Grupos privados de educação superior estão modificando a grade curricular das graduações para oferecer disciplinas a distância em cursos presenciais. A mudança, permitida pelo Ministério da Educação (MEC), preocupa professores, que temem o enxugamento do quadro docente e a diminuição das remunerações. Em Curitiba, pelo menos duas instituições de ensino ofertam aulas em ambiente digital nos cursos presenciais: a Universidade Positivo (UP) e o Centro Universitário Uninter.
Uma portaria publicada em 2004 pelo MEC (nº 4.059) permite que até 20% da carga horária total de uma graduação presencial seja ministrada com atividades a distância, desde que o curso seja reconhecido pelo ministério. É possível ofertar uma disciplina inteira em ambiente digital ou apenas parte dela. A diretora da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Rita Tárcia, explica que o objetivo é estimular o surgimento de programas de ensino a distância no país. “Muitas instituições construíram sua história no ensino presencial e a portaria favorece a formação de um modelo, de uma proposta pedagógica para a educação a distância”, diz.
A oferta de parte da carga horária em ambiente virtual já é realidade em todo o Brasil. Segundo o Censo Ead da Abed, havia, em 2013, quase 126 mil matrículas em cursos superiores ofertados de forma semipresencial no país, tanto em instituições públicas quanto em particulares. O modelo, porém, foi abraçado com mais entusiasmo pelos grupos privados de educação, afirma Rita.
Na avaliação de professores ouvidos pela reportagem, a modalidade é utilizada para diminuir gastos, uma vez que permite a manutenção de turmas com muitos estudantes e o uso da mesma aula várias vezes. “Nessa modalidade, a instituição remunera o professor uma única vez, para que elabore o material didático ou grave uma aula. É diferente do professor que ganha o semestre todo para dar aulas presenciais”, diz um docente do Uninter que prefere não se identificar.
Professores do centro universitário afirmam terem sido convocados a preparar aulas a distância das disciplinas que ministram e temem que os cursos deixem de ser dados em sala de aula. A possibilidade é descartada pelo reitor do grupo, Benhur Gaio.
Outra crítica do corpo docente é que professores que atuam em disciplinas a distância são desvalorizados e recebem bem menos pela hora-aula. Em um curso a distância, há a função dos professores que preparam a aula e os materiais de apoio e a função do tutor, também desempenhada por um docente. É ele quem tira as dúvidas dos alunos nas aulas virtuais.
Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes), Valdyr Arnaldo Perrini, tutores da Universidade Positivo recebem no máximo R$ 26 pela hora-aula, enquanto professores presenciais com mestrado ganham R$ 50.
“O professor tutor acompanha a turma e precisa ter conhecimento da disciplina. Se o professor só precisasse corrigir trabalho, tudo bem, mas o que a universidade pede é uma tutoria pró-ativa, que o professor pesquise materiais e artigos para enviar aos alunos e que sugira atividades para a turma de acordo com as principais dificuldades”, conta um professor.
De acordo com o pró-reitor acadêmico da Positivo, Carlos Longo, a remuneração varia conforme a complexidade do trabalho e a titulação do professor.