De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), as queixas feitas contra médicos demonstram que a relação deles com os pacientes apresenta falhas. De forma geral, os médicos estão errando ao prestar informações aos pacientes a respeito dos diagnósticos, terapias disponíveis e riscos da doença.
Para o presidente do CRM-PR, Hélcio Bertolozzi, a assistência médica mudou a forma de atuar nos últimos anos, principalmente depois do novo Código de Ética Médica, implementado em 1988. Desde então, as decisões a serem tomadas sobre uma determinada terapia devem sem compartilhadas pelo médico e paciente. "O paciente saiu do papel de sujeito passivo para um papel mais preponderante, com a ciência de seu diagnóstico, opções de tratamentos e riscos", diz ele.
Segundo Bertolozzi, no entanto, alguns médicos não se habituaram a essas mudanças. "Eu falo para os residentes [estudantes] que não basta saber medicina, tem de saber se comunicar e esclarecer o paciente", afirma.
Bertolozzi aponta dois principais motivos para a ocorrência de falhas na relação médico-paciente. Um, é a preponderância que alguns profissionais dão aos exames, em detrimento da consulta médica em si. O outro, é a formação acadêmica. "Muitos mestres não dão o exemplo para os alunos."
Universidade
De acordo com a professora e coordenadora do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Claudete Reggiani, a interação médico-paciente é trabalhada durante todo o curso de medicina, sobretudo na disciplina de propedêutica médica, ministrada na passagem do ciclo básico do currículo para o profissionalizante. Ainda segundo ela, a exigência de Sociologia e Filosofia para o ingresso no curso mostra que a UFPR procura um perfil de aluno diferente. "Buscamos médicos mais humanos", diz.
Para Claudete, as falhas na relação médico-paciente ocorrem porque há uma mudança cultural da sociedade, em que o fator tempo é preponderante e escasso. "Quando o médico chega ao mercado de trabalho é obrigado a atender o paciente em 15 minutos. Nesse curto espaço de tempo não consegue conversar tudo que precisa ser conversado", opina. (TC)