Os estudantes do Colégio Estadual Alcides Munhoz envolveram a população de Imbituva, nos Campos Gerais, na causa da cura da leucemia . Desde 2014, 700 moradores da cidade de 28 mil habitantes foram convencidos pelos alunos a ir em uma das unidades do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) para se cadastrar como doadores de medula óssea.
Atualmente, o estado tem 600 mil doadores credenciados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), que é a base para consulta de possíveis doadores no Brasil e no mundo. A partir do perfil genético mapeado na coleta de sangue feita no cadastro, os doadores são procurados para o transplante. Para haver transplante, é necessária compatibilidade entre receptor e doador.
“É muito gratificante ver os alunos dispostos a ajudar pessoas que eles nem conhecem”, orgulha-se a professora de português e inglês Glauciane Opata de Camargo, 39 anos, que está à frente do projeto “Doe Vida! Doe Medula!”. O projeto foi finalista esse ano do Prêmio Escola Voluntária, da Fundação Itaú Social e Rádio Bandeirantes, além de render na mesma cerimônia, na última terça-feira (22), em São Paulo, o título de educadora destaque para Glauciane. “Com o prêmio, escolas de outros estados se interessaram pelo nosso projeto e também vão incentivar a doação de medula em suas comunidades”, afirma a professora, que teve contatos com educadores do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará.
O interesse dos alunos pela doação de medula começou com um paciente da cidade vizinha, Ivaí. Os estudantes de lá estavam arrecadando doações para o transplante de um menino. Pouco tempo depois, um menino de cinco anos de Imbituva também foi diagnosticado com leucemia. Foi então que os alunos do 7º ano do Colégio Alcides Munhoz decidiram botar a mão na massa. Um grupo de 26 estudantes ficou responsável por mobilizar cada um dos 1.200 alunos da escola a buscar um doador na família ou entre amigos. Para isso, cada um levava para casa uma ficha que deveria ser preenchida pelo doador com nome, endereço, contato e o dia em que poderia ir ao Hemepar colher uma amostra de sangue para o cadastro. “Essa primeira tentativa foi um desastre. Ninguém quis ser doador”, recorda Glauciane.
Junto com os alunos, a professora e os estudantes descobriram a causa da baixa adesão: a maior parte das pessoas acreditava que a doação de medula causava sequelas. “As pessoas achavam que precisava quebrar o osso para chegar a medula e que teriam problemas depois”, relembra. A partir daí, os alunos mudaram a abordagem: passaram a explicar que a doação de medula é sim um procedimento cirúrgico, mas de baixo risco. A doação é feita com anestesia geral, em que a medula é retirada a partir de punções no osso da bacia. O procedimento dura cerca de uma hora e meia e em 15 dias a medula se recompõe. Antes disso, entretanto, os doadores retornam às suas atividades normais, em média já na primeira semana após a coleta.
“Nós, alunos, choramos muito quando não conseguimos nenhum doador na primeira tentativa. A gente só não desistiu por causa da professora Glauciane. Ela disse para a gente ter calma, que passando as informações certas a gente ia conseguir doadores”, recorda a estudante Eduarda da Silva Santos, 14 anos.
Mobilização
A partir de então, os alunos foram além da busca de doadores. Atendendo um pedido deles, a prefeitura cedeu transporte para levar os moradores interessados em ser doadores até as sedes do Hemepar em Curitiba, Irati, Guarapuava e Ponta Grossa. Os alunos também passaram a ter ajuda da comunidade em geral. Os padres e pastores permitiram que o grupo falasse da importância da doação após as missas e cultos e deram entrevista nas duas rádios e no jornal da cidade. Isso aumentou ainda mais o interesse pela doação.
Nem nas férias os alunos param. Durante uma semana do recesso escolar de julho, os adolescentes foram até a avenida principal de Imbituva esclarecer a população da importância de se doar medula. “É muito bom saber que a educação pode ir além da parede da escola. Esses alunos estão na contramão de boa parte dos adolescentes de hoje, que só querem viver o seu mundinho, com a cara no celular. Graças ao esforço deles, as pessoas acordam às 4 horas da manhã para ir a outra cidade se cadastrar como doadoras de medula”, comemora a professora Glauciane.
O desafio agora é manter a mobilização no Colégio Estadual Alcide Munhoz, já que o grupo de 26 alunos que coordena o projeto está no último ano do ensino fundamental. Tarefa que Eduarda aposta que vai ser cumprida pelos colegas das séries anteriores. “Não vai ser difícil manter o projeto porque tem muita gente de coração bom na escola que vai continuar ajudando”, confia a estudante, já tem um encontro marcado pra daqui quatro anos com os outros 25 colegas à frente do projeto. “Em 2020, quando estivermos com 18 anos [idade mínima para ser doador], vamos todos juntos fazer o cadastro de doador”, planeja.