Descobertas
Paraná tem histórias instigantes
Já foram descobertas pelo menos 50 embarcações naufragadas em mar paranaense. As histórias surpreendem. Há um navio da Marinha Britânica que perseguia navios negreiros, outro, cheio de munições, que bateu em pedras nas proximidades do Superagui. Recentemente ocorreu um resgate atípico no Rio Paraná de embarcações a oito metros de profundidade: elas teriam sido engolidas pela água em 1924, durante a Revolta dos Tenentes Paulistas.
Na década de 70, na ilha de Superagui, foi descoberto um navio encalhado de origem chinesa com uma história de arrepiar. O navio pesqueiro veio ao Brasil porque os tripulantes, 25 homens, pretendiam enchê-lo de peixes e levá-lo de volta a Taiwan. Só que a expedição deu errado não conseguiram pescar a quantidade planejada e o cozinheiro acabou enlouquecido: pegou a mangueira de amônia usado para a refrigeração e jogou o ar nas cabines do tripulantes que dormiam. Vinte e dois morreram e os três sobreviventes foram achados por pescadores e salvos (o cozinheiro foi preso e, na China, condenado). Quirino Gabriel da Silva, que na época vendia peixes em Paranaguá, ajudou a resgatar o navio e é ele quem narra esta história. Sobre o navio, há uma exposição, durante este mês, na Casa Cecy, em Paranaguá.
É no fundo do oceano onde se encontra uma boa parte da história das navegações que passaram pelo Brasil, principalmente no período do Descobrimento e da ocupação do território nacional. Esses cemitérios arqueológicos intactos aos poucos são desvendados por arqueólogos que aderiram ao mergulho como uma forma de desvendar o que há nesse mundo submerso. Em Santa Catarina, foi recentemente descoberto um naufrágio de uma nau espanhola possivelmente de 1583. Ela trazia material (roupas, armas, munições e alimentos) para abastecer os colonizadores da região. "Os objetos encontrados mostram que se trata da nau La Provedora, que fazia parte de uma armada de 23 navios. Precisamos fazer mais escavações e investigar outros objetos para confirmar estas informações", afirma a arqueóloga Deisi Scunderlick Eloy de Farias, da Unisul, universidade parceira na pesquisa junto com a ONG Projeto Barra Sul.
Missão
A nau naufragada estaria abastecida com suprimentos capazes de manter 3 mil pessoas por cerca de 18 meses. O diário de bordo de Pedro Sarmiento de Gamboa, um dos comandantes da armada, narra que em La Provedora estariam embarcados 1,4 mil soldados e cerca de 300 pessoas entre padres, franciscanos, crianças, mulheres, ferreiros e carpinteiros saídos da Europa e que iriam se fixar na América do Sul.
Até agora, quatro artefatos foram retirados do fundo do mar. O mais curioso é uma lápide de cerca de 800 kg com entalhe de dois leões e dois castelos e um símbolo de cinco quinas que é usado na bandeira de Portugal. "Isso nos remete à era Filipina, quando Felipe II da Espanha assume os dois reinados [de León y Castilla]", diz o coordenador do Projeto da ONG Barra Sul, Bruno Gerner. Felipe II teria enviado a armada também com o objetivo de construir duas fortalezas no Estreito de Magalhães passagem entre os oceanos Pacífico e Atlântico para conter o avanço dos piratas ingleses.
Resgate
Nos próximos meses, a equipe pretende retirar da região pesquisada uma área submersa de 660 metros quadrados um canhão de bronze que pode ter sido usado para a proteção da nau. Já se estuda levar os objetos a um museu para, futuramente, expô-los em caráter permanente.
O litoral de Santa Catarina foi rota de várias expedições espanholas no século 16. Elas costumavam parar naquele estado porque era o último porto seguro (para quem seguia ao extremo sul) para conseguir água e comprar alimentos. Há duas hipóteses para o naufrágio do La Provedora: ela ter encalhado em um banco de areia ou ter batido no canal que precisa ser ultrapassado nas proximidades de Florianópolis, uma região complicada para navegação, porque é bem estreita.
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