A carta de Einstein

Em outubro de 1939, chegou às mãos do então presidente americano, Franklin Roosevelt, uma carta assinada pelo físico Albert Einstein, em que esse alertava para a possibilidade de a Alemanha construir uma arma baseada na descoberta da fissão nuclear – e, por isso, os Estados Unidos deveriam investir em pesquisas sobre o tema. Descobriu-se anos depois que Einstein apenas assinou a carta e quem escreveu foram os físicos húngaros Léo Szilard e Eugene Wigner. Os dois teriam convencido Einstein a usar seu prestígio para fazer o assunto chegar até o presidente.

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Memorando Frisch-Peierls

Considerado o documento mais importante da gênese das armas nucleares, foi produzido na Inglaterra em 1940 por dois físicos refugiados da Alemanha nazista, Otto Frisch e Rudolf Peierls. No relatório, os cientistas afirmam que a pro­dução de uma bomba baseada na fissão nuclear do Urânio era possível mesmo com poucas quantidades des­se elemento. O memorando também descrevia os possí­veis efeitos da explosão e me­ca­­nismos de detonação. O memorando foi entregue para o governo britânico, que então criou uma comissão para analisar o estudo.

Relatório Smyth

Em 12 de agosto de 1945, três dias após o lançamento da bomba atômica sobre Na­ga­­sa­ki, o governo americano tor­nou público um documento com cerca de 200 páginas que fornecia informações básicas sobre o processo de produção das armas nucleares. Conhe­cido como Relatório Smyth, o documento foi encarado co­mo uma espécie de prestação de contas do governo, já que o Projeto Manhattan ha­via con­­su­­mido bilhões de dó­la­res. Pela primeira vez, o me­­ca­­nismo das bombas atô­­mi­cas deixava de ser um conhe­cimento restrito somente aos cientistas e físicos.

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219km²

Era a área total, equivalente a 20 mil campos de futebol, do complexo de Los Alamos, no deserto do Novo México, onde ocorreram os testes e a fabricação da bomba atômica, durante o Projeto Manhattan. Los Alamos recebia o urânio e plutônio provenientes de outros dois complexos: Oak Ridge, no estado do Tennessee, e Hanford, no estado de Washington.

16/07/1945

Foi a data da explosão da primeira bomba atômica, detonada em um experimento de teste do governo americano no deserto de Alamogordo, no Novo México. A bomba utilizava plutônio como combustível, que acabaria sendo usado no ataque à cidade japonesa de Nagasaki em 9 de agosto do mesmo ano.

60 quilos

Foi a quantidade de urânio enriquecido utilizado na bomba atômica lançada sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. A bomba explodiu a cerca de 580 metros do solo com uma potência equivalente a 13 mil toneladas de TNT, matando instantaneamente 80 mil pessoas – outras 60 mil morreram nas semanas posteriores devido à radiação.

Amado por tantos e temido por muitos outros, o jovem ditador norte-coreano Kim Jong-un tem procurado vencer no grito um conflito adormecido que se arrasta há décadas com a vizinha Coreia do Sul e o "inimigo supremo", os Estados Unidos. Nas últimas semanas, elevou o tom do discurso belicista e recorreu a uma ameaça que permanece vívida no imaginário popular mundial há quase 70 anos: a hipótese de uma guerra nuclear.

As chances de a Coreia do Norte ter a tecnologia ne­cessária para produzir e lançar uma bomba atômica são mínimas, conforme analistas. Por outro lado, o conhecimento sobre os mecanismos e "ingredientes" necessários para produzir o artefato não é impedimento. Pelo menos desde agosto de 1945, quando o governo americano tornou públicos, pela primeira vez, os detalhes de funcionamento e construção das então recém-produzidas (e testadas) armas atômicas. A partir de então, o que era um segredo restrito a cientistas e físicos virou alvo de estudo e leitura de jornalistas, leigos e acadêmicos das mais diversas áreas.

