O juiz federal do trabalho Marcelo Alexandrino da Costa Santos baleado junto com o filho, de 11 anos, e a enteada, de 8 anos, durante uma blitz, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, no sábado (2) , escreveu uma nota nesta quarta-feira (6) confirmando que os disparos contra ele e sua família foram feitos pela polícia. No texto, ele afirma que "nada há de mais aterrador do que a imagem de um agente público, que de nós deveria cuidar, disparando arma de fogo, com a intenção de matar, contra um casal de bem e suas crianças inocentes".
No comunicado, o magistrado agradece as manifestações de solidariedade e pede que a população continue "orando" e enviando "vibrações positivas" para sua família. A nota foi divulgada a pedido do juiz pela assessoria do Hospital Pasteur, no Méier, onde o magistrado continua internado e se recupera bem.
Já as crianças seguem internadas no CTI pediátrico do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, também Zona Oeste. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, elas respiram sem auxílio de aparelhos. O estado de saúde das crianças melhorou, mas ainda é considerado grave.
Confira a íntegra da nota escrita pelo juiz:
"Às milhões de pessoas que, no Brasil e no mundo, têm-nos enviado mensagens e pensamentos de preocupação, carinho e solidariedade:
Eu e toda a minha família, do fundo de nossos corações, agradecemo-lhes e pedimos que continuem orando e nos enviando vibrações positivas, pois, apesar da distância, a tremenda energia que acompanha seus pensamentos nos tem ajudado a seguir em frente, vencendo a cada dia uma nova batalha contra todo o sofrimento físico, emocional, mental e espiritual que temos atravessado.
Todos os dias e em todas as horas, o planeta assiste às mais variadas violações dos Direitos Humanos. Porém, nada há de mais aterrador do que a imagem de um agente público, que de nós deveria cuidar, disparando arma de fogo, com a intenção de matar, contra um casal de bem e suas crianças inocentes apenas para satisfazer seu desejo de exibir um poder que, fora dos limites legais, simplesmente não existe.
Já é passado o momento da mudança. Já não se deve mais aceitar o inaceitável. Já não se pode mais observar a violência e o mau exercício da autoridade pública como convidados bem-vindos a nossas vidas.
Portanto, que essa vibração positiva que nos tem sido enviada se estenda também a todos os seres humanos, a fim de que, da criação de espaços de resistência, onde impere a dignidade, possa nascer uma sociedade verdadeiramente livre, justa e igualitária.
Por fim, não podemos deixar de registrar nossa gratidão a todos os profissionais dos hospitais em que estamos internados. Sua dedicação é confortante e nos inspira a confiança em um amanhã sempre melhor.
Mais uma vez, muito obrigado. Marcelo Alexandrino da Costa Santos e família".
Testemunha confirma versão de juiz
Uma testemunha, que também teve o carro atingido por balas, contou na 41ª DP (Tanque), confirmou que os tiros partiram de policiais. "Tinham dois carros dando ré na minha frente. Fiz a volta e quando fiz o contorno, eles aumentaram a quantidade de tiros em cima do meu carro", contou o comerciante.
Os policiais que participaram da blitz foram ouvidos na tarde de terça-feira (5), na Corregedoria de Polícia Civil, e negaram as acusações. Eles mantiveram a versão de que trocaram tiros com criminosos que estavam em um carro preto.
No mesmo dia, o corregedor da Polícia Civil esteve no Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, para pegar a bala que foi retirada do corpo da enteada do juiz, também baleada no tiroteio. A bala será periciada para saber de onde partiu o tiro que atingiu a menina.
Especialista critica treinamento
Dos seis policiais que participaram da ação, cinco eram novos na Polícia Civil e estavam trabalhando há apenas três meses na corporação, depois de passarem pela academia de polícia.
"Não há uma cultura de treinamento nas administrações públicas e nas instituições policiais. Devemos estar preocupados com a seleção do nosso policial, do tipo de treinamento que ele recebe, suas condições do trabalho, do salário que ele recebe e, principamente, o controle constante do seu desempenho da prática diária", disse o especialista de segurança, Paulo Storani.
Caso semelhante
Em julho de 2008, durante uma perseguição policial, o menino João Roberto, de 3 anos, foi morto após o carro em que estava com a mãe e o irmão ser atingido por tiros, na Tijuca, na Zona Norte da cidade.
A Secretaria de Segurança informou que, depois da morte de João Roberto, todas as técnicas de abordagens das polícias foram revistas e aperfeiçoadas. A Polícia Civil considera adequado o treinamento dados aos agentes.
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