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Chantagem social

Empresas revelam constrangimentos causados pela milícia Sleeping Giants

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As estratégias promovidas pela milícia digital Sleeping Giants não se dirigem somente a grandes empresas, mas também a pequenos negócios, sobre os quais a repercussão de uma campanha massiva de intimidação via redes sociais pode ter impacto comparativamente muito maior. Empresários que são anunciantes da Gazeta do Povo, que é alvo do grupo, e têm sido vítimas das investidas contaram, sob condição de anonimato, como a campanha de constrangimento público tem provocado receio em relação aos seus negócios.

Um desses proprietários, que decidiu manter seus anúncios na Gazeta do Povo, relata que já ouviu outros empresários reclamando da intimidação da milícia. “Uma coisa é os caras irem encher o saco de uma multinacional, uma marca muito mais renomada, mas, pelo que estou vendo, estão enchendo o saco de estabelecimentos de médio para pequeno porte, que precisam da Gazeta como um apoio para ajudar o negócio a crescer”, diz.

O empresário aponta a falta de sensibilidade em relação à pandemia da Covid-19, que trouxe enorme prejuízo a muitas pequenas empresas. “É estarrecedor que num ano de pandemia, com tanto negócio quebrando, tanto negócio pequeno falindo, esse pessoal venha tomar a iniciativa de encher o saco de estabelecimentos que estão lutando para sobreviver em um ano como esse, com esse tipo de tom meio ameaçador para cima de gente que só está trabalhando e querendo continuar a gerar empregos”, afirma. E ele não é o único.

O dono de um negócio com 20 funcionários diz que o posicionamento do Sleeping Giants “é contraditório e hipócrita”. “A forma como eles estão exigindo um posicionamento, fazendo terrorismo virtual, também é discurso de ódio”, diz.

O empresário diz que considerou infelizes as declarações de Rodrigo Constantino (leia o pedido de desculpas do colunista), motivo que levou o grupo a mirar suas armas contra o jornal mas que a milícia força uma relação direta entre essas falas e o posicionamento das empresas, para transmitir aos usuários a impressão de que são as próprias empresas que sustentam a opinião e, assim, coagi-las a tomar uma atitude. “É como se a gente não respeitasse as mulheres”, diz. “Agora eu não vou poder ter nenhuma relação com nenhuma empresa que tenha alguém que cometeu um deslize?”, questiona.

Temporariamente, segundo ele, será necessário retirar os anúncios da Gazeta do Povo, já que a repercussão da abordagem do Sleeping Giants está prejudicando a própria gestão da página da empresa em uma rede social. Ele afirma que o prejuízo com a retirada temporária dos anúncios é certo, mas a medida será necessária. “Eu não quero que minha página vire um campo de guerra político”, diz.

Outra empresa, que não foi abordada diretamente pela milícia, mas sofreu ataques de pessoas incentivadas pelas postagens do Sleeping Giants, define os usuários que praticam esses ataques como “haters” (“odiadores” em inglês) e diz que não vai retirar os anúncios por conta da pressão sofrida nas redes sociais.

“Recebemos mensagens privadas de pessoas que seguem a página. Houve nos comentários por parte de um usuário uma marcação da nossa página como sendo um dos anunciantes. Nós não respondemos aos comentários e seguimos anunciando com a Gazeta”, afirma a empresa. “Não compactuamos com nenhum tipo de discurso de ódio e lamentamos pela infelicidade da postura do colunista (Rodrigo Constantino), contudo confiamos na Gazeta e no seu posicionamento”, acrescenta.

A Gazeta do Povo também ouviu relatos de grandes anunciantes. Na condição de anonimato, eles relataram, em outras proporções, um cenário parecido. Contra a vontade, se veem obrigados a cancelar anúncios para deixarem de ser perseguidos pela milícia digital. Vale lembrar que o perfil oficial do Sleeping Giants é só o estopim da estratégia de chantagem social. Diretores, funcionários e até familiares são perseguidos por seguidores da milícia nas redes sociais.

“Não podemos permitir ameaça”

Camilo Turmina, presidente da Associação Comercial do Paraná, critica o caráter anônimo das intimidações às empresas. “Condenamos veementemente esse tipo de ameaça. Isso é um absurdo. Nós não podemos permitir uma ameaça frontal a empresários de alguém que fica nas sombras, se manifestando de forma oculta”, afirma.

Ele reclama que em plena crise enfrentada por conta da pandemia uma milícia como o Sleeping Giants atue para intimidar os empresários, criando um novo problema. “Já temos dificuldades de sobra. Agora vamos ficar recebendo ameaças do subsolo, de enrustidos, dos que estão nos bueiros? Eles que mostrem a cara. Temos a nossa Justiça, mas preferimos resolver os problemas olho no olho, às claras”, observa.

Em relação à Gazeta do Povo e seus colunistas, Turmina destaca que a diversidade de opiniões é algo que deve ser respeitado dentro de uma democracia. “De vez em quando eu vejo umas opiniões ali com as quais eu não concordo muito, mas faz parte. É a democracia. É um jornal aberto”, diz ele.

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