A maioria dos sem-teto que ocuparam a área particular no Fazendinha estava em busca de um lugar para morar, mas entre eles se infiltraram os especuladores de ocasião. As negociações aconteciam a todo momento. No início, os lotes custavam de R$ 500, valorizando-se com o passar dos dias, chegando a R$ 5 mil. Joana (nome fictício) tem casa própria e pagou R$ 1 mil por dois terrenos. Nessa entrevista à Gazeta do Povo, ela fala como acontecia esse comércio clandestino.

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Como era feita a negociação?

A gente chegava e procurava o Adão. Ele era um dos líderes da invasão, que vendia os lotes. Tinham outros três, que eu não sei o nome. Quem realmente era sem-teto não podia ficar com os lotes de frente para a rua. Esses eram dos líderes, que escolhiam vários terrenos para negociar. As pessoas foram usadas. A possibilidade de negociação era maior nos terrenos que estão na rua. Por isso, os líderes tinham preferência para escolher para a venda.

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Quanto você pagou em seus dois terrenos?

Eu comprei no início da invasão. Paguei R$ 500 em cada um. Depois que passou algum tempo, as pessoas ficaram confiantes de que a regularização daria certo. Teve gente que chegou a pagar mais de R$ 4 mil em lotes bem localizados. A confiança valoriza os lotes, porque aumenta a procura. Para se ter uma idéia, uma mulher ofereceu R$ 3 mil em um dos meus lotes, mas eu não queria vender.

Por que você comprou os terrenos?

A minha mãe invadiu uma área, que foi regularizada há 15 anos. Isso me motivou. Eu tinha esperança que essa área seria regularizada. Se funcionou da primeira vez, por que não daria certo agora? Eu tenho casa própria, com a documentação regularizada, mas queria garantir uma moradia para minha mãe, que mora comigo. Eu ia dar esse lote para ela construir uma casa no futuro. Era uma espécie de investimento. O outro era para vender.

Então havia muita gente na mesma situação que a sua?

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Tinha muita gente que não precisava, que estava fazendo investimento. Principalmente quem paga aluguel. Era só aparecer no terreno e fazer uma proposta. Do lado contrário, tinha muita gente que realmente não tinha para onde ir e apostou todas as esperanças naquela invasão. Havia os dois lados da moeda.