Se o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) resolvesse o déficit de 1.540 funcionários, a instituição teria condições de mais que dobrar o número de consultas ambulatoriais realizadas por mês de 3 mil para 8 mil , superando inclusive o que é pactuado com o município de Curitiba (5 mil).
Atualmente, a subutilização do HC é tanta que o município é obrigado a encaminhar de 10% a 20% das internações em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para hospitais de outras cidades da região metropolitana sobretudo Campo Largo. "Se o Hospital de Clínicas estivesse funcionando não precisaríamos mandar pacientes para outros municípios", explica o secretário municipal de Saúde, Adriano Massuda.
Cerca de 180 pacientes precisam de leitos de UTI mensalmente na capital. Segundo a administração do HC, a instituição teria capacidade para ter 80 leitos de UTI ativos hoje são 54 em funcionamento.
A maior crise da história do HC se deve, principalmente, à impossibilidade de a instituição realizar novos concursos públicos. Por uma determinação do Ministério da Educação, a única forma de o hospital ampliar seu quadro de funcionários é aderindo à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). A adesão está em negociação e ainda precisará da aprovação do Conselho Universitário da UFPR.
Leitos
Dos 411 leitos do HC cadastrados no Ministério da Saúde, apenas 220 estão em funcionamento. "Isso acontece pela falta de profissionais. Na teoria, as consultas poderiam ser realizadas até as 19 horas", afirma o diretor do HC, Flávio Tomasich. Contudo, a falta de fôlego de servidores permite com que as portas para as consultas se mantenham abertas só até as 16 horas.
Por outro lado, a contratação de mais funcionários, segundo Tomasich, poderia elevar o número de leitos ativos para 670 e garantiria um aumento de até 48% nas internações, que passariam de 900 a 1,3 mil por mês para 2,5 mil.
Efeito dominó
Para o presidente em exercício da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), Luís Milano, a realidade do HC afeta toda a estrutura de saúde do estado. Ele explica que há uma regra legal determinando que todo paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) deve prioritariamente ser encaminhado para um hospital público.
"É preciso usar todo o potencial público em casos de pacientes do SUS. Depois busca-se hospitais privados credenciados para atender SUS e na última possibilidade hospitais não credenciados", explica Milano. Segundo ele, com o HC subutilizado, na maioria das vezes nem se tentam leitos públicos. "Como não tem leitos e o maior hospital está ocioso, já se pula para hospitais credenciados e sobrecarrega todo o sistema", ressalta.
Hospital poderia fazer pelo menos 1,5 mil cirurgias
Com o uso 100% da estrutura do HC, as filas para cirurgias eletivas, nas quais pacientes podem ficar anos na espera, seriam reduzidas gradativamente. O secretário municipal de Saúde de Curitiba, Adriano Massuda, salienta que o número de cirurgias mensal firmado entre HC e governo municipal é 947 e tem sido realizado entre 40% a 60% destas a cada mês, dando uma média de 540. Com mais profissionais e as 14 salas de cirurgia funcionando, de fato, estima-se que poderá chegar a 1,5 mil cirurgias. Hoje só nove salas são utilizadas.
Outro benefício atingiria os atendimentos emergenciais do Samu e Siate. Segundo Massuda, com a falta de leitos em Curitiba alguns pacientes são levados para Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). "O que é errado. O certo é encaminhar para hospitais. Se o HC estivesse com toda usa capacidade, esse problema seria evitado", afirma.
Novos atendimentos
Setores que hoje estão inativos devem ser reabertos caso o contrato entre HC e Ebserh seja assinado. O diretor do hospital, Flávio Tomasich, revela que grande parte dos setores de transplante da instituição estão fechados há anos. "Vamos reativar os transplantes de pâncreas, rim e coração. Hoje só é feito de fígado e córnea. Também vamos ampliar as cirurgias cardíacas, oncológicas, ortopédicas e neurológicas", afirma.
Duas novidades previstas chamam a atenção. A primeira é a criação do setor de atendimento a doenças raras. A outra é a criação do tratamento de transexuais, com atendimento psiquiátrico e também cirurgia de mudança de sexo, que hoje pode ser realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).