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Saúde

Em crise, Santas Casas do PR fazem paralisação na terça-feira

Em muitas cidades de pequeno e médio porte, as Santas Casas são a única alternativa para quem precisa de atendimento hospitalar e a crise já se tornou constante em praticamente todas elas, a ponto de criar situações como a da Santa Casa de Paranaguá, a mais antiga do Paraná, agora sob intervenção estadual. Na próxima terça-feira, as 83 Santas Casas e hospitais filantrópicos do Paraná paralisarão os chamados atendimentos eletivos por 24 horas – apenas casos de urgência serão atendidos. O protesto quer chamar a atenção para a crise nos hospitais e uma campanha nacional pretende pressionar governo e parlamentares com visitas a Brasília na última semana de outubro.

A principal reivindicação do movimento "SOS Santas Casas" é a correção ampla da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), que determina a quantia que cada hospital recebe pelos procedimentos realizados. "Uma pesquisa nacional mostrou que, de cada R$ 100 gastos pelas Santas Casas no atendimento de pacientes do SUS, recebemos entre R$ 55 e R$ 65 da União", argumenta Charles London, presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa). Os reajustes existentes são pontuais e contemplam apenas alguns procedimentos.

Em certos casos, o SUS até repassa o valor ideal, ou próximo disso, explica London. "Em procedimentos de alta complexidade, como neurocirurgia ou transplantes, até que recebemos o justo. Agora, nas consultas médicas, o governo federal nos manda apenas R$ 2,07, que vão todos para os honorários do médico", exemplifica. Uma operação de vesícula cria despesas de R$ 1.489 para o hospital, mas o SUS paga apenas R$ 288.

Sem os recursos federais, as Santas Casas apelam à generosidade popular. No dia 6, a Santa Casa de Curitiba apresentou quatro monitores de sinais vitais, comprados com recursos obtidos por meio de um serviço de telemarketing criado em fevereiro. "Por enquanto, ligamos apenas para pessoas físicas. As pessoas podem doar pelo menos R$ 5. A contribuição média é de R$ 21 e a maioria dos doadores é de ex-usuários dos serviços do hospital", conta Luiz Augusto Wallbach, gestor de captação de recursos da Santa Casa curitibana. Os aparelhos custaram quase R$ 13 mil cada. London reconhece o papel das contribuições, mas reafirma que o governo deveria suprir as necessidades do hospital: "as doações da população estão se esgotando. É chato viver pedindo o tempo todo. É obrigação do governo manter a saúde."

Além do repasse do SUS e da ajuda dos cidadãos, as Santas Casas normalmente têm outras fontes de renda. Parte do dinheiro vem dos convênios particulares, mas os municípios e o Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) também contribuem. Outro problema são as emendas parlamentares. Segundo London, os hospitais menores têm dificuldade em receber verbas porque elas acabam ganhando uso político. "Os deputados até destinam dinheiro para nós, mas o governo não libera. Em 2005 recebemos R$ 80 mil e ainda aguardamos uma outra remessa de R$ 200 mil", diz Carlos Roberto Seara, que dirige a Santa Casa da capital. Em agosto, o hospital arrecadou R$ 5,7 milhões e gastou R$ 5,6 milhões. "Foi o nosso segundo mês seguido no azul, mas no primeiro semestre do ano o prejuízo acumulado foi de R$ 1,5 milhão. Operamos no limite", afirma o diretor.

Para manter o status de hospital filantrópico e escola, é preciso que a proporção de pacientes atendidos pelo SUS seja, respectivamente, de 60% e 70%. Ultimamente, em Curitiba, esses atendimentos representam 80% do total da Santa Casa. "Em 1884, o provedor do hospital já comentava as dificuldades financeiras em seu relatório. Sempre trabalhamos sob crise, mas conseguimos levar adiante", diz o cirurgião Carlos Ravazzani, que entrou na Santa Casa em 1974. A administração do hospital pretende modernizar os aparelhos e Wallbach explica que a prioridade é adquirir outros seis monitores de sinais vitais e dois colposcópios, que ajudam na prevenção do câncer de colo de útero. Quem desejar contribuir pode ligar para o número 0800-6451800. A doação é descontada na conta telefônica.

Dificuldades

1.255 leitosforam fechados desde 2000 em hospitais filiados à Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná.

R$ 255 milhõesé a dívida acumulada dos 63 hospitais filantrópicos (do total de 83) do estado filiados à Femipa, incluindo despesas com fornecedores, salários e encargos.

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