A propaganda no site é enfática: "temos a chave para chegar ao coração das mulheres (ou à cama) que antes pareciam inalcançáveis. Chega de correr atrás de mulheres! Elas irão correr atrás de você!". O anúncio com o tom algo exagerado está no site da Tornado Social, auto-proclamada primeira escola de sedução do Brasil. Por trás do empreendimento está um jovem curitibano de 23 anos. Estudante de medicina, estatura mediana, cabelo bem curto, solteiro, sem namorada e conversa afável, Eduardo Playtool se define como um mestre da sedução. E resolveu transformar seus dotes em profissão.
Desde que inaugurou a escola, em agosto, já fez quatro workshops, em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Reuniu 20 aplicados aprendizes de Don Juan e faturou cerca de R$ 7 mil. Hoje cada aluno paga R$ 600 pelos ensinamentos.
Ele quer mais. Pretende ampliar a Tornado Social. "Vou treinar instrutores em todo país e viver disso", afirma o professor do galanteio, que também se aventura como escritor. "Estou vendendo meu livro [Livro Definitivo da Sedução] pela internet." A obra, lançada na quintafeira passada, custa R$ 75.
O curso dura um final de semana e consiste em um módulo teórico e outro prático. Os interessados se inscrevem pela internet. Primeiramente, recebem noções de interação social, entonação de voz e abordagem. Já na aula inicial, são apresentados aos termos técnicos. "Alvo" é a garota escolhida; "obstáculos" são as amigas dela, que podem embolar o meio-de-campo; e "abertura" é o início da conversa. Na parte prática, o instrutor acompanha e orienta o grupo de alunos, no máximo quatro, em bares, danceterias e shoppings.
Quem já participou, diz que a relação custo-benefício é boa. "Eu tentava me aproximar das mulheres do meu modo: pedia informação na rua para iniciar uma conversa ou chegava dizendo para as garotas que elas eram lindas", conta Fernando (ele prefere não dar o sobrenome), 45 anos. "Fazia quase tudo errado. Não vou dizer que sou um conquistador, mas minha relação com as mulheres mudou muito." Já Felipe (que também prefere não dizer o sobrenome) já consegue até a dispensar um "alvo". "Esses dias em uma bar famoso do Batel, falei com uma menina, mas não quis beijar. Ela ficou brava porque eu fui falar com outra", garante o neogalanteador, apelido Stygmata, de 19 anos.
Perfil
Segundo Eduardo Playtool, os homens que participam de seus workshops têm idade entre 18 e 45 anos. Em comum, são tímidos e têm dificuldade para se relacionar (ou pelo menos abordar) mulheres.
Para Eduardo, o segredo do sucesso com as mulheres não está na beleza física. "Não é uma questão de aparência, mas de personalidade", diz ele, que não é do tipo "Reynaldo Gianecchini". O êxito, garante, baseiase na abordagem e na persistência. "Não precisa ser bonito ou rico. Cansei de ir ao shopping e sair sem um número de telefone." Ele treinou bastante. Passou a sair quatro, cinco vezes por semana. Foi melhorando aos poucos e se interessando cada vez mais pelos meandros da conquista. Passou a acessar sites e fóruns norte-americanos voltados especificamente para conquistadores. Surgiu aí o apelido Playtool. O apelido é uma forma de os tais conquistadores trocarem mensagens e experiências sem revelarem os sobrenomes, o que poderia inviabilizar uma conquista futura. Inserido no mundo virtual da sedução, Eduardo baixou livros pela internet, trocou informações e técnicas até moldar seu próprio estilo. Em agosto passado, decidiu montar a Tornado Social o curso que "lhe dará todas as ferramentas reais para ter resultados efetivos" , juntamente com o colega Diego.
Teste
Eduardo conversou com a reportagem em duas oportunidades. Em um shopping e em um movimentado bar curitibano. Instado a mostrar suas habilidades, levou azar. Primeiro, o bar marcado para o encontro, que tradicionalmente leva dezenas de mulheres a fazer fila na porta, estava vazio. Depois no shopping, Eduardo pôs as mangas de fora, mas também não teve muito sucesso. Falou com desenvoltura das mulheres, arriscou comentários sobre a vida pessoal e profissional de algumas delas e, por fim, abordou duas belas moças. A primeira, de sacolas na mão, fugiu. "Estava com pressa", justificou ele. A segunda, uma loira de olhos azuis, cabelos comprimidos e corpo esculpido em academia conversou com ele durante quase dez minutos. Eduardo emendava o relato de uma crise emocional de um amigo com um pedido de opinião sobre uma suposta briga vista anteriormente. Aparentemente assustada com o excesso de informação e com a presença pouco convidativa de um segundo elemento (no caso, o repórter, com crachá), a moça foi simpática, mas dispensou o professor. "Ela mostrou receptividade, mas acabou ficando nervosa", analisou o sedutor profissional, no melhor estilo de quem perdeu uma batalha, mas a guerra continua.
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