Metade da área urbana de São Lourenço do Sul ficou inundada: prefeito decretou estado de calamidade pública| Foto: Tarcila Pereira/Correio do Povo

Uma enxurrada alagou áreas rurais e parte do perímetro urbano do município de São Lourenço do Sul (a 191 km de Porto Alegre), no Rio Grande do Sul, deixando um saldo de pelo menos oito mortos e 260 desabrigados. O prefeito em exercício, José Daniel Raupp Martins, decretou situação de calamidade pública. A chuva provocou ainda a interdição da BR-116, em dois pontos, entre as cidades de Porto Alegre e Pelotas. Os motoristas foram forçados a usar vias alternativas que aumentam o percurso de 330 para 430 quilômetros, situação que deve se manter pelo menos até o próximo domingo.A chuvarada ocorreu durante a madrugada de ontem em uma região de colinas a oeste da cidade, onde estão as nascentes dos córregos que formam o Arroio São Lourenço. Impressionados com o volume de água, agricultores passaram a ligar para a prefeitura, que acionou um carro de som para alertar a população sobre a enxurrada que desceria até a foz do curso d’água, na Lagoa dos Patos, onde está o núcleo urbano de São Lourenço do Sul, de 43 mil habitantes.

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Como não estava chovendo no centro na hora do aviso, a maioria dos moradores optou por ficar em casa e pouco depois viu a água chegar como uma grande onda, que passou do teto dos carros estacionados nas ruas e quase chegou à cobertura das residências. Diante do alagamento, muitos moradores tiveram de subir aos telhados, onde ficaram esperando resgate.

Ao amanhecer, pelo menos metade da zona urbana estava inundada. A água ficou entre 2,5 a 3 metros de altura. Bombeiros e soldados da Brigada Militar usaram quatro helicópteros e nove lanchas para transportar pessoas ilhadas para um centro comunitário, enquanto voluntários faziam o mesmo de barco. A San­ta Casa, único hospital da cidade, atendeu cerca de 300 pessoas com hipotermia e ferimentos leves.

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Afogamento

Pessoas que trabalharam no resgate acreditam que os moradores que morreram afogados tenham encontrado dificuldades para se locomover quando a água invadiu as casas. O principal indicativo para a tese é a idade das vítimas. Cinco delas, identificadas como Marlene de Mo­­raes, Glória Martins, Zilah Mar­tins, Zaira Fonseca e Elza Her­mann, tinham entre 52 e 82 anos. A sexta, Afonso Beiersdorf, de 80 anos, sofreu um enfarte. Outros dois corpos não haviam sido identificados até o início da noite.

O vice-governador do Rio Gran­­de do Sul, Beto Grill, passou o dia em São Lourenço do Sul, onde juntou-se aos integrantes de um gabinete de crise montado pela prefeitura. "Infelizmente, o número de óbitos pode aumentar", admitiu, no fim da tarde, quando as águas já haviam recuado quase ao leito normal do arroio e os bombeiros começavam a entrar nas casas abandonadas com a perspectiva de encontrar mais algum corpo. Grill vive em São Lourenço desde os 3 anos e hoje, aos 56 anos, diz que nunca viu nada igual à enxurrada de ontem na região.

O meteorologista Eugênio Hackbart, da Metsul Meteo­rologia, explica que a gigantesca nuvem que se formou sobre o território de São Lourenço do Sul foi resultado da combinação de um sistema de baixa pressão com ar tropical úmido e circulação de ar mais frio no Uruguai e no Oceano Atlântico, uma ocorrência considerada excepcional, mas não tão rara no Rio Grande do Sul. O volume de chuva pode ter alcançado entre 250 e 300 milímetros em 24 horas. Trata-se de uma quantidade de água três vezes superior à média de todo o mês de março.

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