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Em nova carta obtida pelo G1, o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de envolvimento na morte de Mércia Nakashima, disse que o delegado Antônio de Olim, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil de São Paulo, orientou policiais civis de Sergipe a torturá-lo para que ele confessasse o crime. Olim e a Polícia Civil sergipana negam as acusações.

"Eu fui mais bem tratado pelos ladrões que estavam na cela comigo que pela polícia", escreveu o vigilante.

Em outra carta escrita por Evandro e divulgada em 19 de julho, o vigilante já havia afirmado que foi agredido. Mas, dessa vez, diz que dois delegados e quatro policiais sergipanos queriam que ele falasse o que Olim queria: que Evandro acusasse Mizael de matar Mércia por ciúmes e ainda dizer que o ajudou a fugir.

Evandro foi preso em 9 de julho no interior de Sergipe. Lá, negou saber da morte de Mércia aos policiais sergipanos. Depois, na presença da polícia paulista, passou a dizer que Mizael matou a ex-namorada Mércia por ciúmes, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior do estado de SP, em 23 de maio. O vigilante contou ainda nesse depoimento que ajudou o suposto criminoso na fuga, ao dar carona para ele.

Nova carta

A nova carta escrita por Evandro tem quatro páginas e foi entregue ao advogado dele, José Carlos da Silva, antes da transferência do vigilante da cadeia do 1º Distrito Policial, em Guarulhos, na Grande São Paulo, para o Centro de Detenção Provisória (CDP) 1, em Pinheiros, na Zona Oeste da capital, que ocorreu na quarta-feira (4). Silva repassou a carta ao G1. De acordo com o defensor, o vigilante nega envolvimento no crime.

No texto, Evandro não aponta o delegado paulista como seu agressor, mas sim os policiais de Aracaju, que teriam colocado um saco plástico em sua cabeça. O vigilante também afirma que foi coagido a dar a versão apresentada por Olim.

"Tudo o que falei na polícia fui coagido a falar. Foi tudo forjado pela polícia de Aracaju junto com doutor Olim. Só foi ele chegar naquela cidade e a minha vida mudou. Ele diz que não sabia de nada. Será?", escreveu Evandro, de próprio punho.

Outro lado

Procurado nesta quinta-feira (5) para comentar o assunto, o delegado Olim negou as acusações. "Como fui forjar o depoimento do Evandro se ele falou daquele jeito todo calmo como mostraram as imagens gravadas? Deixa ele [vigia] falar o que quiser. Não teve nada de forjar confissão", disse.

O DHPP filmou e gravou o seu depoimento. Nas imagens, ele não aparentava sinais de agressão e falava tranquilamente com Olim. Outras testemunhas também estavam presentes.

"No calor da apresentação na delegacia, Evandro disse o que ele quis. Só que ao mostrar as evidências ou ele negaria ou ele tentaria adequar a versão para minimizar a participação dele, como ele fez. Ele disse que não matou a Mércia, apenas socorreu o amigo [Mizael] que estava sozinho na beira da represa", afirmou em julho o diretor do DHPP, Marco Antônio Desgualdo.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe também disse que o vigilante não foi agredido. Segundo o órgão, Evandro chegou até a passar por exame de corpo de delito e nenhum indício de violência foi encontrado. Ainda de acordo com a secretaria, ele não se queixou de tortura durante os dias que ficou detido no estado.

Detalhes da suposta tortura

"Qualquer júri que for me julgar já sai da sua casa certo para me condenar, pois já fui julgado pela imprensa", escreveu Evandro na carta. "Sou inocente. Não matei ninguém, nem ajudei [...] Fui torturado."

Depois, o segurança descreve como ocorreu a suposta tortura e suas declarações contraditórias: a primeira, quando contou ser inocente, e a segunda, quando acusou Mizael de matar Mércia por ciúmes e disse o ter ajudado a fugir da cena do crime.

De novidade, estão os detalhes da agressão que diz ter sofrido para acusar Mizael e confessar participação num crime que alega não ter visto. Diz que foi preso em Canindé de São Francisco e contou ser inocente. Levado para Aracaju, afirma ter sido torturado por dois delegados e quatro policiais da capital do Sergipe.

Segundo Evandro, os policiais disseram: "Agora você vai falar porque aqui na minha delegacia você não fala o que você quer. Aqui você fala o que nós queremos".

O vigilante disse que os policiais pediram então para ele acusar Mizael pelo crime e dizer que deu uma carona para o advogado e policial militar aposentado. "Fala isso que o dr. Olim vai te ajudar", escreveu.

Ao se recusar, Evandro descreve que foi chamado de "durão" pelos policiais e que foi colocado numa cadeira. "Aí, ele pegou uma fita e enrolou na minha boca. Colocou um saco plástico na minha cabeça e me sufocou."

A senha para os policiais retirarem o saco, contou ele, era bater o pé no chão. Evandro afirmou que bateu o pé por quatro vezes.

Depois, teria sido levado para outra sala, onde estava Olim, com uma câmera de vídeo, e um escrivão. Os policiais, segundo o relato do vigilante, disseram: "Ele vai falar tudo o que foi combinado, não é Evandro?".

Defesa de Evandro

Procurado para comentar o assunto, o advogado de Evandro, José Carlos da Silva, afirmou que seu cliente é inocente e que irá entrar com um pedido de liberdade para ele no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

O defensor do vigilante ainda afirmou que conversará com o juiz Leandro Bittencourt Cano, que decretou na terça-feira (3) a prisão preventiva de Evandro e Mizael, para que seu cliente seja mantido em uma cela isolada no CDP. "Tenho medo que ele seja agredido por alguém. No 1º DP, ele já me contou que era hostilizado", disse o advogado.

Habeas corpus Mizael

O advogado de Mizael Bispo de Souza, Samir Haddad Junior, entrou na manhã de quarta no TJ-SP com um habeas corpus pedindo a revogação do decreto da prisão preventiva contra o seu cliente. Mizael, que é acusado de ser o mentor e autor do assassinato da ex-namorada Mércia, está foragido e é procurado pela polícia desde terça-feira. Segundo Haddad Júnior, Mizael é inocente, mas não vai se entregar até que se esgotem todos os recursos para mantê-lo em liberdade.

Caso

Mizael deve responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e dificultar a defesa da vítima). Evandro também é acusado pelo assassinato, mas com duas qualificadoras (motivo torpe e dificultar a defesa da vítima), sendo citado pelo promotor como "partícipe" do crime. O vigilante também alega inocência.

Após desaparecer da casa dos avós em Guarulhos em 23 de maio, Mércia foi achada morta no dia 11 de junho numa represa em Nazaré Paulista. Seu carro foi encontrado submerso um dia antes no mesmo local. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, desmaiou e morreu afogada dentro do próprio carro no mesmo dia em que sumiu. Ela não sabia nadar.

Um pescador havia dito à polícia ter visto o automóvel dela afundar, além de ver um homem não identificado sair do veículo e ter escutado gritos de mulher.

Para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Mizael matou a ex por ciúmes e o vigilante o ajudou na fuga. Evandro, que chegou a acusar o patrão e dizer que o ajudou a fugir, voltou atrás e falou que mentiu e confessou um crime do qual não participou porque foi torturado.

Ainda segundo o relatório do delegado Antônio de Olim, do DHPP, Mizael e Evandro trocaram diversos telefonemas combinando o crime. A polícia chegou a essa informação a partir da quebra dos sigilos telefônicos dos dois. O rastreador do carro do ex também mostrou que ele esteve próximo ao local onde Mércia sumiu e onde ela foi achada no mesmo dia do crime.

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