O ensino privado do Paraná está entre os melhores do país. É o que aponta o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011, divulgado na terça-feira pelo Ministério da Educação (MEC). Levando em conta somente o ensino médio das particulares, o estado manteve o índice de 2009, 6,1 pontos, o melhor resultado entre as unidades da federação, juntamente com Minas Gerais.
Com relação aos anos iniciais do ensino fundamental, o estado obteve uma nota ainda maior. Entre as turmas de 5.º ano das escolas particulares, a média passou de 6,8 para 7,0, empatando com São Paulo no terceiro lugar e ficando atrás apenas de Minas Gerais (7,4), Espírito Santo e Santa Catarina (7,1 cada).
Para o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR), Ademar Batista Pereira, esse resultado passa pelo trabalho realizado com os professores. "As escolas têm focado os esforços na melhoria do trabalho do docente, investindo constantemente na capacitação dos profissionais", avalia.
Estagnação
Mesmo com as melhores notas do país, porém, o cenário paranaense não é tão bem avaliado por alguns profissionais da área, já que o Ideb também aponta uma estagnação na evolução dos índices educacionais. A nota do ensino médio privado do Paraná, por exemplo, é a mesma desde 2007, quando o estado atingiu a meta para o ano de 2011.
Já nos anos finais do ensino fundamental, a média paranaense terceira melhor do país acabou caindo de 6,5 para 6,3, abaixo da meta projetada para o ano passado, que é de 6,5. "Podem ser notas superiores às de outros estados, mas não deixam de ser índices baixos", avalia o consultor educacional Renato Casagrande.
Segundo o presidente do Sinepe, os estudantes das escolas privadas não estão acostumados com o tipo de prova aplicado nas avaliações do MEC. "Eles sabem o conteúdo, mas a forma como a pergunta é feita na prova engana o aluno que não tem contato com esse tipo de avaliação. Já nas escolas públicas os alunos são treinados para esse tipo de prova, o que não quer dizer que o ensino tenha melhorado", afirma.
Para a diretora pedagógica de Educação a Distância do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Gislene Mioto, o baixo ritmo de evolução no Ideb se deve à metodologia de ensino utilizada em boa parte dos colégios. "Muitas vezes, a escola trabalha o conteúdo científico proposto pelo MEC, mas a metodologia não leva a criança ao desenvolvimento de habilidades. Os alunos apenas memorizam informação, não elaboram hipóteses".
Ainda de acordo com Gislene, muitas instituições de ensino básico não conseguem fazer uma análise mais apurada dos indicadores apresentados pelo Ideb. "Enquanto a escola não fizer essa analise de maneira adequada, talvez não vamos ter esse ganho qualitativo na educação do Brasil", explicou a pedagoga.
MEC estuda reformulação do ensino médio
De maneira geral, as notas obtidas pelos estudantes do ensino médio mostram que não houve grandes avanços em todo o país. Embora tenham cumprido a meta para 2011, as instituições públicas tiveram a média 3,4 no Ideb, mesmo desempenho de 2009. Já a média nacional das escolas particulares foi de 5,7, inferior à meta de 5,8.
Diante do cenário, o Ministério da Educação (MEC) pretende modernizar o currículo do ensino médio, propondo a integração das diversas disciplinas em grandes áreas. Pela proposta, inspirada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as atuais 13 disciplinas obrigatórias serão distribuídas em apenas quatro áreas: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagem e Matemática.
Na avaliação do secretário de Educação Básica do MEC, César Callegari, o currículo que vem sendo utilizado é muito inchado e prejudica a aprendizagem. "O que tem de ficar claro é que não estamos propondo a eliminação de disciplinas, mas a integração articulada dos componentes curriculares do ensino médio nas quatro áreas", afirmou em entrevista à Agência Brasil.
Para a coordenadora pedagógica do Cursinho da Poli (projeto que surgiu dentro da Universidade de São Paulo), Alessandra Venturi, a integração de disciplinas facilita o aprendizado e o interesse do aluno pela escola. Ela lembra que o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) aponta que 38% dos estudantes do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita. "A escola não tem cumprido o seu papel de formação básica. A prova de que o estudante não vê sentido na educação que recebe reside no fato de que o maior índice de evasão escolar ocorre no ensino médio, quando o adolescente escolhe outras atividades em detrimento da escola", afirma.