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A abundância de publicações que escancaram a utilização da fissão nuclear como armamento é o tema de um livro lançado neste mês pelo físico curitibano Dinis Gomes Traghetta, professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo. Em A Bomba Atômica Re­velada, o doutor em Física pela Universidade de São Paulo (USP) relembra as principais descobertas científicas que levaram à gênese das bombas atômicas e dos segredos presentes no interior do invólucro de aço dessas armas.

A publicação do físico curitibano ajuda a resgatar o imenso esforço empreendido na década de 1940 para levar a cabo hipóteses até então pouco fundamentadas – como a possibilidade de uma reação nuclear em cadeia gerar energia suficiente para destruir uma cidade inteira. Em apenas dois anos e meio, a construção de um artefato nuclear pelos Estados Unidos passou da teoria à prática, por meio do chamado Projeto Manhattan, instaurado formalmente pelo governo americano no final de 1942.

O pouco tempo despendido no projeto só foi possível devido a uma soma de recursos intelectuais e financeiros – justamente o que faltava à Inglaterra e Alemanha, os dois países que já tinham conhecimento da possibilidade da construção de uma "superbomba". De 1942 a 1945, o Projeto Manhattan consumiu o equivalente a 22 bilhões de dólares atuais e mobilizou quase 200 mil pessoas – entre elas, oito cientistas que já haviam recebido o Prêmio Nobel e outros 12 que seriam premiados com a mesma homenagem após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Corrida Bélica

Projeto migrou da Inglaterra para os

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A descoberta da fissão do núcleo do átomo foi feita na Alemanha em 1939 – até então, acreditava-se que o átomo era indivisível. "A empolgação a respeito da novidade justificava-se não somente pela quebra de um dogma científico, mas pelo fato de uma única fissão gerar dezenas de milhões de vezes mais energia do que uma reação química ordinária", reforça o físico curitibano Dinis Gomes Traghetta.

Os estudos para se construir uma arma de guerra baseada no princípio da fissão nuclear não foram para a frente na Alemanha devido, em parte, ao ceticismo do próprio Adolf Hitler. "Ele jamais ficou inteiramente convencido de que uma bomba atômica não iria desencadear uma reação em cadeia que poderia destruir todo o planeta", lembra o historiador Dennison de Oliveira.

Outro motivo era a falta de recursos, já que, na época, a Alemanha possuía um PIB que era menos de um terço do dos Estados Unidos. Do mesmo modo, apesar de a Inglaterra ter criado ainda em 1940 um comitê para estudar a viabilidade de se construir uma bomba atômica, o projeto migrou para o solo norte-americano devido à participação dos ingleses na Segunda Guerra: todos os recursos humanos e materiais do país estavam alocados para o conflito e as instalações necessárias para o projeto poderiam virar alvo fácil dos alemães.

De dentro das universidades, para o vazio dos desertos

O Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento das bombas atômicas norte-americanas no governo do presidente Franklin Roosevelt, começou tímido, com um orçamento de 6 mil dólares e pesquisas feitas em laboratórios de universidades, como as da Califórnia e Chicago. A partir de 1943, com o avanço dos estudos, os trabalhos migraram para três imensos espaços "no meio do nada", nos estados do Nova México, Washington e Tennesse.

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O sítio de Los Alamos, no deserto do Novo México, passou a receber o urânio enriquecido e o plutônio necessários para a fabricação das bombas atômicas – as quantidades exigidas destes dois combustíveis só foi obtida a poucos meses da montagem das bombas, em 1945.

O ataque nuclear a Hiroshima e Nagasaki, nos dias 6 e 9 de agosto daquele ano, permanece como um dos episódios mais controversos da história mundial recente. Além de ser cercado de mitos – o principal, de que as bombas foram as responsáveis diretas pela rendição do Japão e, consequentemente, o fim da Segunda Guerra.

"O episódio que de fato levou o Japão a se render foi a declaração de guerra da URSS contra o país em 9 de agosto de 1945. O vexame de ver seu exército de 1 milhão e 200 mil homens que mantinha na China ser derrotado tão rapidamente pelos russos (após a declaração de guerra) levou os japoneses a subscreverem a versão dos Estados Unidos de que teriam sido derrotados pelos ataques atômicos", lembra o historiador e professor do Departamento de História da UFPR Dennison de Oliveira.