Paris, Rio e São Paulo - Parentes dos passageiros do voo AF 447 estavam ontem entre a esperança e a incredulidade no resgate, enquanto aguardavam informações em um hotel do Rio.
Diana Raquel, mãe do dentista José Ronnel Amorim, contou que o filho completou 35 anos no dia do acidente: "O mais triste é que ele morreu no dia do aniversário, disse, assumindo não ter mais esperanças. Osvaldo Seba, pai da psicóloga Luciana Seba, era mais esperançoso ao comentar a situação da filha, que viajara em férias com o marido, o empresário Paulo Valle Brito, e com os sogros, Maria de Fátima e Francisco Eudes Mesquita Valle, diretor da transportadora de combustíveis TLW. "Se Deus quiser, esperamos [que ela seja localizada]. Tenho esperança, muita esperança, vamos aguardar, afirmou. Familiares doaram amostras de DNA em Paris para possíveis análises de corpos.
Lista
A Air France disse não ter autorização legal para divulgar a lista com os nomes dos passageiros do voo AF 447. Só autoridades em nível federal na França ou no Brasil, por exemplo poderiam fazê-lo, segundo a companhia. A regra de confidencialidade também vale para os funcionários da companhia aérea.
Engano
Um advogado, chamado Gustavo Henrique Brito dos Santos, de 33 anos, não estava no voo 447,embora seu nome constasse na lista de "brasileiros desaparecidos" distribuída na noite de segunda-feira pela Agência Estado e publicada na Gazeta do Povo. Ele relatou que logo no começo do dia recebeu ligações de familiares querendo saber o que havia ocorrido. "Agora está mais tranquilo, mas no começo do dia foi uma confusão", disse.
* * * * *
HISTÓRIAS
Lua de mel
Após pouco mais de quatro anos de namoro, Bianca Machado Cotta, 25, médica recém-formada, e Carlos Eduardo Macário de Melo, advogado, partiram no voo 447, para a tão sonhada lua de mel em Paris. O casamento reuniu mais de 500 pessoas no Iate Clube Icaraí, em Niterói, no sábado. Segunda-feira, segundo uma pessoa próxima à família, o pai, o renomado pesquisador da Coppe/UFRJ Renato Cotta, teria passado todo o dia em casa, quase sem sair do computador. Buscava em mapas na internet localizar ilhas próximas de onde o avião teria desaparecido: a esperança era achar algum ponto que pudesse ter servido para um pouso de emergência. "É difícil acreditar. A Bianca tinha acabado de ter uma festa de casamento dos sonhos" disse um amigo.
O cientista e sua família
Responsável pelo primeiro transplante de pele realizado no Rio Grande do Sul, o cirurgião plástico e professor universitário Roberto Corrêa Chem, 66, embarcou a passeio pela Grécia e Turquia. Com ele, foram a mulher, a psicóloga e psicanalista Vera Chem, 63, e a filha, a executiva Letícia Chem, 36, gerente de roaming internacional da Oi.
De acordo com o cirurgião plástico Eduardo Chem, 38, filho do casal, os pais partiram de Porto Alegre ao Rio de Janeiro no início da tarde de domingo. Na capital fluminense, eles encontraram a filha, que trabalha na cidade, antes do embarcar no voo da Air France. Roberto Chem ocupa o cargo de diretor do Banco de Tecidos Humanos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e chefia o Serviço de Cirurgia Plástica do hospital, onde trabalha desde os anos 70. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador da Comissão de Regulamentação de Bancos de Tecidos e Células-Tronco da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Chem também integra uma equipe de pesquisa sobre o uso de nanotecnologia para a produção de pele usando células-tronco.
Harpista
De acordo com o jornal turco Hurryet, também estava no avião da Air France a harpista profissional Fatma Ceren Necipoglu, uma dos expoentes da música clássica da Turquia e professora da Universidade da Anatólia, a principal do país.
Ela tinha 37 anos e já havia realizado mais de 60 concertos em todo o mundo. A publicação afirma que Fatma veio ao Rio para a realização do 4º Festival de Harpa do Rio e iria retornar rapidamente ao seu país, pois esta é a temporada de exames finais na universidade. Ela faria escala em Paris e, então, embarcaria para Ancara.
