Integrantes da escola Veados Comunistas durante ensaio. Grupo deverá desfilar no Rio de Janeiro em 2022.| Foto: Reprodução/Redes sociais
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“Lá vem os veados sambando na pista com muito orgulho de ser comunista. Mostrando que o Brasil tem salvação. Fascistas não passarão”. É assim que começa o samba-enredo da mais nova escola de samba carioca, a Veados Comunistas. Como qualquer outra escola de samba, ela já possui membros, diretoria, porta-bandeira, mestre-sala e estandarte – que ostenta a foice e o martelo entrecruzados, conhecido símbolo do comunismo. O diferencial é o viés também político.

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Em sua página na internet, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Veados Comunistas se define como uma “escola de samba que luta pra levar o país que sonhamos pra avenida”. O texto, assinado pelo responsável pelo Departamento de Cultura da escola, Fernando Saol, explica que o grupo nasceu como uma escola de samba virtual, com o propósito de “defender temas alinhados com o campo progressista”.

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“Defendemos a liberdade das pessoas serem como quiserem e que sejam tratados igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. É tão lindo e utópico que está lá, na nossa Constituição Cidadã. E respeito acima de tudo! E fogo nos fascistas!”, ressalta o site.

Os posicionamentos políticos ficam mais claros no samba-enredo gravado pela escola. Intitulado de “Espero tua revolta”, o samba foi escrito por Fernando Saol, Ivandrey Araujo, presidente administrativo da escola, e Lucas de Moraes, com interpretação da cantora Lu Fogaça. Embora seja comum que sambas-enredo contenham críticas sociais e políticas, a nova escola vai além. No que parece um chamamento a uma revolta popular, a canção traz um trecho que sugere um levante contra o governo federal. “Fogo no Planalto! A revolta se inicia / Brasília vai abaixo, caiu o genocida!”, diz a música, disponível no YouTube.

"Revolta popular"

No site há ainda outro samba-enredo, mas que ainda não foi gravado. A letra faz alusão a um cenário pós-eleição, onde Bolsonaro perde as eleições, as contesta e é “expulso” de Brasília. “Se aceitasse o resultado Brasília estaria intacta. Mas, dessa vez, não vem do Pantanal a fumaça que encobre o Planalto Central. A cidade planejada veio abaixo. No Paranoá [lago de Brasília], barcos de refugiados foram rumo aos belos casarões, e de lá, emboscados pela multidão”, diz a letra da música.

A canção ainda faz referência à reforma agrária, distribuição de renda, cotas, demarcação de terras indígenas e outros temas. Em um trecho, usa uma frase bastante usada pelos movimentos de esquerda contra Bolsonaro. “A Revolta popular acontecia. 'Fora genocida' era o grito a ecoar. Mas quem de debate fugia a força do povo não vai enfrentar”, são os versos da canção. Mais adiante, a música também faz referência, de forma pejorativa, aos apoiadores de Bolsonaro: “O levante só ficou completo quando imunizados jacarés se mobilizaram. Nem vírus, nem verme nenhum. Jacaré ataca o gado, não fica em pé, nenhum”, ameaça a canção.

A previsão é a de que a Veados Comunistas desfile - se as condições sanitárias permitirem, alertam os integrantes - em 5 de março do ano que vem, na avenida Intendente Magalhães, subúrbio do Rio, local tradicional dos desfiles das escolas que disputam o acesso ao grupo principal das escolas de samba.

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