Pais têm dificuldades para deixar e buscar os filhos

Dentro das estatísticas de atropelamento que as próprias escolas guardam, há também um dado que acaba contribuindo para os acidentes: grande parte dos pais não tem tempo ou carro para ir buscar seus filhos, pelo menos no que se refere a escolas municipais e estaduais.

A diarista Elenice Ribeiro conta com a ajuda de sua chefe para pegar Cinara Kelly Rodrigues, de 8 anos, e Gean Mendes Rodrigues, de 11 anos. "Trabalho na casa da patroa e ela vem comigo buscar meus filhos sempre que possível. Eu sou uma privilegiada perto dos outros pais, que também são trabalhadores, mas não podem vir aqui", diz.

Para Rosana Búfalo da Silva Kagawa, mãe de Jonatham da Silva Alves, de 9 anos, a única alternativa para evitar acidentes é buscar seu filho dentro da escola. "Estaciono o carro e vou pessoalmente pegá-lo no pátio da escola. É a forma encontrada para deixá-lo totalmente seguro."

Um monitor de trânsito em frente ao colégio, segundo Rosana, seria uma excelente alternativa para organizar a saída dos alunos e também a fila de carros que se forma ao longo da via. "Hoje venho depois de 20 minutos do término das aulas, porque o tráfego de veículos é menor e, assim, eu consigo estacionar com tranqüilidade."

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Monitores devem ter treinamento sobre trânsito

Como grande parte das escolas tenta evitar atropelamentos contratando um monitor de trânsito, é importante saber que a regra é geral para todos os colégios, sejam eles particulares, municipais ou estaduais. Qualquer monitor que trabalhar com orientação de trânsito deve primeiro passar por um curso oferecido pelo Núcleo de Educação e Cidadania da Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran), que ensina os procedimentos corretos e necessários para que a travessia dos alunos seja feita de maneira segura.

Segundo a chefe do Núcleo, Maura Moro, antes da escola receber a autorização para capacitar seus monitores, ela precisa estar enquadrada no projeto Operação Escola. "É a partir deste projeto que delimitamos as condições e características da via onde o colégio está situado. É importante lembrar que cada uma precisa de uma análise diferenciada. Definimos, por exemplo, como os cones poderão ser colocados na rua para que os pais possam parar o carro", diz. Depois disso, é que os funcionários são indicados ao curso de monitoramento.

As escolas particulares são as responsáveis por contratar o monitor e encaminhá-lo para o curso. Já nas municipais, quem orienta os alunos são os agentes da Guarda Municipal, que também recebem instruções.

De acordo com informações do Núcleo Regional de Educação de Curitiba, os colégios estaduais que necessitam de monitores de trânsito devem escolher dentro da própria escola uma pessoa adequada para realizar este serviço e, assim, encaminhá-la ao curso do Diretran.

Serviço: Os pedidos de autorização para a Operação Escola e também orientações sobre os modelos do uniforme dos monitores devem ser feitos à Diretran pelo telefone (41) 3320-3011. Já o treinamento dos monitores deve ser solicitado pelo telefone (41) 3320-3429. Os serviços são gratuitos.

A chegada ou saída dos alunos em algumas escolas públicas de Curitiba se transformou em uma operação de risco. Isso porque é no entra-e-sai do portão que as crianças ficam mais vulneráveis à violência do trânsito. Embora os órgãos responsáveis (BPTran, Diretran e Detran) não tenham dados específicos sobre atropelamentos nas proximidades de escolas, não é difícil concluir que a incidência é alta. Basta ficar alguns minutos em frente a um colégio antes e depois das aulas para perceber que os riscos de acidente no trânsito são grandes.

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A vice-diretora do Colégio Estadual Pedro Macedo, Raquel Locatelli Pinheiro, conta que uma aluna foi atropelada há 15 dias. "O acidente aconteceu a uma quadra daqui. Nós temos um ponto de ônibus em frente à escola, mas como está sempre lotado, ela preferiu andar até o próximo tubo. Enquanto caminhava no calçamento em declive, ela escorregou e acabou sendo pega por um carro. A sorte é que o motorista estava devagar", diz.

