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Urbanismo

Entre luzes e sombras na Riachuelo

Um dos desafios da via é se tornar um local de destino e não só de passagem | Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo
Um dos desafios da via é se tornar um local de destino e não só de passagem (Foto: Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo)
Referência em brechós e lojas de móveis usados: rua quase temática |

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Referência em brechós e lojas de móveis usados: rua quase temática

Durante o dia, o comércio da região atrai fregueses, mas não como outrora |

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Durante o dia, o comércio da região atrai fregueses, mas não como outrora

Restaurante São Francisco é um dos achados da rua: comida no fogão a lenha |

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Restaurante São Francisco é um dos achados da rua: comida no fogão a lenha

O Lidô, último cinema pornô da cidade, funciona em ponto estratégico |

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O Lidô, último cinema pornô da cidade, funciona em ponto estratégico

Da Generoso Marques até a Dezenove de Dezembro, apenas duas lanchonetes ficam abertas durante a noite na Rua Riachuelo, em Curitiba. As cinco quadras da via abrigam vários imóveis, mas muitos estão abandonados – alguns históricos, outros simplesmente inutilizados e sujos. Junte-se a isso o comércio diurno, que de noite fecha as portas, trechos mal-iluminados, quase nenhum movimento e o que se vê é uma espécie de cemitério urbano.

Quebra essa tranquilidade fantasmagórica o espaço entre a São Francisco e a Alfredo Bufren. Não é exatamente uma cracolândia como a de São Paulo, mas não precisa ser policial ou urbanista para perceber que o vaivém por entre as esquinas tem relação com o crack e a prostituição. Ali, dois bares-lanchonetes e pousadas baratas abrigam a correria das drogas e do sexo pago.

De dia, há traços de vida na região. O comércio está lá, mas sem a importância de outrora. Olhando o mapa da cidade, percebe-se que a área da Riachuelo está esprimida entre a Praça Dezenove, a Generoso, o Passeio Público e a Tiradentes. É uma espécie de triângulo que leva a todos esses pontos importantes. E eis a grande dificuldade: ser apenas um caminho e não um destino. Muita gente passa, mas não fica porque não vê motivos para isso.

"A pessoa caminha por aqui e vê gente indo pra lá e pra cá fumando crack. Não é muito animador para ficar mesmo", diz Valentin Vasquez, 65 anos, proprietário do restaurante São Francisco, há 55 anos no mesmo ponto e um dos mais antigos da cidade. O restaurante é um desses segredos que você encontra na região. Aqui, a invasão da comida por quilo não foi bem sucedida. É tudo à la carte e feito no fogão à lenha. A Riachuelo tem também suas preciosidades, escondidas por entre portinhas despretensiosas. A Casa Hilu é uma referência na venda de tecidos na cidade há pelo menos 40 anos, 16 deles no mesmo ponto. A Alfaiataria Riachuelo existe desde 1932, com o mesmo padrão familiar de atendimento. No começo vendia uniformes para militares, hoje vende artigos militares para punks, skinheads e outras turmas.

Os comércios tradicionais, remanescentes de uma época de ouro da região, resistem em meio a dois tipos de lojas que tornaram a Riachuelo uma rua quase temática. Não há na cidade outro ponto com tantos estabelecimentos que vendem móveis e roupas usadas.

Nos brechós, uma camiseta sai por um real e um terno pode ser encontrado até por R$ 30. Com R$ 50, com sorte, você preenche o guarda-roupa com peças consideravelmente conservadas e bastante limpas. O único problema é sair da loja e não se sentir um personagem de filme brasileiro da década de 80.

As lojas de móveis são outro achado. É tanta coisa empilhada em tantos comércios que seria possível mobiliar a CIC inteira. Por R$ 200, por exemplo, compra-se uma geladeira. A Riachuelo também poderá a vir a ser a rua com mais cinemas por metro quadrado da cidade. Existe a ideia de se reinstalar o Luz e o Ritz, em uma espécie de centro de cinema, na esquina com a Presidente Carlos Cavalcanti. A rua já conta com o Cine Lidô, o último cinema pornô da cidade, que funciona, estrategicamente, colado a uma lanchonete e a uma pensão. Na linguagem boêmia, é o que se chama de inferninho.

O centro de cinema compõe um amplo pacote de revitalização para a área. Prefeitura, Fe­­de­­ração do Comércio (Feco­­mér­­cio) e Universidade Federal do Paraná (UFPR) são parceiros nos planos. A previsão do administrador da regional Matriz, Omar Akel, é de que novas calçadas e nova iluminação sejam entregues até o aniversário da cidade, em março. O Sebrae está promovendo treinamentos com os comerciantes e a UFPR planeja criar um corredor de cultura. É a segunda etapa de uma mudança que começou no passado, com a instalação de câmeras de segurança. "Queremos que as pessoas não tenham medo de passar pela rua e tenham motivos para visitá-la", diz Akel. No fundo, quer se jogar luzes sobre a Riachuelo, torná-la um lugar que precisa ser visto e visitado. É o que ela precisa. Deixar as sombras para trás.

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