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Jacarezinho – Dezenas de animais mortos sem explicação e a suspeita de intoxicação em crianças estão deixando apreensivas as cerca de 50 famílias acampadas às margens de uma estrada rural, próxima à entrada da Fazenda Itapema, em Jacarezinho, no Norte Pioneiro. Os trabalhadores, que aguardam a desapropriação da área, garantem que a água das nascentes e das lagoas que servem para o consumo do acampamento está contaminada por resíduos de agrotóxicos. A água também é consumida pelas dezenas de cabeça de gado que estão na fazenda.

O motivo da contaminação, acusam os sem-terra, seria o abandono de dezenas de galões, frascos e tambores de defensivos agrícolas próximo às nascentes que ficam no interior da fazenda. Pelo menos oito cabeças de gado e alguns animais silvestres já morreram. Quem entra na propriedade pode encontrar além das embalagens abandonada, carcaças de animais que supostamente teriam morrido porque consumiram a água contaminada.

Há alguns dias, crianças e adultos do acampamento estão sendo levados ao departamento de saúde da prefeitura de Jacarezinho, apresentando vários sintomas, como manchas na pele, febre, náuseas e problemas digestivos. Segundo as lideranças das famílias, pelo menos 20 crianças apresentaram problemas. Para um dos líderes, Raul Corrêa, 53 anos, a causa é o consumo de água contaminada.

O próprio Corrêa está com o corpo tomado por manchas avermelhadas que há cerca de dez dias começaram a aparecer. Ele conta que nunca teve problemas de saúde e acredita que tudo está relacionado à intoxicação.

Esta semana uma equipe do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da Polícia Ambiental estiveram na fazenda coletando material e ouvindo testemunhas. De acordo com o chefe do escritório do IAP em Jacarezinho, Venilton Pacheco Mucillo, somente na semana que vem o resultado dos exames será divulgado e a investigação concluída.

Apesar do risco de contaminação, Mucillo evitou dar declarações mais conclusivas. "Somente com os laudos é que podemos dizer se há contaminação", garante. Se comprovado o crime ambiental, o proprietário da área poderá ser autuado.

A assessoria do pecuarista Roberto Barros, dono da área, disse que as embalagens pertencem à fazenda, mas que existe um depósito onde os recipientes ficam armazenados até que sejam devolvidos ao fabricante. Os assessores do fazendeiro sugeriram que as embalagens podem ter sido tiradas do depósito e espalhadas pelos sem-terra, numa tentativa de apressar a desapropriação da área. Mesmo assim, os vasilhames não serão removidos da propriedade rural, pelo menos enquanto o laudo do IAP não for concluído.

A fazenda Itapema, outrora modelo de criação de gado europeu da raça pardo suíço, parece abandonada. A propriedade, que segundo os sem-terra possui cercade 400 alqueires, ainda preserva, em suas instalações em ruínas, lembranças do tempo em que dela saiam os melhores reprodutores e matrizes do Brasil, além de sua produção leiteira. Agora, os poucos animais encontrados na área estão sendo consumidos por parasitas e doenças e morrendo por falta de cuidados. Também não há nenhum funcionário vivendo ou trabalhando na fazenda.

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