Prefeitura
Técnico diz que Linha Verde não tem culpa
O diretor do Departamento de Pontes e Drenagem da Secretaria de Obras de Curitiba, Augusto Meyer Neto, diz que a construção da Linha Verde não tem nada a ver com o transbordamento do Rio Ribeirão dos Padilhas, na região sul de Curitiba. "A vazão do Ribeirão está subdimensionada há muito tempo, mas não conseguimos alargar o rio por causa das ocupações irregulares", afirma. Além disso, Neto comenta que o abandono de lixo em ruas e terrenos baldios também interfere na capacidade de escoamento da água. Segundo ele, recentemente, a prefeitura realizou a limpeza de alguns trechos isolados, mas o acesso da escavadeira usada nesse tipo de serviço fica comprometida por causa das casas construídas à beira do rio.
Segundo ele, só neste ano, o Departamento de Pontes e Drenagem municipal já coletou mais de 40 toneladas de lixo de rios e galerias do município média diária de duas toneladas. Dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, coordenada pelo IBGE, apontam que na Região Sul do Brasil 54% dos municípios que sofreram alagamentos e inundações em 2008, ano do último levantamento, tiveram como principal problema a obstrução de bueiros e bocas de lobo pelo lixo.
A chuva causou a primeira morte do ano no Paraná na noite do último sábado. Luiz Augusto Barino, 63 anos, foi arrastado pela enxurrada quando tentava atravessar a Rua Dante Honório, no bairro Xaxim, região Sul de Curitiba. Cansados dos alagamentos, os moradores da região fecharam ontem quatro quadras da Rua Omar Raymundo Pichet em protesto.
O temporal também causou estragos em outros oito bairros de Curitiba e em três cidades da região metropolitana (Almirante Tamandaré, Campinha Grande do Sul e Colombo). Só na capital a Defesa Civil registrou 42 pontos de alagamentos. No Novo Mundo, o aposentado Davi Siqueira Cortes se feriu ao ter parte do quintal inundado pela água represada na casa do vizinho, que estava vazia. Parte da parede da residência ruiu.
Quatro casas foram interditadas pela Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi) da prefeitura nos bairros Novo Mundo, Pinheirinho e Xaxim. Outras 20 foram notificadas por estar em área de ocupação irregular e em local de risco, à beira do Rio Ribeirão dos Padilhas.
O corpo de Barino foi localizado na manhã de ontem a cerca de 400 metros do local de onde foi arrastado. A tragédia ocorreu em frente à casa de Aparecida Marcondes, que assistiu o idoso ser levado pela água. Ela conta que seus filhos tentaram ajudar Barino, mas não conseguiram alcançá-lo. "A rua parecia um rio e a correnteza era muito forte", lembra.
Minutos antes, Aparecida havia socorrido a mãe de 87 anos que mora com ela. A idosa foi retirada de casa pela janela quando a água chegava à altura da cintura e foi levada para o andar de cima da residência. Os netos de Aparecida, de 5 e 6 anos, que moram em outra casa no mesmo terreno, precisaram se agarrar às grades da janela para escapar da enchente. Na tarde de ontem, mãe e filha lamentavam pelos móveis, eletrodomésticos e alimentos perdidos. As duas casas foram invadidas pelo Ribeirão dos Padilhas, que transbordou com o temporal.
"A prefeitura quer tirar todo mundo dali, mas essa não é a solução. São mais de 300 casas e em 15 anos ninguém veio limpar o Ribeirão", disse Everaldo Soares Cardoso, 38 anos, que ajudou o irmão a limpar a casa que fica a 40 metros do rio e também foi tomada pela água. Dono de uma gráfica, Cardoso fez campanha de arrecadação de doações para as famílias que teriam perdido tudo há cerca de 15 dias, quando outro temporal causou estragos nas residências da região. Ele era um dos moradores que protestaram ontem fechando a rua.
Alegando que as inundações por transbordamento do Ribeirão dos Padilhas pioraram depois da construção da Linha Verde, a população reivindica uma reunião com a prefeitura para solucionar o problema. Os moradores colocaram fogo nos móveis que foram destruídos pela água e obstruíram as ruas de acesso a Omar Raymundo Pichet. Até as 20 horas de ontem os manifestantes ainda permaneciam no local e nenhum representante da prefeitura havia aparecido.
De acordo com o inspetor chefe da Defesa Civil de Curitiba, Nelson de Lima Ribeiro, as áreas atingidas e as casas notificadas continuarão sendo monitoradas. Segundo ele, a situação no bairro é consequência do acúmulo de residências, da quantidade de lixo jogado no rio e da intensidade da chuva. "Choveu mais do que o normal. Partes do rio que nunca encheram antes transbordaram no sábado", disse.
Conforme informações do Instituto Simepar, choveu 22 milímetros em Curitiba. A quantidade não é significativa se comparada com a média de chuva registrada até agora no mês de janeiro, que é de 172 milímetros. "Em Pinhais, por exemplo, cidade onde mais choveu na região metropolitana, foram 42 milímetros. O problema é que em menos de uma hora choveu 16 milímetros na capital", explicou o meteorologista Reinaldo Kneib. A previsão na capital hoje é tempo abafado com mais pancadas de chuva e trovoadas no fim da tarde.
Interatividade
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