Aos peritos em Educação adeptos da ideia de que resultados na área só podem ser percebidos após anos ou décadas, o Centro Educacional João Paulo II, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, vem demonstrando o contrário. Construída e mantida apenas com doações, a escola de "primeiro mundo", como é chamada por pais e colaboradores, tem colhido frutos um ano e meio após a inauguração.
O resultado mais visível, de acordo com um dos idealizadores da iniciativa, o professor universitário e ex-secretário estadual do Planejamento e da Educação Belmiro Valverde, é a participação dos pais dos 160 alunos atendidos, uma exigência para que possam matricular os filhos na escola, que fica no bairro Laranjeiras, às margens da Rodovia Leopoldo Jacomel.
A ideia de exigir a participação dos pais na vida escolar dos filhos, fórmula chancelada por educadores, ficou clara durante os anos em que Valverde morou no distrito de Santa Mônica, na Califórnia (EUA), no fim da década de 1970. Ao matricular as filhas numa escola do bairro onde morava, o professor se viu intimado a comparecer pelo menos uma vez ao mês, fosse para ajudar a catar piolhos nas crianças, dar palpite sobre a metodologia de ensino ou ajudar nas festas de fim de ano.
Ao voltar para o Brasil, desejou colocar em prática aqui o que viu por lá. "A arte de construir uma escola de qualidade não é nenhuma ciência espacial. O problema é que a educação fica na mão de poucos e, quando os pais e a comunidade querem participar, são vistos como intrometidos." Uma conversa com os pais confirma que esse é o caminho. "Sempre que eles chamam, vamos porque queremos que a escola continue por aqui", diz a dona de casa Jaqueline Aime, mãe de Maria Eduarda, de 5 anos.
Rigor e muito estudo
As outras apostas da escola são a disciplina e aulas em tempo integral, novidade na vida da comunidade, acostumada a manter os filhos apenas quatro horas por dia na escola. No centro, o horário de entrada é respeitado religiosamente e quem chega atrasado tem de dar meia volta para casa. Uniforme também é obrigatório, assim como a lavagem das mãos antes das refeições, um hábito que os alunos não tinham.
O maior tempo passado em sala de aula não tem sido motivo de queixas entre os alunos. A escola atende atualmente 60 crianças na educação infantil, em regime integral, e 100 alunos da Escola Rural Julia Wanderley, no primeiro ciclo do ensino fundamental, durante o contraturno. Todas as turmas possuem aulas de dança, caratê, Artes e Literatura e os alunos mais velhos recebem aulas de reforço em Matemática e Português. Todos os 13 professores possuem pós-graduação.
"Até hoje não acredito nessa oportunidade. Nunca teria condições de pagar uma escola com essa qualidade. É coisa para rico", diz a dona de casa Ellen da Silva, mãe de Igor, de 6 anos. Ela acredita que a oportunidade pode ajudar a família que sobrevive apenas com a renda do marido, que é pedreiro a ir mais longe. "Na minha época, a escola não tinha nenhum atrativo e eu perdi o interesse. Já ele [Igor] está entusiasmado. Acho que esse interesse vai fazer ele continuar os estudos e ser alguém na vida."
Falta diálogo entre instituições de ensino
Diminuir a enorme distância entre o Centro Educacional João Paulo II e a Escola Rural Julia Wanderley (cujos alunos são atendidos no contraturno pelo centro) é o maior desafio das duas instituições. Atualmente, ambas as direções afirmam que o diálogo entre as escolas é praticamente inexistente.
A diferença de recursos é gritante. No centro são investidos R$ 312 por aluno a cada mês. Na escola rural, o investimento mensal por estudante fica em torno de R$ 3,40, conforme análise do orçamento municipal. A escola pública recebe R$ 430 por mês para gastar com cerca de 120 alunos, além de R$ 150 extras por ser uma escola rural. No centro, o orçamento mensal é de R$ 50 mil.
A dificuldade da escola rural é tão grande que, há alguns meses, uma aluna cadeirante não pôde se matricular no espaço por falta de acessibilidade. Com isso, também perdeu a chance de estudar no centro, que é adaptado.
Realidade
Para a diretora da escola, Rosângela da Luz, as dificuldades financeiras não atrapalham no aprendizado, pois as crianças e os professores conhecem a realidade e conseguem contorná-la. "Temos muito amor pelo que fazemos, o que ajuda a superar a falta de verbas." Para ela, o grande obstáculo é a falta de diálogo.
A diretora afirma, no entanto, que a pequena parceria está rendendo frutos, pois os alunos que entram no 1.º ano possuem maior coordenação motora e maior interesse em relação aos maiores, que não passaram pela educação infantil no centro.
O centro afirma que, em breve, uma nova pedagoga do espaço deve assumir o contato com a escola. A ideia é propor reuniões formais mensais pois, atualmente, o contato ocorre de maneira informal entre professores e funcionários.
Interatividade
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