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Ensino superior público oferta poucas vagas para quem trabalha

Veja no infográfico a comparação entre 2010 e 2011 das vagas no período noturno |
Veja no infográfico a comparação entre 2010 e 2011 das vagas no período noturno (Foto: )
Juliana Conrado trabalha oito horas por dia como recepcionista em uma emissora de rádio e faz Direito à noite em uma faculdade particular: rotina puxada |

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Juliana Conrado trabalha oito horas por dia como recepcionista em uma emissora de rádio e faz Direito à noite em uma faculdade particular: rotina puxada

A evolução nas taxas de matrículas do ensino superior mostra que as instituições públicas ainda não se adaptaram para receber estudantes que são obrigados a conciliar estudos e trabalho. Apesar de 63% dos quase 5,5 milhões de vagas serem destinadas ao período noturno em todo o Brasil, segundo o Censo da Educação Superior de 2010, a maioria delas se concentra nas particulares. No ano passado, os cursos noturnos da rede federal respondiam por 28% do total de vagas, contra 25% registrado em 2001.

Embora o Ministério da Educação tenha lançado em 2007 um programa que incentiva as universidades federais a criarem cursos noturnos, o aumento na oferta não foi suficiente para que essas vagas ultrapassem 30% do total. O Programa de Apoio a Planos de Reestrutu­ração e Expansão das Universidades Federais (Reuni) amplia os repasses para as instituições que se comprometerem a cumprir uma série de metas, entre elas a ampliação das graduações ofertadas à noite.

Na esfera estadual, a proporção ficou praticamente estável neste período, com 46%. Já na rede privada, a participação dos cursos noturnos cresceu e já passa da casa dos 70%, contra 67% registrado há dez anos.

No Paraná, os dados do Censo revelam situação semelhante ao registrado em todo o país. Quase 80% das mais de 335 mil vagas em instituições privadas são destinadas ao período noturno. Já na rede estadual, o índice é 51% e na federal, 36%.

Exclusão social

O reduzido índice de oferta de vagas em cursos noturnos caminha lado a lado com a exclusão social. "O pessoal que estuda à noite e trabalha durante o dia faz isso porque precisa. Quando não se abre vaga para o período noturno, excluem-se totalmente os trabalhadores do sistema público", salienta o doutor em Educação e pesquisador do tema Armando Terribili Filho.

Ele aponta ainda outra dificuldade de quem é obrigado a cursar o ensino superior no período da noite. "A maioria dessas pessoas acaba usando o dinheiro que ganha com o trabalho para ajudar a pagar o curso e para o próprio custeio. Se o aluno estudasse de forma gratuita, em universidade pública, o dinheiro poderia se reverter em compras de livros", destaca.

De acordo com o doutor em Educação e professor da Universidade de São Paulo (USP) José Marcelino Pinto, muitas vezes a pessoa que deseja um diploma universitário se vê obrigada a ingressar em uma instituição particular. Além da ampliação de vagas para o período noturno, José Marcelino afirma que uma das alternativas seria ampliar o número de bolsas aos estudantes. "Dessa forma, eles poderiam se dedicar exclusivamente aos estudos. Mas, como isso não existe, as faculdades particulares se aproveitam do nicho e ofertam a maioria dos cursos à noite", diz.

O presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Paulo Speller, refuta a ideia de que as instituições públicas não estão preparadas para abrigar estudantes-trabalhadores. De acordo com ele, está ocorrendo um aumento gradativo de cursos noturnos na rede pública. "Mas muitos cursos exigem período integral. A lógica dos cursos de instituição pública, principalmente nas federais, se concentra em grupos de pesquisas e projetos de extensão, não permitindo que a graduação seja ofertada apenas em um período", afirma.

Desistência é menor entre as mulheres

Na última década, as mulheres foram maioria no ensino superior em todo o Brasil, tanto na esfera pública quanto na privada. Em 2001, 56% de um total de mais de 3 milhões de matrículas eram de pessoas do sexo feminino. No ano passado, segundo o Censo da Educação Superior de 2010, 57% dos quase 5 milhões de matriculados eram mulheres.

Paralelamente a esse fenômeno, o levantamento mostra que o índice de conclusão de cursos também é maior entre as mulheres. Em 2001, 62% dos formandos eram do sexo feminino e no ano passado foram 61%.

Mas, segundo o presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, Paulo Speller, não há uma explicação para o fato. De acordo com ele, essa é uma tendência que acontece em todo o mundo ocidental. "Não há uma explicação pronta para esses números. O que percebemos é que realmente mais mulheres fazem curso superior e a maioria delas se forma", afirma.

Tendência mundial

De acordo com Speller, somente em países orientais, principalmente naqueles onde existe preconceito contra as mulheres, é que os homens são a maioria da população com curso superior. "Nos demais países, como os da Europa e América, as mulheres já conquistaram seu espaço e estão procurando se aperfeiçoar profissionalmente. Não há resistência para as mulheres fazerem um curso superior. Não é um fenômeno brasileiro apenas, mas mundial", ressalta Speller.

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