Em Flor da Serra do Sul, município com 4,7 mil habitantes no Sudoeste do Paraná, não tem hotel, mas há, atualmente, a oferta de sete cursos universitários. Cursar uma graduação fora dos grandes centros passou a ser uma realidade com o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), criado pelo governo federal em 2006, que financia educação a distância (EAD) em todo o país.
No Paraná, as universidades estaduais são parceiras, produzindo o conteúdo e contratando tutores para atuar nos polos, como o de Flor da Serra. As prefeituras cedem a estrutura e funcionários para coordenação. A UAB tem hoje 12 mil estudantes matriculados no Paraná e já formou 23,7 mil, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“Já me formei em Administração e agora vou começar outro [curso], de Pedagogia”, conta Neusa Valente da Silva, 36 anos, funcionária pública municipal. Ela diz que não quer ficar parada e, após quatro anos de graduação, está pronta para reiniciar os estudos.
Essa disposição, porém, não é tão comum entre os demais estudantes. Havia 50 alunos na turma de Administração de Neusa, mas apenas 8 se formaram.
“A maioria acha que por ser curso a distância vai ser mais fácil, mas não é nada disso. Não há o contato com o professor diariamente, mas há atividades a serem feitas todo dia e muita leitura”, relata.
A baixa taxa de conclusão é uma realidade na graduação a distância. O Censo do Ensino Superior de 2013 indica a existência de 105 polos de Ensino Superior público no Paraná, nos quais se inscreveram 7,6 mil pessoas. Os dados, porém, indicam que o número de concluintes foi baixo: apenas 2,3 mil, ou 31%. Mesmo assim, a existência de um polo da UAB – onde os estudantes precisam assistir a uma aula semanalmente e realizar provas a cada 15 dias – é motivo de celebração.
“É muito bom para nós, os moradores de municípios vizinhos vêm para cá, movimentam a cidade, o comércio. E temos professores formados aqui mesmo, sem ter de sair da cidade”, diz a prefeita de Flor da Serra, Lucinda Rosa.
No município há atualmente cursos da UEM, da UEPG e da Unicentro.
Para a historiadora Maria Luisa Furlan Costa, diretora do Núcleo de Educação a Distância (Nead) da UEM, os polos ajudam no desenvolvimento dos pequenos municípios.
“Além de democratizar o acesso ao ensino superior, a EAD favorece a integração da universidade com o interior e é um dos motores do desenvolvimento regional, elevando a escolaridade, levando cursos de extensão, contribuindo no comércio local”, afirma.
Dificuldades
Segundo Maria Luisa, a formação do profissional no EAD é a mesma da graduação presencial. “Ainda há uma alta evasão justamente por isso. Há um mito de que a distância seria mais fácil, mas é exatamente o contrário. É preciso muita dedicação para estudar por conta própria”, acrescenta.
A UAB, assim como as demais ações do governo federal, também sofre riscos com o ajuste fiscal e há uma campanha on-line pedindo apoio à manutenção do programa.
Segundo o Portal da Transparência do governo federal, em 2014 foram repassados R$ 7,2 milhões para a ação Universidade Aberta e a Distância. Em 2015, foram apenas R$ 367,8 mil até outubro. A Capes informa que esses dados não se referem ao programa UAB, e que a previsão de recursos para 2016, R$ 384, 2 milhões, é suficiente para manter o atual nível de atividades da UAB.