Saiba mais
Veja como funcionam as escolas charter:
O que são?
Escolas públicas com maior autonomia, cuja gestão é compartilhada entre os setores público e privado.
O que elas podem fazer?
De maneira geral podem contratar professores segundo critérios próprios, desenhar seus currículos e oferecer uma carga horária maior.
Pelo Mundo
Iniciativas implantadas em alguns países:
Reino Unido
Foram introduzidas em 2002. Nos exames nacionais de 2008 e 2009, o desempenho de seus estudantes foi duas vezes superior à média nacional.
Chile
Através do sistema de voucher, os alunos são matriculados em escolas do setor privado com financiamento público.
Peru
A rede de escolas Fe y Alegría cuida da gestão de escolas com financiamento público nas áreas rurais e urbanas mais carentes do país.
Estados Unidos
Pioneiro na consolidação da proposta no início dos anos 90. As escolas charter são submetidas a contratos com as prefeituras, seguindo leis estaduais que têm o poder de autorizar ou impedir seu funcionamento, dependendo de seu desempenho.
Brasil
A experiência é restrita, apesar de a legislação permitir esse tipo de gestão compartilhada. As Organizações Sociais (OS), entidades do direito privado, foram reconhecidas a partir da Lei 9.637, aprovada em 1998. As OS, desde que legalmente constituídas, podem firmar convênios para exercer atividades típicas do Estado, recebendo recursos públicos em forma de valores orçamentários, material, bens imóveis e pessoal.
Discussão
Escola charter será um dos temas debatidos no Sala Mundo 2011 Encontro Internacional de Educação, que ocorre em Curitiba nos dias 17 e 18 de agosto. Mais informações em www.salamundo.com.br
Fonte: Estudo "Modelo de escola charter: A experiência de Pernambuco".
Educadores são contra modelo
O modelo das escolas charter não é unanimidade e encontra resistência entre educadores. Para eles, o modelo empresarial não deve ser transferido às escolas. "A escola não tolera simplificação empresarial. A empresa trabalha com o cliente potencial, a escola não tem cliente", diz o professor Ângelo Ricardo de Souza, do Núcleo de Políticas Educacionais do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná.
Os dois grandes problemas da educação, afirma, são a falta de valorização profissional e baixo financiamento. "O bom papel do cidadão é cobrar do Estado, não fazer pelo Estado." Outra crítica do professor é que as escolas charter dão ênfase temática a algum aspecto do campo de conhecimento. "É justo financiarmos uma escola que determina uma temática específica de cada comunidade?", questiona.
Segundo ele, as boas ideias são interessantes em um espaço pequeno, mas é preciso pensar em melhorias para toda a rede. Souza vê com bons olhos as iniciativas de cooperativas, que são financiadas pelos próprios cooperados e não pelo Estado, como acontece com as charter.
Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Maria Abádia da Silva, a educação é uma responsabilidade pública intransferível e não deve haver intermediação do modelo empresarial. "A escola não é uma empresa, a escola não funciona em produção em série como funcionam as empresas. Ela tem outro ritmo de trabalho", diz. "A escola é lugar da diversidade, do diferente, e empresas são lugares da padronização." Segundo ela, o poder privado está interessado em "buscar novos nichos de exploração" na educação pública.
Maria afirma ainda que o problema na educação pública não é só de gestão. De acordo com a professora, a melhoria do ensino passa pelo fornecimento de condições financeiras, tecnológicas, de infraestrutura e de equipamentos às escolas públicas.
Segundo o estudo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, resultados de avaliações nacionais e internacionais mostram que a participação do setor privado na educação pública não é, em si, garantia de melhoria de resultados no aprendizado. (BMW)
Planejar, executar, medir os resultados e trabalhar sobre o desvio em contrário. É essa filosofia que Marcos Antônio Magalhães emprega tanto nos negócios quanto na gestão escolar. Para Magalhães, que é presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação, o desafio da educação pública é melhorar sua gestão. "Tudo começa com gestão. A má gestão gera falência da escola, que é quando o aluno não aprende."
Magalhães desenvolveu um modelo de gestão em um colégio público de Pernambuco que traz semelhanças com as escolas charter, referências principalmente nos Estados Unidos. Esse tipo de escola tem gestão compartilhada entre os setores público e privado. A maioria dessas instituições tem uma carga horária superior, sistemas constantes de avaliação e professores selecionados que recebem bonificação, além de uma gestão que se assemelha à das empresas.
No Brasil, a iniciativa começou com uma escola e foi expandida para outras intituições pelo país. Em Pernambuco, a ideia foi transformada em política pública, com a criação de uma rede de escolas em tempo integral, com bons resultados em programas de avaliação.
O início
Em 2000, Marcos Magalhães, então presidente da Philips para a América Latina, passou em frente do colégio estadual Ginásio Pernambucano, onde estudou, e encontrou a instituição interditada por deterioração do espaço. Resolveu agir e procurou empresários para ajudá-lo tanto na reforma do prédio, quanto posteriormente, para a reforma curricular.
Ficou decidido que o ensino médio da escola passaria a ser em tempo integral e voltado à educação para valores. Outras decisões impactaram diretamente no sistema de gestão, com definição de metas, plano de ação para atingi-las, medição de resultados e bonificação dos profissionais.
A iniciativa foi expandida para outras escolas e foram criados os Centros de Ensino em Tempo Integral (Procentro). O modelo foi analisado em um estudo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, publicado em novembro de 2010. Ficou constatado que no Exame Nacional do Ensino Médio, de 2008, os estudantes do Procentro obtiveram notas acima da média para escolas públicas e particulares de Pernambuco.
O estudo destaca algumas características em comum nas escolas charter que alcançam melhores resultados. Entre elas estão o ensino médio em tempo integral, o acompanhamento constante das atividades docentes e a seleção cuidadosa de gestores.
Autonomia
Hoje, o programa do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação está presente em 65 escolas no Ceará, 24 no Piauí, 3 em Sergipe e 10 no Rio de Janeiro. Segundo Magalhães, a ideia é que, feita a transferência de tecnologia, as secretarias de educação dos estados se apropriem do programa e o transformem em política de Estado.
Em Pernambuco houve uma alteração da iniciativa em 2008, com a mudança de governo. A ideia passou a ser expandir o modelo para mais escolas públicas e criar uma rede de colégios em tempo integral. Paulo Dutra, secretário executivo de Educação Profissional da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, afirma que 173 escolas de ensino médio contam com ensino integral. "Temos previsão e meta de chegar a 2014 com 300 escolas nesse modelo para atender 90% do ensino médio do estado", diz.
Interatividade
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