A localização de algumas escolas, nestes casos, conta muito para agravar os acidentes. Tanto a Pedro Macedo como o vizinho Colégio Municipal Presidente Pedrosa estão situados na Avenida República Argentina, no Portão. "Aqui é um caos. Nós liberamos em torno de 1,4 mil alunos por turno, somados aos 400 estudantes, em média, que também saem da escola ao lado", afirma Raquel.

Além do acúmulo de alunos que disputam espaço nas estreitas calçadas, atualmente um dos passeios está sendo reformado. "A realidade assusta, isso porque a maioria dos nossos estudantes vai embora de ônibus ou a pé, já que os pais não podem vir buscar. Aí são três vias perigosas que eles precisam atravessar (sendo uma delas a canaleta do ônibus), sem orientação dos agentes de trânsito", afirma.

Binário

No Colégio Estadual Homero Baptista de Barros, no Capão Raso, a diretora Taís Vengue Goy conta que a tranqüilidade foi embora assim que a rua paralela à escola passou a fazer parte do binário da Avenida Brasília. "A rua mudou radicalmente de perfil, já que virou mão única e rápida sentido Xaxim. Até agora não tivemos alunos atropelados porque os próprios funcionários se revesam para ajudar na saída. Mas um menino, que mora ao lado da escola, já foi atropelado após as mudanças. Também houve um acidente de moto, envolvendo uma moça", conta.

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Como os alunos também costumam ir embora a pé, pelo fato de morarem nas proximidades do colégio, Taís explica que entregou um abaixo-assinado à prefeitura pedindo para que instalem pelo menos um semáforo no cruzamento das ruas José Gomes de Abreu e Fernandes Vieira. "Hoje há policiais que orientam o trânsito por causa do binário. Mas e depois que eles forem embora? Nossos estudantes do turno da tarde têm em média 8 anos e, grande parte, não consegue atravessar a via sem ajuda", relata.

Outra escola situada na Rua José Gomes de Abreu também teve de se adaptar ao movimento. "Como temos um terreno grande, abrimos mão de criar um pátio de lazer para que os pais possam entrar com os carros no local e pegar seus filhos com segurança. Ainda não contratamos um monitor de trânsito para ajudar porque temos 80 alunos", explica a diretora do Centro de Educação Infantil Maria Chica, Edna de Cássia Santos.

O Colégio Estadual Hildebrando de Araújo, no Jardim Botânico, também é outro exemplo de escola que tem enfrentado diariamente o grande fluxo de carros. "Além de estarmos ilhados entre duas ruas movimentadas, estamos situados logo após uma curva. Ou seja, os carros que vêm do Centro sentido litoral passam por aqui muito rápido sem saber que por trás da falta de visibilidade pode estar um aluno no meio da rua", explica o diretor Osvaldo Alves de Araújo.

No ano passado, a escola contabilizou dois atropelamentos. "Um deles foi quando o semáforo estava fechado. O aluno não teve culpa, mas como os motoristas estão sempre com pressa, acabam cometendo diversas infrações de trânsito. Nos dias que antecedem a feriado, o movimento chega a triplicar por causa dos carros que descem para o litoral", explica. Na via em frente à escola, a Rua Professor Omar Sabbag, não há sinalizações adequadas para orientar os motoristas e o semáforo dos pedestres atualmente não funciona.

Soluções

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Algumas escolas decidiram por conta própria criar alternativas que minimizem os acidentes. A Pedro Macedo e a Presidente Pedrosa, por exemplo, liberam os alunos em horários diferenciados para tentar controlar o fluxo de pedestres. "Nós também permitimos às vans que fiquem dentro do próprio pátio da escola para evitar que estes alunos cheguem até a rua", conta a vice-diretora Raquel.

Um ônibus com itinerário definido leva os estudantes do Pedro Macedo para alguns bairros da cidade. "Foi uma parceria entre a escola e a Secretaria de Educação", conta Raquel. Outros colégios resolveram nomear alguns funcionários que orientam os alunos no horário de saída.