Ouça este conteúdo
Ao publicar nas redes sociais sobre o período pós-parto, o Ministério da Saúde, comandado pela ministra Nísia Trindade, substituiu os termos “mulher” e “mãe” por “corpo de quem pariu” e “pessoa que pariu”. Na publicação, a pasta orienta as mães a realizarem a chamada consulta puerperal.
“Nesta fase, o corpo de quem pariu está em processo de recuperação passando por uma série de modificações físicas, emocionais e psicológicas. Estima-se que o tempo médio do puerpério é de 6 semanas, começando imediatamente após o parto do bebê. Contudo, esse período pode ser variável de acordo com cada realidade, especialmente quando relacionado à amamentação. Durante esta fase, a pessoa que pariu ou vivenciou uma perda gestacional está readequando a sua rotina à nova realidade”, diz um trecho do texto publicado na rede social, no dia 14 de janeiro de 2024.
A publicação gerou diversas críticas nas redes sociais, até mesmo de perfis que costumam aderir à narrativa petista que busca criminalizar opositores com o uso de termos como “extrema-direita” para se referir a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Crítico do “bolsonarismo”, o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Wilson Gomes, foi um dos que condenou a publicação do Ministério da Saúde. O professor disse que o governo “cedeu completamente ao lobby identitário”.
“O governo decidiu ceder completamente ao lobby identitário (exceto quando o interesse político de Lula se sobrepõe). Decidiu que não precisa considerar o que acha ou pensa qualquer outro grupo. Pergunto: se não houvesse o bolsonarismo e o risco de B voltar, em que ponto estaríamos?”, escreveu o professor na rede social X.
Já o professor e ativista pró-vida, Francisco Razzo, alertou para a corrupção intencional da linguagem adotada pelo governo em nome do “compromisso com as ideologias neocolonialistas das políticas identitárias”.
“A ‘pessoa que gesta’ se chama ‘mãe’. Não há ideologia no mundo que possa mudar o valor de verdade e o significado desta belíssima palavra da língua portuguesa. A propósito, em latim, ela é linda: ‘mater’, que está na raiz de inúmeras outras palavras: ‘maternidade’, ‘matriarca’, ‘matrimônio’ e ’matriz’, por exemplo. Ao pesquisar outras raízes etimológicas, encontrei uma variedade incrível para ‘mãe’ em línguas africanas: ‘Mama’, em suaíle; ‘Umama’, em zulu; ‘Maame’, em acã. Mas nada se compara a ‘Amai’, em xonas. No Brasil, a diversidade linguística dos povos originários é imensa. Para ‘mãe’, particularmente, gostei de ‘sy’. O atual governo, que afirma preservar a memória dos povos marginalizados pela opressora cultura ocidental, adotou o termo ‘pessoa que gesta’ em substituição a ‘mãe’, em virtude de seu compromisso com as ideologias neocolonialistas das políticas identitárias”, escreveu Razzo na rede social X. O professor Francisco Razzo também é colunista da Gazeta do Povo.
Diversos outros perfis reforçaram as críticas ao post.
“Esse desgoverno substitui o ‘mãe’ pela ‘pessoa que pariu’. Me pergunto se as parlamentares do desgoverno, mães, apoiaram tal aberração. Mais uma etapa concluída na luta contra a família. Brasil, resista!”, escreveu a influenciadora conservadora, Bárbara Destefani, na rede social X.
“Militância asquerosa. O objetivo da esquerda é destruir absolutamente tudo”, disse outro perfil.
Após a repercussão negativa, o Ministério da Saúde fez outra publicação sobre o tema, no dia 18 de janeiro, em que usa o termo “mãe”, porém, a publicação anterior permanece no ar.
“Do início ao fim da gestação, após o nascimento e durante os primeiros meses da criança, a assistência à mãe e ao bebê é integral e prioridade no SUS”, diz o novo post do Ministério.