Ponta Grossa Está marcada para a tarde de hoje a exumação do corpo de João Victor Baratella Matos, 4 anos, que morreu depois de uma cirurgia, no início do mês, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. O pedido foi feito pela família e autorizado pela Justiça para averiguar a hipótese de erro médico. O atestado de óbito indica que o menino morreu por conta de ruptura no estômago, presença de ar no peritônio e na cavidade pleural e complicações anestésicas. Os pais estão inconformados com o desfecho trágico do que era para ser uma corriqueira cirurgia nas amídalas e na adenóide.
João Victor foi internado às 6h30 do dia 3 de maio e a operação deveria durar entre 15 e 30 minutos. Quando retornou ao quarto, por volta de 8 horas, os pais notaram que o abdome do menino estava inchado. Foi feita a pulsão, mas o quadro continuou se agravando até que foi internado na unidade de terapia intensiva (UTI), com sangramento pela boca e pelo nariz.A advogada Liciane Baratella Matos e o engenheiro civil Rozenildo Cidade Matos, pais do garoto, afirmam que nenhum médico prestou qualquer esclarecimento sobre o que estava acontecendo. Eles insistiram em vão para que João Victor fosse operado para encontrar a causa das complicações.
Só depois das 22 horas e após a intervenção de dois médicos, é que o cirurgião pediátrico do hospital aceitou fazer a operação exploratória. A essa altura, o menino já havia recebido várias transfusões de sangue e a hemorragia constante provocou paradas cardiorrespiratórias. A cirurgia comprovou a perfuração no estômago, mas não conseguiu salvar o menino, que morreu uma hora depois. O inquérito aberto indica a possibilidade de imperícia durante a entubação e de negligência pela demora na realização da cirurgia corretiva. O delegado Danilo Cesto, que conduz a investigação, pediu os prontuários para o hospital e vai aguardar o resultado da necropsia para convocar os envolvidos a prestar depoimento.
Os pais decidiram acatar a sugestão médica e permitir a operação porque o menino tinha crises de amidalite todos os meses, sempre com febre alta. Outro fator que contou para a aprovação foram as bem-sucedidas seis cirurgias de amídala e adenóide que o mesmo médico fez em familiares, inclusive em Liciane. Segundo o advogado Fernando Madureira, apesar de questionar a participação do otorrinolaringologista no caso, a responsabilidade pelas conseqüências estariam mais ligadas ao anestesista e ao cirurgião pediátrico.
"Não estamos acusando ninguém. Queremos ir em busca da verdade. O que nos causa estranheza é que uma criança faça uma cirurgia tão simples e acabe morrendo", lamenta a mãe. Os pais disseram que não aceitam a justificativa de fatalidade e nem qualquer acordo financeiro. Para eles, somente a tomada de consciência, pelos médicos, da importância da medicina na vida das pessoas pode ser um resultado positivo do processo instaurado. O casal tem mais um filho, um menino de 3 anos, que nasceu de uma gestação prematura e quase morreu porque a cidade não tinha vaga de UTI neonatal.