Trocar o conforto da poltrona e dos chinelos quentes e tomar uma atitude contra as incômodas desigualdades sociais é um desafio extra para quem já passou dos 60 anos. Para a maioria dos cidadãos mesmo os mais jovens , reclamar diante das notícias de violência, corrupção, abuso de poder e miséria é o máximo que o comodismo permite. A indignação acaba antes que o sujeito tenha ânimo, tempo ou disposição de tomar uma atitude, nem que seja para melhorar a rotina do próprio condomínio ou ligar para a prefeitura e pedir uma operação tapa-buraco para a rua do bairro.
Na terceira idade, a militância esbarra também no preconceito. Para trocar a postura de espectador pela de participação cidadã, o idoso precisa superar a própria visão de que já "fez a sua parte", e também a repulsa da sociedade, que tende a colocá-lo de escanteio, seja por considerá-lo limitado ou incapaz. Em ambas as situações, perde-se muito.
"Nos modelos econômicos sociais vigentes, só quem trabalha é valorizado. Atitude e comportamento, nem sempre. A bagagem e a experiência do idoso deixam de ser aproveitadas por preconceito dele mesmo e da comunidade, que não o convoca", aponta o assistente social Jorge Gilberto Krug, 68 anos, professor aposentado da Universidade de Caxias do Sul.
Depois de quebrar a barreira do comodismo e do preconceito contra o envelhecimento, o idoso que se descobre ator social vê novas possibilidades de realização quando assume seu papel transformador. "Hoje em dia, o velho aparece como protagonista no mundo do lazer, em programas de convivência, onde ele é o motor de grupos de atividades recreativas. São experiências pequenas que precisam ser potencializadas, para maior educação social. A partir daí, investir no conhecimento dos direitos, na participação política, no ativismo", diz.
O potencial de militância do idoso, quando bem explorado, mostra avanços positivos. Desde a publicação do Estatuto do Idoso, um marco da luta pelos direitos dessa faixa etária, a participação tem crescido ao longo dos anos, mas ainda é muito tímida. "Ainda há a ideia de que a briga pelos direitos é uma luta dos outros, e não da própria pessoa idosa. Os velhos precisam ser chamados a contribuir com a sociedade, sair de casa para continuar atuantes", observa a gerontóloga Schirley Scremin, ex-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa.
Há seis anos à frente do Conselho Comunitário de Segurança do bairro Juvevê, o militar aposentado Norberto Voss, de 62 anos, sabe que o trabalho social exige atitude e disposição. Incomodado com os índices de violência e assaltos na área onde funciona a escola de música da esposa, ele convocou os vizinhos para mudar a situação do bairro. "As pessoas eram desconfiadas. Aos poucos, entenderam que sem compromisso e participação de todos, fica muito mais difícil fazer qualquer mudança", conta. Articulando reuniões com autoridades e poder público, Voss virou um calo no sapato dos responsáveis pela segurança da comunidade. O Conseg Juvevê coleciona mudanças, como iluminação pública mais eficiente, podas de árvores, patrulhamento ostensivo, módulos policiais e até alterações no trânsito, como as obras viárias da Praça Vívan Braga. "Minha atividade principal hoje é o conselho. Além de dar minha contribuição, me dá prazer e mais saúde".