito colateral da doença, nem do ponto de vista cardíaco, nem do ponto de vista hepático ou renal. Tudo isso é muito desprezível dentro do contexto do benefício que a droga possa trazer. Todas as drogas têm efeitos colaterais, e o médico tem o dever de saber. Essa composição não limita o uso da droga”.

Perguntado por que ele acha que os médicos têm receio de usar a cloroquina, ele afirmou que é por não terem experiência com o medicamento.

“A grande maioria dos médicos nunca usou a cloroquina, nem sabe o que é, e encontra efeitos colaterais na literatura médica, mas o que se fala disso é muito mais por não conhecer a droga, por não ter usado a droga. E aí atemoriza quem não exerce a clínica médica, quem não está à beira do leito, quem não está no ambulatório. No Nordeste, no Norte, ela é altamente empregada e ninguém nunca teve efeito colateral [que desautorizasse o uso]”.

Sobre a pesquisa com altas doses de cloroquina em Manaus, além de investigação do Ministério Público, o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa confirmou estar apurando se houve falha ética no experimento.

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