Com número insuficiente de funcionários, HC tem 191 dos leitos credenciados no SUS ociosos| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Negociação

Tentativas anteriores de votar adesão à Ebserh foram frustradas

Em duas tentativas de votar a adesão do hospital à empresa estatal, o Conselho Universitário não pôde se reunir. No começo de junho, a reunião foi cancelada duas vezes no mesmo dia porque manifestantes contrários impediram a entrada de conselheiros nos locais de votação – pela manhã na Reitoria e à tarde na Procuradoria da República.

Na semana seguinte uma liminar expedida pela Justiça Federal suspendeu a sessão que já havia iniciado. A justiça considerou a sessão ilegal por não ter havido comunicação com pelo menos 48 horas de antecedência sobre o local em que o evento seria realizado.

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Ebserh

No dia 24 de julho, a UFPR e o HC devem realizar, às 9 horas, na sede do hospital, um debate para discutir a adesão da instituição à Ebserh. Serão convidados membros do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba (Sinditest), do Ministério Público do Trabalho, do Ministério Público Federal e da própria empresa estatal.

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    Se o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) resolvesse o déficit de 1.540 funcionários, a instituição teria condições de mais que dobrar o número de consultas ambulatoriais realizadas por mês – de 3 mil para 8 mil –, superando inclusive o que é pactuado com o município de Curitiba (5 mil).

    INFOGRÁFICO: Confira os números do HC se ele funcionasse com toda sua capacidade

    Atualmente, a subutilização do HC é tanta que o município é obrigado a encaminhar de 10% a 20% das internações em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para hospitais de outras cidades da região metropolitana – sobretudo Campo Largo. "Se o Hospital de Clínicas estivesse funcionando não precisaríamos mandar pacientes para outros municípios", explica o secretário municipal de Saúde, Adriano Massuda.

    Cerca de 180 pacientes precisam de leitos de UTI mensalmente na capital. Segundo a administração do HC, a instituição teria capacidade para ter 80 leitos de UTI ativos – hoje são 54 em funcionamento.

    A maior crise da história do HC se deve, principalmente, à impossibilidade de a instituição realizar novos concursos públicos. Por uma determinação do Ministério da Educação, a única forma de o hospital ampliar seu quadro de funcionários é aderindo à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). A adesão está em negociação e ainda precisará da aprovação do Conselho Universitário da UFPR.

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    Leitos

    Dos 411 leitos do HC cadastrados no Ministério da Saúde, apenas 220 estão em funcionamento. "Isso acontece pela falta de profissionais. Na ­­teoria, as consultas poderiam ser realizadas até as 19 horas", afirma o diretor do HC, Flávio Tomasich. Contudo, a falta de fôlego de servidores permite com que as portas para as consultas se mantenham abertas só até as 16 horas.

    Por outro lado, a contratação de mais funcionários, segundo Tomasich, poderia elevar o número de leitos ativos para 670 e garantiria um aumento de até 48% nas internações, que passariam de 900 a 1,3 mil por mês para 2,5 mil.

    Efeito dominó

    Para o presidente em exercício da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), Luís Milano, a realidade do HC afeta toda a estrutura de saúde do estado. Ele explica que há uma regra legal determinando que todo paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) deve prioritariamente ser encaminhado para um hospital público.

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    "É preciso usar todo o potencial público em casos de pacientes do SUS. Depois busca-se hospitais privados credenciados para atender SUS e na última possibilidade hospitais não credenciados", explica Milano. Segundo ele, com o HC subutilizado, na maioria das vezes nem se tentam leitos públicos. "Como não tem leitos e o maior hospital está ocioso, já se pula para hospitais credenciados e sobrecarrega todo o sistema", ressalta.

    Hospital poderia fazer pelo menos 1,5 mil cirurgias

    Com o uso 100% da estrutura do HC, as filas para cirurgias eletivas, nas quais pacientes podem ficar anos na espera, seriam reduzidas gradativamente. O secretário municipal de Saúde de Curitiba, Adriano Massuda, salienta que o número de cirurgias mensal firmado entre HC e governo municipal é 947 e tem sido realizado entre 40% a 60% destas a cada mês, dando uma média de 540. Com mais profissionais e as 14 salas de cirurgia funcionando, de fato, estima-se que poderá chegar a 1,5 mil cirurgias. Hoje só nove salas são utilizadas.

    Outro benefício atingiria os atendimentos emergenciais do Samu e Siate. Segundo Massuda, com a falta de leitos em Curitiba alguns pacientes são levados para Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). "O que é errado. O certo é encaminhar para hospitais. Se o HC estivesse com toda usa capacidade, esse problema seria evitado", afirma.

    Novos atendimentos

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    Setores que hoje estão inativos devem ser reabertos caso o contrato entre HC e Ebserh seja assinado. O diretor do hospital, Flávio Tomasich, revela que grande parte dos setores de transplante da instituição estão fechados há anos. "Vamos reativar os transplantes de pâncreas, rim e coração. Hoje só é feito de fígado e córnea. Também vamos ampliar as cirurgias cardíacas, oncológicas, ortopédicas e neurológicas", afirma.

    Duas novidades previstas chamam a atenção. A primeira é a criação do setor de atendimento a doenças raras. A outra é a criação do tratamento de transexuais, com atendimento psiquiátrico e também cirurgia de mudança de sexo, que hoje pode ser realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).