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Evandro Bezerra Silva afirmou à Polícia Civil de São Paulo que descontentamento por causa do fim do namoro, ciúmes e uma suposta traição teriam levado Mizael Bispo de Souza, de 40 anos, a matar a ex-namorada Mércia Nakashima, de 28 anos. O G1 teve acesso à cópia da íntegra do depoimento que o vigia de 38 anos deu ao delegado Antonio de Olim, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na sexta-feira (9) em Sergipe.

Mizael teve a prisão decretada pela Justiça após essa declaração do segurança, está foragido desde sábado (10). O advogado e policial militar aposentado nega o crime. O vigilante, por sua vez, já havia tido a prisão temporária decretada já no mês passado, por faltar a um depoimento no inquérito onde é apontado como cúmplice do crime.

A versão que Evandro apresentou ao delegado Olim é diferente da que ele deu inicialmente à Polícia Civil sergipana. Antes, ele havia afirmado que não sabia quem matou Mércia e que também não tinha envolvimento com o crime. Mas na sexta, quando foi preso após ter ficado foragido por quase duas semanas, ele revelou que Mizael matou a ex numa represa em Nazaré Paulista, no interior do estado de São Paulo, em 23 de maio. Segundo esse último relato, ele foi buscar o amigo de carro, mas nega ter ajudado Mizael a matar a mulher. Mesmo assim, o segurança foi indiciado pelo homicídio.

Depois de Mércia desaparecer por 19 dias após deixar a casa dos avós em Guarulhos, na Grande SP, os bombeiros acharam o veículo dela submerso na represa em 10 de junho. O corpo da vítima foi encontrado no dia seguinte.

É justamente essa contradição e mudança de versões apresentada por Evandro que leva o advogado dele, José Carlos da Silva, a desconfiar como o depoimento do segurança foi colhido em SE.

"Suspeito que meu cliente tenha sido coagido para mudar a versão dada anteriormente", afirmou por telefone neste domingo ao G1, o defensor do vigilante. "Essa suspeita é decorrente da minha experiência. Falei no sábado com ele na cadeia onde está preso [no 1º Distrito Policial] em Guarulhos. O que ele comentou comigo é: 'tive que dar a segunda versão. É preciso que alguma autoridade apure se ele foi obrigado a isso. Não sei se foi coação moral, tortura psicológica ou física. Pode ter sido um grito."

Olim não foi localizado para comentar as críticas do defensor do segurança. Ainda, de acordo com o segundo depoimento de Evandro, o vigia afirmou estar "normal" no momento em que presenciou o crime e também contou que está "arrependido" por ter colaborado, de algum modo, com o advogado e policial militar aposentado para que o homicídio acontecesse.

Depoimento de Evandro

Ainda, como relatou o vigilante ao DHPP, "Mizael começou a desconfiar [a partir de fevereiro deste ano] que Mércia estaria traindo ele com outro homem". Pelo que descreveu Evandro, o advogado lhe disse que "a vítima não atendia suas ligações telefônicas e o humilhava enviando e-mails ofensivos, tendo na oportunidade comentado que iria dar um jeito nela".

Em maio, "Mizael intensificou os comentários de que queria matar Mércia", contou Evandro em seu depoimento. O relacionamento entre o vigia e o advogado era de amizade. O primeiro trabalhava para o segundo fazendo "bico de segurança". Seu último trabalho foi como vigilante de um posto de gasolina em Guarulhos.

Para realizar o crime, disse Evandro, Mizael lhe procurou às 18h do dia 22 para dizer que o "QRU (crime)" seria naquele final de semana. O segurança diz que sempre tentou demover o colega da ideia de matar Mércia. No dia 23, o vigia se encontrou com o advogado num posto de combustíveis e Mizael combinou com ele para pegá-lo às 21h perto da represa em Nazaré Paulista. Evandro conta que levou 45 minutos para chegar ao local.

Depois, ainda segundo a versão apresentada pelo segurança ao delegado Olim, Mizael chegou a pé, trajando jaqueta marrom e calça jeans, "visivelmente suado" e quando entrou em seu Fiat Uno prata, portava "uma arma cromada" e "comentou que o problema estava resolvido" e pediu a ele para levá-lo até o veículo dele, que estava estacionado perto do Hospital Geral de Guarulhos. Após o crime, Mizael ainda teria dito para Evandro viajar e não falar nada a respeito do que ocorreu na represa.

Pedido de prisão

Apesar de contraditório em relação ao primeiro depoimento de Evandro, a segunda versão foi a que fez a Polícia Civil de SP pedir a prisão temporária de Mizael. O pedido teve a aprovação do Ministério Público, que encaminhou o pedido à Justiça de Guarulhos.

Segundo o advogado Samir Haddad Júnior, defensor de Mizael, seu cliente não vai se entregar à Polícia Civil, que tenta cumprir desde sábado (10) o mandado de prisão expedido pela Justiça contra o ex-namorado de Mércia. Desde então, ele é considerado foragido pela investigação.

Haddad Júnior afirmou ao G1 que vai entrar com um pedido para revogação da decisão judicial na segunda-feira (12). Se o recurso for desfavorável, o defensor promete ainda entrar com um habeas corpus em favor de Mizael no Tribunal de Justiça de SP.

"Mizael não vai se apresentar antes de eu entrar com recursos cabíveis para revogar essa aberração jurídica, que foi essa decisão, dada no calor dos acontecimentos em cima de um depoimento, no mínimo, questionável do Evandro, porque ele falou antes de chegar a polícia de São Paulo que não era o Mizael o assassino e não tinha nada a ver, negando o fato", disse o advogado Haddad Júnior.

Para o advogado de Mizael, a decretação da prisão é "arbitraria, ilegal e sem fundamentação jurídica. E ocorreu na calada da noite, no mínimo suspeita. Esse cara [Evandro] muda a versão e assume crime tão grave culpando o Mizael. Mesmo assim, isso não é motivo de prisão. Mizael sempre colaborou com a justiça. Mas dessa vez ele não vai se apresentar, porque é decisão arbitrária, dada na calada da noite."

"Não se pode dizer que o Mizael é foragido porque ele tem direito a recurso. Está em lugar ignorado. Não vou orientá-lo a fugir. Ele não vai fugir. Não vai sair do Brasil. Depois de esgotar recursos, vai se apresentar porque também não vou querer que o Mizael se torne foragido", disse Haddad Júnior.

"Se ele se apresentar, a chance do Tribunal de Justiça rever o decreto de prisão é grande", disse o promotor do caso, Rodrigo Merli. "Mizael pode fazer isso: ele não tem obrigação de se entregar. Mas acredito que com essa fuga, é pouco inteligente o cidadão não se apresentar. Vai dar verdadeiro motivo para o decreto permanecer".

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