Duas funerárias de Curitiba estão lutando na Justiça para tentar derrubar as Ordens de Serviço assinadas pelo ex-diretor do Departamento de Serviços Especiais da prefeitura de Curitiba, Walmor Trentini, que liberaram as funerárias da capital da obrigatoriedade de passar pelo sorteio para realizar funerais fora da cidade. As funerárias Müller e Bom Jesus também pedem o fim da modalidade conhecida como "vez forçada" e querem o ressarcimento de valores referentes aos últimos quatro anos, quando outras empresas fizeram um número maior de serviços na modalidade chamada "controle".
Cada funerária pode utilizar a "vez forçada" quatro vezes por mês. A ideia é permitir que as empresas possam realizar funerais fora do rodízio para atender parentes, mas na prática outro tipo de serviço acaba acontecendo, como nos casos em que a reportagem da Gazeta do Povo foi alvo de tentativas de agenciamento.
"Entramos com essa ação para que seja cumprida a lei no que diz respeito à divisão equitativa dos serviços", afirma o representante legal da Funerária Müller, Valdir Santos. "Com a modalidade controle, está havendo uma enorme diferença no número de atendimentos. Entre agosto e dezembro de 2008, nossa funerária fez apenas três atendimentos dentro do controle, contra 503 da Vaticano." Santos também quer o fim da "vez forçada". "Se os serviços são tabelados pela prefeitura, não tem porque escolher uma ou outra funerária. A ideia da vez forçada foi mudando com o tempo."
Outro problema é em relação às placas da Central de Luto em frente ao Cemitério Municipal. Uma placa com a inscrição "Serviço Funerário de Curitiba" levaria a população ao erro, já que o Serviço Funerário Municipal, da prefeitura de Curitiba, tem um nome parecido. A placa do Serviço Funerário Municipal é menor e fica no Cemitério Municipal. Além disso, a Central de Luto oferece um estacionamento com a inscrição "Serviço Funerário de Curitiba".
Sem agenciamento
Procurado pela reportagem, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços Funerários do Paraná, Gélcio Schiebelbein, negou a existência de agenciamentos. "Se existe agenciamento, a prefeitura tem de punir a empresa", afirmou. "(A funerária) não pode abordar a família em hipótese alguma. Cabe uma reclamação de imediato."
Schiebelbein não soube informar por que determinadas empresas têm mais serviços que outras, apesar de o Decreto 1.597, de 2005, determinar a divisão equitativa. "Como eu vou dizer por que essa empresa atendeu mais, pode ser que mais famílias tenham procurado. Talvez invistam mais no serviço deles", disse. "Tem pessoas que reclamam, mas a própria empresa está fechada no momento (em que aparecem serviços)." Ao ser informado que a reportagem tinha sido alvo de tentativas de agenciamento e que funerárias teriam se recusado a fazer funerais israelitas, Schiebelbein classificou a situação como "desagradável". "Da maneira que essas pessoas fizeram e não quiseram atender, ficou muito desagradável."
Vaticano
A diretora da funerária Vaticano, Milena Cooper, disse que a empresa fez um número maior de serviços devido ao crematório que tem e aos convênios funerários. "Muitas pessoas batem na nossa porta e dizem que querem ser atentidas pela Vaticano", afirmou. "E temos clientes que possuem convênio, que é o plano funerário. Temos o plano há mais de dez anos e temos o crematório. Como fica na região metropolitana de Curitiba, não precisa passar necessariamente pela prefeitura. Isso acarreta mais funerais."