Aniversariante
O dentista brasileiro José Ronnel Amorim, 35 anos, veio ao Brasil para comemorar seu aniversário de 35 anos, no domingo, com os pais. Ele estava acompanhado da mulher, a francesa Isis. Nascido no Ceará, Amorim morava em Londres desde que fez curso de especialização em Portugal para exercer a profissão na Europa. Antes de embarcar, ele passou uns dias na casa dos pais, em Niterói. Segundo uma funcionária da casa de Diana Raquel, mãe de Amorim, ela está no hotel onde a Air France centralizou o atendimento aos familiares dos passageiros. Uma irmã de Diana, Dejane Barreto, veio de João Pessoa (PB) para dar auxílio a Diana.
Tripulante
O único tripulante brasileiro do voo 447 da Air France, Lucas Gagliano Jucá, 24, tinha vindo ao Brasil para o enterro do seu pai. Jucá passou duas semanas no país com a família e estava retornando para Paris, na França, onde mora. "O Lucas era apaixonado pela aviação, disse Jorge Luís, tio de Jucá. De acordo com o tio do comissário, a mãe dele está em estado de choque. Em um site de relacionamento na internet, Lucas diz a uma prima que está se recuperando da perda de seu pai, mas que a sua mãe precisava de ajuda para superar a situação. "Já encontraram poltrona e destroços, mas a gente ainda tem esperança. Esperamos que tudo dê certo, afirmou Bruna, prima do tripulante.
Família sueca
O desaparecimento do voo 447 separou uma família sueca que sempre tomou a precaução de viajar em aviões separados, a fim de evitar que, em caso de acidente, os filhos perdessem o pai e a mãe ao mesmo tempo. Christine Badre Schnabl, 34, e o marido também embarcavam em voos diferentes quando viajavam com os dois filhos do casal. No domingo, ao embarcarem no Rio de Janeiro com destino à Suécia, também foi assim. O marido pegou um voo mais cedo, com a filha de 3 anos. Christine, acompanhada pelo filho mais velho do casal, Philipe, de 5 anos, embarcou no voo 447 da Air France, que desapareceria horas depois sobre o Oceano Atlântico.
Química
Patrícia Maria Nazareth Ceva Antunes, 34, servidora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estava no avião com o marido, Octavio Augusto Ceva Antunes, professor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro e com o filho de 3 anos, Mateus Nazareth Ceva Antunes. A química, especialista em Regulação e Vigilância Sanitária, trabalhava na Gerência de Produtos Derivados do Tabaco (GPDTA), área responsável por campanhas de conscientização contra o fumo. Patrícia tem mestrado e doutorado pela UFRJ, onde o marido é professor. Segundo colegas da Anvisa, ela sempre viajava acompanhando o marido em países da Europa, como Suíça e a França.
Prêmio
Um grupo de dez funcionários da sucursal da empresa CGED, na cidade de Limoges, estava no avião. Segundo a empresa, eles estavam acompanhados de nove parentes, e voltavam de uma viagem que ganharam de prêmio pelo bom trabalho ao longo do ano. O concurso da CGED, uma empresa de distribuição de material elétrico, premia os melhores representantes comerciais do sudoeste da França. Os representantes comerciais vencedores, com idades entre 25 e 35 anos, os parentes e o executivo de Limoges haviam viajado ao Brasil por quatro dias.
A dançarina
Eithne Walls, de 29 anos, veio ao Brasil para aproveitar duas semanas de férias com as amigas da época de faculdade, as também médicas Aisling Butler, de 26 anos, e Jane Deasy, de 27. As duas também estavam no avião. Eithne é médica e dançarina da conceituada companhia irlandesa Riverdance. Ela ganhou medalhas em eventos na Irlanda e também no exterior. Em 2000, Eithne entrou para o Riverdance, companhia musical irlandesa que se tornou famosa pelos rápidos movimentos do tronco realizados pelos seus dançarinos, enquanto os braços e pernas pouco se mexem nas evoluções. A dançarina deixou o elenco principal da companhia para estudar Medicina na Universidade Trinity, onde se formou em 2007, mas nunca abandonou a dança.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora