O armazém da APM Terminais Brasil, que foi destruído por um incêndio na madrugada de quarta-feira, não tinha autorização para operar, de acordo com o Comandante do Corpo de Bombeiros de Paranaguá, no Litoral do Paraná, Capitão Siqueira. A empresa também não tem licença ambiental. Por isso o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) vai lavrar um auto de infração em um valor que ainda não foi calculado, além de pedir o reparo do dano ambiental. Dependendo da gravidade da situação a empresa pode até ser fechada. De acordo com o IAP, a empresa Compacta, locadora do armazém, já havia sido autuada outras duas vezes em 2005 por construção de armazém pré-moldado sem licenciamento, e em 2007 por lançamento de derivado de petróleo em área mangue.
A empresa também armazenava irregularmente 100 barris contendo produtos químicos para fabricação de fertilizante, que estavam em bombonas (frascos para guardar produtos químicos) que racharam e derreteram com o fogo, o que gerou o vazamento dos produtos para o mangue.
Composição
Um levantamento preliminar do IAP identificou que o líquido azul-esverdeado que está vazando para a região do mangue que dá acesso ao Rio Emboguaçu contém os seguintes produtos químicos: óxido de zinco 10%, etileno, glicol e hidróxido de potássio. Esses componentes podem gerar diversos tipos de reações químicas dependendo do ambiente, contato com a água e com o fogo. "Tudo depende da dosagem e da diluição. Um produto químico concentrado pode fazer um grande estrago", afirma a coordenadora do mestrado em Meio Ambiente Urbano e Industrial da Universidade Federal do Paraná, Margarete Casagrande Lass Erbe.
Todo produto químico industrializado é acompanhado de um documento, chamado Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico (FISPQ), em que há informações sobre características da substância e possíveis danos que pode causar.
De acordo com a FISPQ do produto IMPREG B/MN/ZN, produzido pela Yara Brasil Fertilizantes S.A, a densidade da substância é maior que a da água, realizando um processo de decantação do material. Segundo a professora Margarete, nesses casos, não é possível reter as substâncias apenas com barreiras físicas, como as boias usadas para retenção de óleo, por exemplo.
Luiz Afonso Rosário, da ONG Liga Brasil de Responsabilidade Sócio-Ambiental, diz que as boias não estão sendo suficientes e que, por isso, o produto já chegou ao mar. "Hoje começa a lua cheia, período em que a maré é mais forte, dessa forma esse líquido pode avançar rapidamente pela Baía de Paranaguá. A situação é temerária porque esses produtos químicos são nocivos e de alguma forma isso causa impacto ao meio ambiente".
Proprietária tenta conter vazamento
A empresa Brasmar informou que a Ecosorb, contratada por ela, trabalha na remoção do fertilizante dentro do armazém e realiza barreira para evitar derramamento em águas fluviais, bem como faz limpeza e barreira no mangue. De acordo com a Brasmar, "a maré encheu, o produto não se espalhou tanto, ajudando-nos na retenção deste junto ao leito do mangue". A Essencis/Polyvalente, outra contratada, também trabalha na remoção do fertilizante do armazém e na realocação do produto em um caminhão, para despejo apropriado.