Tipos de pais
Cada tipo de educação tem um resultado:
Autoritativos
É considerado o tipo de educação mais equilibrada. Há maior interação entre pais e filhos, conselhos, regras e normas, mas sem imposição rígida. Os pais encorajam a autonomia dos filhos, que apresentam menores índices de depressão, ansiedade e abuso de drogas.
Autoritários
Agem de forma exigente e punitiva, impedindo a capacidade de autorregulação dos filhos. As crianças têm bom desempenho escolar e comportamento, mas apresentam problemas como medo e ansiedade.
Indulgentes
Não conseguem colocar limites e chegam a ser tolerantes. Os filhos têm boa autoestima, mas dificuldade para lidar com regras.
Negligentes
Não se interessam pelos filhos e focam mais em si mesmos. Podem comprometer de forma decisiva o desenvolvimento e crescimento das crianças, gerando situações como depressão e agressividade.
Fonte: Claudio Simon Hutz.
Educação
Superproteção inverte lógica
Uma das consequências da superproteção é que, ao invés de os pais estarem no controle, são os filhos que ditam as regras da casa. "É um paradoxo. Na medida em que se controla demais, torna-se controlado. Eles tentam fiscalizar tudo e não podem se afastar", afirma a psicóloga Daniela Bertoncello. Ela diz ser comum a hierarquia se inverter e os meninos e meninas acabarem determinando o que querem.
Para reverter essa situação, muitas vezes a ajuda de um profissional pode fazer a diferença. "Ninguém tem um manual sobre o que é ser pai e mãe, por isso um auxílio exterior pode ser produtivo. O ideal é não chegar a uma situação extrema", analisa Eneida Ludgero.
Em relação à ida à escola e atividades extracurriculares, por exemplo, é ideal que os pais de forma gradativa flexibilizem e atribuam responsabilidade. "É um cuidado a distância e não mais milimetricamente próximo."
É de pequenininho...
Dicas para incentivar a autonomia
- Comece atribuindo pequenas responsabilidades desde a infância, como ajudar a arrumar a mesa ou o próprio quarto.
- Com maturidade e mais idade, deixe o filho ir até um mercado próximo ou papelaria, por exemplo. Assim poderá conhecer o bairro e se sentir mais seguro. Lembrando que isso depende do contexto familiar e deve ser feito de forma gradativa.
- Fortaleça sempre dicas de segurança, como olhar para os dois lados antes de atravessar a rua e o que fazer em situações de emergência ou risco.
- Estimule que seu filho traga grupos de amigos em casa. Converse com eles, crie vínculos.
- Mantenha uma rede de contatos com seus vizinhos e fortaleça os vínculos comunitários no local onde seu filho vive.
- Dê liberdade, mas cuide a distância. Isso pode ser feito, por exemplo, com a ajuda do celular.
Fontes: Criança Segura e Eneida Ludgero.
Entrevista
Içami Tiba, psiquiatra e educador, autor de mais de 27 livros que já venderam 2,3 milhões de exemplares. O mais famoso deles é Quem ama, educa!
Muitos pais ficam temerosos pela violência nas grandes cidades e acabam superprotegendo os filhos. Como não cair nesta armadilha?
O primeiro ponto é desenvolver a capacidade da criança de se defender sozinha. Não adianta os pais defenderem o filho e serem superprotetores. Assim, quando ele sair na rua, vai cair na conversa de qualquer um. Acaba sendo um Pinóquio enganado por uma raposa. Para reverter esse quadro, é preciso imputar responsabilidade de forma progressiva. É possível começar, por exemplo, com deveres dentro da própria casa. Uma pessoa que cumpre obrigações começa a ter limites e aprende que não vai receber sempre tudo pronto. É um mecanismo lento e progressivo.
