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Conquista

Engenheira do PR é a 1.ª mestre com deficiência visual do país

Géssica teve de vencer obstáculos para concluir a pós-graduação. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Géssica teve de vencer obstáculos para concluir a pós-graduação. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Géssica Michelle dos Santos Pereira, 29 anos, ainda estava na faculdade quando um glaucoma tirou os 30% de visão que ainda lhe restavam. Após um ano de licença médica, levou mais quatro para concluir o curso de Engenharia Elétrica. Na última sexta-feira (7), ela se tornou a primeira engenheira eletricista com deficiência visual do país a concluir o mestrado.

Em sua dissertação na pós-graduação de Engenharia Elétrica da UFPR, Géssica avaliou formas de aumentar a eficiência da energia entregue na casa das pessoas, ao menor custo possível para a empresa e para os consumidores.

O desafio começou antes mesmo da matrícula, quando Géssica passou um ano cursando disciplinas isoladas. Simultaneamente, trabalhava oito horas por dia na Copel. Depois, já aprovada para fazer a pós, teve de driblar as dificuldades para pesquisar fórmulas e gráficos para seus estudos, que normalmente estão em formato de figuras no computador. E os programas que traduzem textos para a linguagem sonora não reconhecem as formas gráficas.

O resultado foi que a turma toda se dividiu para ler em voz alta e gravar a descrição de cada gráfico, cada tabela estudada. Uma bolsista do programa chegou a ler uma dissertação inteira, que era crucial para a continuidade da pesquisa. “Só de colegas me ajudando eu conto de 20 a 30 pessoas”, conta Géssica.

Sensibilidade

Fazer as pessoas em seu entorno atentarem para a questão da acessibilidade tem sido uma regra na vida da jovem engenheira. Assim como ocorreu na universidade, ela conseguiu sensibilizar os colegas do antigo emprego e do Lactec, onde trabalha atualmente, que se mobilizaram para adaptar os ambientes às necessidades de Géssica – entre elas uma versão em braille nas placas indicativas das salas de trabalho.

Graduação

Géssica cursou a graduação no antigo Cefet-PR, hoje Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Ela ainda enxergava quando ingressou no curso, em 2003. Foi pioneira em tudo, e suas “políticas de acessibilidade” vieram antes até do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (Napne) ser fundado na instituição.

Uma tríade de professores sentou para elaborar uma estratégia quando ela voltou, em 2006, da cirurgia que tirou sua visão. Ficou definido que ela faria três disciplinas. “O plano era o seguinte: se eu conseguisse passar nestas matérias, então eu teria condições de fazer o curso”, revela. Com bastante esforço, Géssica conseguiu.

A faculdade fez contato com o Instituto de Cegos do Paraná, com a Secretaria de Estado da Educação (Seed) e trouxe o professor Rubens Ferronato, de Cascavel, para um workshop. Ferronato é o inventor do “multiplano”, dispositivo criado para possibilitar que pessoas com deficiência visual façam análises gráficas.

O tal dispositivo é uma espécie de chapa com diversos furos onde é possível colocar tachas e elásticos para formar gráficos. A própria UTFPR adquiriu multiplanos de vários tamanhos.

Por sorte ou azar, a engenheira encontrou apenas um professor que foi sua “pedra no sapato”. Ela conta que reprovou duas vezes na disciplina do docente, que, segundo ela, fazia questão de só passar o conteúdo em formato impresso.

“Ele simplesmente não aceitava minha presença em sala de aula. Teve até ocasiões em que eu dizia que não tinha entendido, e ele respondia ‘está no quadro, é só bater o olho’”.

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