Uma escola onde não há séries e alunos de diversas idades se misturam na mesma classe. As aulas expositivas de matemática dão lugar a projetos multidisciplinares como história das famílias e teoria da viagem no tempo. Toda semana, assembleias entre alunos, professores e funcionários discutem questões que vão desde o cardápio até mudanças no currículo.
Herdeiras de uma corrente pedagógica denominada educação democrática, algumas escolas de ensino fundamental e infantil em São Paulo, como a Politeia, na Barra Funda, e a Lumiar, que tem sede na Bela Vista e em Santo Antônio do Pinhal (interior de São Paulo) têm práticas que desafiam as noções tradicionais de educação.
Ambas escolas têm como centro do seu projeto a participação ativa do aluno nas decisões sobre sua própria educação, das classes até as assembleias. Os conteúdos obrigatórios, como português, são desenvolvidos através de projetos coletivos.
As séries tradicionais são substituídas por ciclos de períodos variados, e o sistema de avaliação tradicional por notas e reprovação dá lugar à análise individual de cada aluno, com base nas suas habilidades e dificuldades.
“Tentamos fazer algo radicalmente diferente. Não acreditamos nesse sistema de crianças como depósito de conhecimentos. A escola tradicional ignora o tempo que cada um tem pra aprender. Cada pessoa tem necessidades diferentes”, diz Osvaldo de Souza, atual diretor da Politeia (os pedagogos se revezam a cada ano na função).
Segundo ele, a escola carrega como princípio a construção do pensamento crítico do aluno. Entre os temas de projetos propostos estão: por que os EUA dominam o mundo?, literatura marginal e África.
Também é estimulada a associação livre do pensamento e a curiosidade pessoal, uma espécie de estudo hyperlink (como na internet) onde uma coisa leva à outra.
Uma história exemplar é a de uma garota que a partir de uma pesquisa inicial sobre violência contra animais, se envolveu em um projeto que passou pela guerra fria, corrida espacial, tirinhas da Mafalda e acabou nos protestos de junho de 2013.
Na Lumiar, uma das diferenças é a figura do professor. Em cada sala há dois: um tutor fixo, que acompanha os alunos ao longo dos semestres, e um mestre, geralmente um profissional de fora da escola que transmite conhecimentos específicos relacionados a cada projeto, como um engenheiro, um jornalista ou um carpinteiro.
Segundo a diretora da Lumiar, Célia Senna, “o foco da escola é a construção da autonomia pessoal e fazer com que a criança não perca o entusiasmo de aprender, trazendo o ensino pra questões reais da vida dela”.
Para a professora de pedagogia da Unesp, Joyce Mary Adam, a maioria dos pais ainda tem receios de colocar seus filhos em uma escola com currículo alternativo.
“Em geral os pais estão mais preocupados com os resultados de exames e do vestibular. A escola democrática serve aos pais que têm em perspectiva também o processo de participação social da criança”, diz ela.
Para João Cardoso Palma Filho, professor da Unesp e ex-secretário-adjunto da Educação de São Paulo, o avanço ainda é pequeno na aceitação desses métodos. “O maior inimigo é o engessamento do sistema. Uma escola democrática pressupõe pessoas democráticas”.
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