Pesquisa
Brasileiro está insatisfeito com trabalho
A maioria dos brasileiros parece viver uma realidade distinta da dos funcionários que projetam seus sonhos no trabalho. Pesquisas de opinião realizadas por diferentes institutos mostram que boa parte dos brasileiros está insatisfeita com seu emprego.
No ano passado, a empresa de consultoria em gestão de talentos e carreira Right Management questionou cerca de 6 mil pessoas sobre a satisfação com o trabalho. Do total de entrevistados, 48% responderam estar infelizes. Em outra pesquisa, elaborada pela International Stress Management Association no Brasil, o índice de realização na vida profissional foi ainda menor: somente 24% dos entrevistados no país se disseram satisfeitos.
O Brasil se destaca negativamente na comparação com outros países. Em 2010, uma pesquisa feita pela Philips com mais de 30 mil pessoas de 23 países apontou que o brasileiro era o segundo mais insatisfeito com o emprego e o salário. O índice de insatisfação era liderado pelos japoneses. Já em Curitiba, o cenário é outro com relação ao rendimento. Um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas em janeiro de 2012 mostrou que 60% dos curitibanos estão total ou parcialmente satisfeitos com o salário atual.
Comportamento
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Levina, Silvana e Marisa veem no trabalho um significado a mais. Para elas, o emprego não se resume a remuneração e está longe de ser uma obrigação. É algo que fazem com prazer e que as coloca perto de um sonho: estudar na universidade, viajar de avião ou trabalhar com artes cênicas. Elas sabem que têm um caminho longo pela frente, mas, no dia a dia na universidade, no aeroporto e no cinema, sentem-se cada vez mais próximas da realização.
Silvana Cardoso do Rosário, de 34 anos, é encarregada da limpeza no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Trabalhando há quase quatro anos no aeroporto, ela sabe de cor onde ficam as companhias aéreas, já entrou várias vezes nas salas de embarque, ouve diariamente diferentes sotaques e vê o vaivém de passageiros com malas. Nos intervalos do trabalho, confere de longe o pouso e a decolagem dos aviões. E sonha: um dia ainda vai viajar de avião.
"No final do trabalho, compro um sorvete e fico olhando os aviões no pátio e imaginando que um dia eu vou viajar num daqueles", planeja Silvana. "Às vezes, quando estou entrando na sala de embarque, também fico na fila imaginando que um dia vou estar com minha malinha na mão", revela.
Silvana chegou perto do sonho em julho do ano passado, quando pretendia ir a Londrina, no Norte do Paraná, visitar parentes. Ela até comprou uma mala para viajar, mas parou para calcular o valor da passagem e, no final das contas, resolveu não ir. "A mala está guardada em cima do guarda-roupa, nunca usei." Enquanto isso, mantém a lembrança de quando viu um avião por dentro durante a limpeza da plataforma.
Já para o colega Antônio da Silveira, de 58 anos, que trabalha como servente de limpeza no aeroporto, a curiosidade era conhecer a sala de embarque. "Às vezes, a gente tem um sonho e pensa que nunca vai realizar, mas, de uma maneira ou de outra, a gente chega lá." Hoje, as salas são os locais de trabalho de Silveira, que nunca viajou de avião. Ele acha, porém, que não passará pela experiência tão cedo, já que a esposa tem medo de voar.
Os trabalhadores que sonham parecem não ter pressa. Responsável pela portaria de um dos prédios da Universidade Federal do Paraná, Levina Costa, 46 anos, sabe que, antes de realizar o sonho de entrar no ensino superior, terá um longo caminho nos estudos. "Estou terminando o ensino médio e devo concluir até outubro. Depois quero prestar um vestibular e fazer um cursinho para frente", afirma.
Um dos desejos de Levina é ser professora. O gosto pelos estudos vem das dificuldades vividas na infância, quando teve que parar de estudar aos 10 anos. Só conseguiu voltar à sala de aula aos 30. O contato diário com professores e alunos alimenta o sonho de Levina: "Vejo todo mundo aqui estudando e isso me dá mais força para continuar".
Escolha certeira
Já o sonho da operadora cinematográfica Marisa Pereira da Silva, de 47 anos, natural do Piauí, é alimentado pelas projeções na tela. Desde pequena, ela sonhava em ser atriz e seu primeiro emprego foi na portaria de um cinema, em Brasília. Depois de quatro meses, passou para a cabine de projeção. "Para mim, foi a realização porque eu não brilhava, mas fazia as pessoas brilharem", lembra.
Hoje ela trabalha na capital federal no último drive-in em funcionamento no país, no qual a plateia assiste ao filme de dentro do carro. A operadora ainda gostaria de ser atriz, mas acha que o "tempo está passando" e nesse percurso descobriu novas paixões. "É uma satisfação tremenda trabalhar no drive-in, sou apaixonada por isso", diz Marisa, que logo corre para retirar a fita do projetor, sem tirar seu sonho da tela.
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