Uma faixa verde de 1,5 metro de largura e 750 metros de extensão em uma movimentada rua do centro de São Paulo virou a mais nova polêmica da prefeitura paulistana. Isso porque, ocupando parte das faixas de rolamento da via, o espaço na verdade será dedicado aos pedestres. A Avenida da Liberdade foi a escolhida para abrigar o projeto piloto.
A execução do plano é simples: tinta verde antiderrapante e “tartarugas” amarelas e refletivas ampliarão o espaço para quem transita ali. A ideia foi inspirada em planos de segurança para os pedestres de Nova York e pretende diminuir o risco de atropelamentos. Se der certo, deverá ser estendida para outras ruas da cidade.
Calçadas precárias ou insuficientes são reclamação constante da população paulistana. Uma pesquisa feita em abril pelo coletivo Corrida Amiga em 40 cidades brasileiras mostrou que São Paulo é o município em que os pedestres relatam as piores condições dos passeios públicos. São buracos, degraus, obstruções ou estreiteza dos locais destinados a quem passa a pé que acabam por provocar a disputa de espaço entre pessoas e carros na rua. É exatamente este o caso da Avenida Liberdade.
Diariamente, milhares de pessoas ocupam a estreita calçada, que tem entre 2 e 4 metros de largura. No local, existem grandes universidades, o que concentra o fluxo de pedestres em determinados horários do dia. Nesses momentos é inevitável que eles andem pela rua e o risco de atropelamento aumenta muito.
Uma pesquisa feita pela Companhia de Engenharia de Tráfego em 2011 já mostrava que 70% das pessoas que andavam a pé se sentiam desrespeitadas e inseguras no trânsito. Depois de implantar mais de 390 km de faixas exclusivas para ônibus e mais de 300 km de ciclovias e ciclofaixas, especialistas, como a urbanista Raquel Rolnik, já argumentavam há alguns meses que essa era a hora também de olhar para o pedestre. No entanto, a solução encontrada pela Prefeitura, de pintar uma faixa em vez de aumentar a calçada propriamente, não é uma unanimidade entre engenheiros de tráfego.
Segundo eles, como o pedestre é muito mais frágil do que carros e motos, quem vai a pé precisa sim de um local elevado, que ofereça mais obstáculos para que um veículo possa alcançá-lo e provocar um acidente. Embora preveja segregadores de pistas, o projeto da faixa verde seria menos seguro do que a calçada tradicional. No entanto, ele é mais barato e mais rápido de ser implementado.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo defendeu a ideia, que ainda não está em operação. “ A iniciativa vai ao encontro da atual política de mobilidade urbana defendida pela Prefeitura, de dar prioridade à circulação dos atores mais vulneráveis do trânsito, pedestres e ciclistas. Priorizar o pedestre é uma determinação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e, também, da Lei da Política Nacional de Mobilidade Urbana, segundo a qual o trânsito de pessoas se sobressai em face da estrutura viária historicamente voltada à circulação de automóveis (transporte individual motorizado).”
Segundo a gestão municipal, a faixa exclusiva de pedestres não diminuirá o espaço para carros graças à utilização da técnica de engenharia MULV (Máxima Utilização do Leito Viário), que irá remodelar as faixas.
Acostumado a uma enxurrada de críticas a suas intervenções no trânsito da metrópole, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, preferiu ironizar comentários negativos à proposta. Há poucos dias ele disse: “Ah é? Não veja não (as reclamações). Estão reclamando pouco esses dias”.