Não adianta. Para pais e mães, o coração sempre tem razão. E, por isso, eles não pensam duas vezes ao dar uma resposta negativa aos filhos quando o assunto envolve segurança. A violência que assola as grandes cidades inibe até atividades antes corriqueiras como andar de ônibus sozinho. Os pais mudam de endereço, mas a preocupação não. Existe alternativa? Como proteger sem sufocar? Para especialistas, os familiares devem encontrar um meio termo, porque a superproteção pode gerar adultos inseguros. Para isso, é essencial estimular a autonomia desde a infância. A família dos empresários Marcos e Rosana Rodrigues vive esse dilema. "Até hoje não sei se encontramos a fórmula correta, mas sempre tentamos fazer o melhor", afirma o pai. Os quatro filhos, Bianca, 22 anos, Karen, 19; Mônica, 17; e Erik, 14; vivem sob normas rigorosas de segurança. Têm de dar informações sobre o local que vão antes, durante e depois. "Infelizmente a juventude deles não é como foi a nossa. Hoje há perigos que antes não existiam", diz Rodrigues. "Eu pego no pé mesmo", admite a mãe. O medo da família não é infundado. Há cerca de dez anos o empresário sofreu um sequestro relâmpago e ficou na mão dos sequestradores durante horas. Teve carro, documentos e dinheiro roubados. "Quando algum deles sai à noite, nos revezamos. Sempre um fica acordado até que eles voltem", conta o pai.
Os filhos começaram a andar de ônibus sozinhos somente a partir dos 14 anos, quando fizeram cursinho para estudar para o ensino médio em escolas técnicas. Viagem de formatura no último ano do ensino fundamental? Nem pensar. E os namoros só são permitidos quando a família conhece os pretendentes. "Até prefiro que elas namorem nerds", brinca Rodrigues. As saídas à noite passaram a acontecer apenas depois da maioridade das duas filhas mais velhas.
Os quatro irmãos encaram a situação com naturalidade. Sempre ao responder com um não os pais tentam explicar os motivos, mesmo que isso ocorra somente no dia seguinte após as "choradeiras". "O importante é manter a isonomia para todos. Acreditamos que a fórmula para educar bem seja amor, disciplina e exemplo. Tentamos mesclar tudo isso. Acho que conseguimos unir liberdade e cuidado", dizem os pais.
Paternidade responsável
Para a terapeuta familiar Cleia Oliveira, os pais devem tentar encontrar um meio termo e estimular a independência. "Ao mesmo tempo que é preciso proteger, é necessário também ajudar o filho a se desenvolver. Se ficarmos muito ligados na violência, teremos adultos despreparados no futuro." Ela afirma que toda família passa por um processo gradativo de aprendizagem. "Infelizmente, o mundo idealizado não existe. As crianças não podem ficar em redomas."
Cleia argumenta que a superproteção pode fazer com que os filhos vivam exatamente o que os pais temem. "O jovem acaba se tornando uma vítima em potencial. A angústia sempre estará presente, é difícil superar, mas os familiares precisam tentar." Para ela, a medida da liberdade vem junto com a maturidade que os meninos e meninas constróem. Por isso a participação é importante. "Conheço famílias que fazem monitoramento eletrônico por meio do celular. Isso não adianta nada. É preciso confiança e conhecimento sobre a rotina dos filhos."
A psicóloga Eneida Ludgero argumenta que a família deve agir de forma preventiva. O ideal é que a criança aprenda a perceber as situações de risco vivendo em um contexto seguro. "É importante também salientar que precisamos viver em uma sociedade mais solidária. Hoje há muita desigualdade". Para isso, ela recomenda a criação e manutenção de vínculos comunitários.
Autonomia começa com pequenas tarefas
O dilema das famílias é encontrar a fórmula para aliar autonomia e proteção. Essa dúvida chega frequentemente no consultório da psicóloga Daniela Bertoncello. "Proteger é uma função natural dos pais. A gradação depende de cada família." Ela argumenta que não existe idade mínima para as atividades realizadas pelas crianças e adolescentes porque tudo depende da realidade familiar.
A autonomia é algo que pode influenciar muito na percepção da criança sobre os riscos e deve ser estimulada desde a infância. "Tudo começa com pequenas atividades, como ajudar a arrumar a mesa, por exemplo." Uma dúvida recorrente dos pais é se eles podem ou não deixar os filhos sozinhos em casa. "Isso depende do bom senso. Crianças mais agitadas, por exemplo, tendem a correr um risco maior. É importante associar a idade ao nível de maturidade."
Prevenção
A autonomia deve ser construída de forma gradativa e a família deve ficar atenta ao risco de acidentes domésticos. A coordenadora da organização não governamental Criança Segura, Alessandra Françoia, lembra que é essencial os pais analisarem a maturidade dos filhos ao imputar alguma responsabilidade. Não é recomendável, por exemplo, que crianças menores de 12 anos fiquem sozinhas em casa. Elas também devem ser alertadas sobre os perigos de manusear fogo, álcool e produtos químicos.
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Interatividade
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