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Assassinatos em série

“Era ele, sem chance de errar”, diz testemunha

Coronel permanece preso em quartel do Corpo de Bombeiros, na capital | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Coronel permanece preso em quartel do Corpo de Bombeiros, na capital (Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo)

O ex-comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins, 56 anos, teria sido reconhecido formalmente ontem por todas as testemunhas convocadas pela Delegacia de Homicídios. Martins é acusado de cometer nove assassinatos entre agosto de 2010 e janeiro deste ano, no bairro Boqueirão, em Curitiba. A maioria das vítimas era de usuários de drogas.

O reconhecimento foi feito por nove pessoas mencionadas no inquérito policial. Foram quatro sobreviventes dos cinco ataques atribuídos ao coronel e outras cinco testemunhas. Fontes da Polícia Civil e uma testemunha que passou pelo procedimento ouvida pela Gazeta do Povo confirmaram que o ex-comandante foi reconhecido por todas as pessoas que fizeram a prova. Oficialmente, porém, nem a polícia e nem a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) se manifestaram sobre o resultado dos procedimentos.

O coronel Martins chegou à delegacia por volta das 15 horas, conduzido por uma viatura sem identificação dos bombeiros. Sem falar com a imprensa, ele foi levado ao andar superior do prédio, onde ficam as salas dos delegados. Minutos depois, Martins foi conduzido a uma sala do piso inferior da delegacia, onde ocorreram os reconhecimentos. O procedimento demorou cerca de 45 minutos. O coronel deixou a delegacia rapidamente e alegou, brevemente, não ter relação com os crimes dos quais é suspeito. "Sou inocente, vai ser comprovado", disse.

Em sete oportunidades o reconhecimento pessoal foi feito de modo visual, de acordo com as determinações do Código do Processo Penal. Cada testemunha descreveu o suspeito à autoridade policial. Em seguida, o coronel foi colocado perfilado ao lado de outras cinco pessoas que apresentam características físicas semelhantes às suas. Em um anexo, de onde não podiam ser vistas, as testemunhas apontaram para o suspeito. Cada reconhecimento foi feito de forma isolada e, segundo a polícia, as testemunhas não mantiveram contato entre si.

Em dois casos, o procedimento foi feito a partir da voz. O coronel e as cinco pessoas, cada um de uma vez, repetiram uma mesma frase ("temos que avisar o delegado, esses têm ficha"), que teria sido dita em um dos ataques. Depois de pronunciada a sentença, a testemunha falava à autoridade policial quando reconhecia a voz ouvida no dia do crime.

Responsável pela defesa de Martins, o advogado Silvio Miche­letti não quis comentar o reconhecimento. "Não tenho nada a falar em relação a isso. Cabe à gente [a defesa] a apresentação de provas que comprovem a inocência do coronel", resumiu.

Micheletti ingressou com o pedido de revogação da prisão temporária – válida por 30 dias. A defesa argumenta que não há motivos para Martins permanecer preso, uma vez que estaria colaborando com as investigações. "Ele [o coronel] participou de todos os procedimentos, entregou a arma e ofereceu a quebra de sigilo telefônico. Não tem porquê ele permanecer preso", disse.

Olho no olho

A Gazeta do Povo ouviu, com exclusividade, uma testemunha de um dos crimes atribuídos ao coronel Martins. Ela estaria relacionada a um atentado ocorrido no dia 10 de novembro, na Rua Cleto da Silva, em que foram assassinados Luiz Cláudio Pon­­tello, 40 anos, e Amílcar Eduardo Arndt, 24 anos.

Bastante abalada, a testemunha apenas relatou o que viu: que um homem grisalho, de óculos e de estatura mediana estacionou um veículo de cor escura, usando calça cáqui, camiseta azul e boné. O suspeito teria descido e dado uma volta em torno do veículo. Ela também confirmou que o reconhecimento foi positivo. "Era ele, sem chance de errar. Na época, eu cheguei a anotar a placa do carro", afirmou. Segundo o inquérito, o veículo usava placas frias, cuja numeração bate com a de uma moto.

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