Nove meses após a sanção da Lei Berecine Piana, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, familiares de quem tem o transtorno e associações ligadas ao tema vão sair às ruas neste domingo, em diversas cidades do país. O objetivo é pedir o imediato cumprimento da lei, que iguala os direitos de quem tem o transtorno aos das pessoas com deficiência.
Quem está à frente da mobilização é a própria Berenice, paranaense de Dois Vizinhos, que mora no Rio de Janeiro há 17 anos. Em entrevista por e-mail, ela conta os motivos da mobilização.
Qual é a mensagem passada pelos atos públicos?
Chegam inúmeras mensagens, todos os dias, de mães desesperadas querendo saber quando a lei vai ser cumprida. O ato público é pelo decreto de regulamentação, que deve ser assinado pela presidente Dilma com urgência. A lei já é válida, entrou em vigor na data da sua publicação. Mas o decreto faz com que ela seja cumprida na prática imediatamente. Quando isso acontecer, teremos um grande avanço tanto em tratamento quanto em educação para a pessoa com autismo. O movimento ganhou força, primeiro, porque somos muitos, por baixo 2 milhões. Segundo, porque aquela família que não se manifestava ficou contagiada pelo avanço que tivemos com a lei sancionada. Outra razão é a força das redes sociais, que facilitou o intercâmbio entre nossos pares.
Um dos pontos da lei mais comemorados é o que exige que escolas aceitem alunos com autismo. Mas, se os professores não se mostram preparados para receber essas crianças, isso não pode prejudicá-las?
Obrigar as escolas a receber não resolve o problema, mas tira-as do ostracismo. Quando nossos filhos estiverem lá, elas terão que se preparar, buscar capacitação dos profissionais. O próximo passo é criar centros especializados de tratamento e capacitação de profissionais para tratar essas pessoas.
O que falta para melhorar a qualidade de vida e a inclusão das pessoas com autismo no Brasil?
Só boa vontade. É apenas perceber que essa turma veio para ficar e não podemos ignorá-los, não mais. São seres humanos, pagadores de impostos e merecem a melhor atenção tanto na saúde como na educação e na família. O governo precisa entender que fica mais barato tratar do que não tratar pessoas com autismo. O ônus para a sociedade, mais tarde, pela falta de tratamento, ninguém pode dimensionar.